A Grécia Antiga foi uma civilização rica em crenças religiosas e práticas mágicas. No contexto religioso, o paganismo politeísta Helênico era amplamente difundido, e a magia desempenhava um papel importante na vida cotidiana dos gregos. Na Grécia Antiga, várias formas de magia eram praticadas, cada uma com suas particularidades e finalidades específicas. Um importante registro de práticas mágicas gregas pode ser encontrado nos Papiros Mágicos Gregos, coleção de textos que contêm fórmulas, encantamentos e instruções para rituais mágicos. Segundo Betz (1986), esses papiros revelam uma variedade de técnicas, desde a magia para a cura de doenças até a invocação de forças sobrenaturais.
Entre as práticas mágicas gregas, destacam-se as Goeteias, que era uma tradição e prática mágica de Bruxaria onde existiam rituais de invocação e manipulação de espíritos. Essa forma de magia envolvia a utilização de encantamentos para obter poder ou conhecimento. De acordo com Graf (1997), os Goetas ou Goes eram vistos como Bruxos especializados, capazes de realizar atos sobrenaturais por meio de sua habilidade em se comunicar e interagir com entidades espirituais. Os Goetas tinham um conhecimento profundo dos segredos e mistérios ocultos e utilizavam esse conhecimento para entrar em contato com seres sobrenaturais, como Daemones, Deuses ou espíritos dos mortos. Eles acreditavam que, ao estabelecer uma conexão com esses seres, poderiam obter informações privilegiadas, prever o futuro, obter proteção ou até mesmo causar danos a outras pessoas.
Para realizar as práticas de Goeteia, os Bruxos recorriam a diversos recursos, como o uso de símbolos mágicos, invocações e sacrifícios. Esses sortilégios eram conduzidos de forma meticulosa e seguiam determinados procedimentos específicos para garantir o sucesso da invocação e a obtenção dos resultados desejados. No entanto, é importante notar que as práticas de Goeteia não eram comumente aceitas ou consideradas de cunho apenas construtivo pela sociedade Grega. Elas eram vistas com medo por alguns Helenos e muitas vezes eram associadas à magia negra, ou a práticas obscuras, pois o Goes poderia convocar legiões de Daemones para perturbar a ordem ou se utilizar de Pharmaka para lançar encantos de cura. Apesar disso, essas práticas continuaram a existir e foram registradas em textos antigos, como os papiros mágicos gregos (PMG), que fornecem evidências das fórmulas e rituais utilizados pelos Goetas.
Outra forma de magia grega era a Pharmakopeia, também conhecida como Pharmakois. Essa prática envolvia o uso de plantas, ervas e poções para diversos propósitos mágicos, como a cura de doenças ou a obtenção de amor e fertilidade. As poções eram preparadas com base em conhecimentos botânicos e rituais específicos, seguindo as crenças de que certas plantas possuíam propriedades mágicas. Uma referência para a prática da Pharmakopeia na Grécia Antiga pode ser encontrada no livro "Magika Hiera: Ancient Greek Magic and Religion" de Christopher A. Faraone e Dirk Obbink. Nessa obra, os autores exploram diversos aspectos da magia e da religião na Grécia Antiga, incluindo a utilização de plantas e poções na prática mágica.
Faraone e Obbink explicam que a Pharmakopeia era uma forma de magia natural, na qual as propriedades medicinais e mágicas das plantas eram exploradas. Os praticantes dessa forma de magia, chamados Pharmakoi, tinham um conhecimento profundo das propriedades botânicas das plantas e sabiam como preparar poções e infusões com finalidades específicas. Essas poções podiam ser utilizadas para a cura de doenças, o aumento da fertilidade, a proteção contra males ou mesmo para a obtenção de amor e sucesso.
Os Pharmakoi utilizavam uma combinação de rituais, encantamentos e o poder das plantas para alcançar os resultados desejados. Eles acreditavam que as plantas possuíam uma essência mágica e que, ao manipulá-las adequadamente, poderiam canalizar suas propriedades curativas e mágicas para influenciar o mundo ao seu redor. A Pharmakopeia representava uma forma de conexão com a magia natural das ervas e a busca pelo equilíbrio e bem-estar, ou ataques mágicos pelo uso de venenos através do uso das plantas como instrumentos mágicos.
Além disso, os gregos antigos também praticavam rituais mágicos conhecidos como Kolosois, que consistiam em estátuas ou figuras humanas em argila, pedra, madeira ou cera que representavam o alvo mágico e eram utilizadas para lançar sortilégios e direcionar os encantos para determinadas pessoas. Esses rituais, muitas vezes realizados em encruzilhadas, visavam estabelecer uma forma de magia simpática com os alvos que eram representados nestes bonecos e obter controle ou direcionamento de energias especificas para os mesmos.
A Necromancia, por sua vez, era uma prática mágica que envolvia a comunicação com os mortos. Segundo Burkert (1985), acredita-se que os gregos antigos buscavam orientação e conhecimento por meio do contato com espíritos dos mortos, especialmente em locais sagrados, como nos cemitérios (Necrópoles), os Necromantes recebiam os espíritos dos mortos após as invocações, utilizando de suas faculdades mediúnicas para a comunicação, ou recebendo suas informações através dos oráculos de vísceras e de ossos, bem como o processo de incorporação de espíritos como acontecia no Necromanteion o templo de Hades na região de Epiro na Península Balcânica. Essa prática demonstra a crença dos gregos na existência de uma vida após a morte e na capacidade dos mortos em influenciar o mundo dos vivos.
Outra forma de magia presente na Grécia Antiga era a Psycagogia, como descrito na Odisséia, que envolvia a manipulação da invocação dos mortos para obter um resultado mágico, enquanto a Necromancia era apenas usada como oráculo, a Psycagogia era a pratica mágica com os mortos propriamente dita, que envolvia a pratica de sacrifícios animais para obter favores dos mortos. A Psycagogia era praticada por indivíduos conhecidos como Psycagogos, ou por Necromantes, que desempenhavam o papel de feiticeiros conjuradores dos mortos. Esses indivíduos eram considerados capazes de entrar em transe e entrar em contato com forças divinas e espíritos dos mortos para obter revelações e favores.
Em sua obra, Graf (1997) ressalta a importância da magia na cultura grega antiga, destacando que ela desempenhava um papel significativo nas práticas religiosas e nas relações com o Divino. Segundo o autor, a magia era vista como um meio de interação com o mundo sobrenatural e de busca por proteção, cura e conhecimento.
No entanto, é importante mencionar que nem todas as formas de magia eram aceitas ou vistas com bons olhos na Grécia Antiga. Por exemplo, a prática da "magia negra" (goetiken mageian) era considerada ilegal e castigada severamente, com prisão perpetua ou casos de punições com a morte. Segundo Graf (1997), a legislação grega condenava aqueles que utilizavam feitiços e encantamentos para prejudicar outras pessoas ou interferir na vontade Divina, trazendo um contexto marginal e subversivo da Bruxaria na Grécia antiga.
A magia na Grécia Antiga era uma prática diversificada e profundamente enraizada na cultura e nas crenças religiosas. Através de diferentes tipos de magia, os gregos buscavam obter poder, conhecimento, proteção e cura, estabelecendo uma conexão com o mundo Divino e explorando as fronteiras entre o natural e o sobrenatural.
Historia A história das práticas mágicas na Grécia Antiga é um fascinante campo de estudo que revela a diversidade e a evolução dessas crenças ao longo do tempo. Desde os tempos mais remotos, a Grécia Antiga foi berço de uma rica tradição mágica que permeava a vida cotidiana dos gregos. O período anterior à Odisséia, qualquer pessoa poderia realizar práticas mágicas e sacrifícios de forma doméstica, já no período posterior essas práticas se tornaram mais restritas às mãos dos sacerdotes. Antes da Odisséia, a prática mágica era uma parte intrínseca da vida grega, os ancestrais de uma família eram sepultados no terreno dos lares da família, ou postos em urnas fúnebres, após esse período podemos observar o surgimento dos cemitérios (Nekropole). Os gregos acreditavam que a magia era uma forma de se conectar com as Divindades e influenciar o mundo ao seu redor. Nesse período, qualquer pessoa poderia se envolver em rituais mágicos e sacrifícios seja para obter cura, proteção ou sucesso nos empreendimentos. A magia doméstica, conhecida como "magia popular", era comum e acessível a todos. As casas gregas abrigavam altares dedicados aos deuses, onde os membros da família realizavam suas práticas mágicas. Esses rituais eram realizados por indivíduos que buscavam uma conexão direta com as Divindades, sem a necessidade de intermediários.
No entanto, à medida que a sociedade grega se desenvolvia e as cidades-Estado se tornavam mais complexas, houve uma mudança na maneira como as práticas mágicas eram conduzidas. No período posterior à Odisséia, o papel dos sacerdotes se tornou mais proeminente na realização de rituais mágicos e sacrifícios. Os sacerdotes eram vistos como intermediários entre os mortais e os deuses, possuindo conhecimentos e habilidades especiais para realizar essas práticas de maneira adequada. De acordo com Burkert (1996), "a partir do período arcaico, as atividades mágicas foram gradualmente deslocadas do domínio da família para o domínio público, sendo executadas pelos sacerdotes". A crescente complexidade da sociedade grega e a necessidade de rituais mais elaborados contribuíram para essa mudança. Os sacerdotes tornaram-se responsáveis por conduzir cerimônias públicas e coletivas, além de administrar os santuários e templos dedicados aos deuses.
Essa transição para a centralização das práticas mágicas nas mãos dos sacerdotes não significa que a magia popular tenha desaparecido completamente. Ainda havia espaço para práticas individuais e domésticas, mas a magia pública ganhou maior destaque e importância. Os sacerdotes se tornaram os especialistas em rituais, detendo conhecimentos específicos e exercendo controle sobre o acesso às Divindades. Isso refletiu uma mudança na forma como a sociedade grega enxergava a magia, passando de uma prática amplamente difundida e acessível a uma atividade mais institucionalizada. É importante ler, pesquisar e aprender sobre a diversidade das práticas mágicas na Grécia Antiga, tanto no período anterior à Odisséia quanto no período posterior. Cada época e contexto histórico oferecem saberes valiosos sobre as crenças e as práticas mágicas dos antigos gregos.
Durante o período anterior à Odisséia, a magia era uma atividade íntima e pessoal, realizada por indivíduos ou famílias em suas próprias casas. Acreditava-se que as divindades estavam presentes em todos os aspectos da vida, e os gregos buscavam uma conexão direta com elas através de rituais mágicos. Segundo Graf (1997), "cada membro da família tinha a tarefa de adorar os deuses em nome de toda a casa". Os altares domésticos eram locais de devoção e práticas mágicas, onde os gregos ofereciam libações, alimentos e outros presentes aos deuses, além de realizar orações e invocações. No entanto, à medida que a sociedade grega se tornava mais complexa e as cidades-Estado se estabeleciam, houve uma centralização das práticas mágicas e sacrificais nas mãos dos sacerdotes. Os sacerdotes assumiram um papel fundamental na condução dos rituais públicos, que ocorriam nos templos e nos santuários dedicados aos deuses. Eles eram vistos como mediadores entre os mortais e as Divindades, possuindo conhecimentos específicos sobre os rituais corretos e os sacrifícios adequados.
Segundo Vernant (2006), "os sacerdotes estavam encarregados de interpretar os sinais enviados pelos deuses e, assim, informar aos indivíduos o que fazer para obter a ajuda Divina". Eles eram responsáveis por administrar os santuários, receber as oferendas dos devotos e conduzir as cerimônias públicas, muitas vezes acompanhadas de festivais e competições atléticas. Essa mudança para a centralização das práticas mágicas nas mãos dos sacerdotes não significa que a magia popular tenha desaparecido completamente. Ainda existiam práticas individuais e domésticas, especialmente em contextos mais simples e menos urbanizados. No entanto, a influência dos sacerdotes se tornou mais proeminente, à medida que eles se tornaram os especialistas reconhecidos e responsáveis por guiar a comunidade na busca pela proteção e benevolência Divina.
Os Papiros Mágicos Gregos (PMG) são uma coleção de textos que proporcionam um vislumbre significativo da prática mágica na Grécia Antiga. Esses papiros, datados principalmente dos séculos II a.C. até o século V d.C., são testemunhos preciosos da tradição mágica e oferecem saberes sobre as crenças, rituais e técnicas utilizadas pelos praticantes da época. Os PMG são compostos por uma variedade de textos, incluindo encantamentos, amuletos, fórmulas mágicas, instruções para rituais e invocações Divinas. Eles abrangem uma ampla gama de propósitos, desde a cura de doenças e a busca por amor até a proteção contra forças malignas e a obtenção de boa sorte nos negócios. Esses textos refletem a crença de que a magia era uma ferramenta poderosa para influenciar o mundo sobrenatural e alcançar objetivos desejados.
A relação entre os Papiros Mágicos Gregos e a magia Greco-Egípcia é notável. Durante o período helenístico, quando o Egito estava sob o domínio dos Ptolomeus, uma dinastia grega, ocorreu um sincretismo cultural entre a tradição mágica grega e a influência egípcia. Essa fusão resultou em uma combinação única de elementos mágicos e rituais, que se reflete nos PMG. Elementos egípcios, como invocações a deidades egípcias, nomes de deuses e hieróglifos, podem ser encontrados nesses textos, demonstrando a interação e a troca de conhecimentos entre as culturas. Os Papiros Mágicos Gregos eram considerados preciosos e valiosos na época, e seu conteúdo era protegido e transmitido apenas a iniciados e praticantes experientes. A prática da magia era restrita a um grupo seleto de pessoas, como feiticeiros, Bruxos (Goetas), sacerdotes e especialistas em rituais, que dominavam o conhecimento necessário para realizar as invocações e os rituais corretamente.
Esses papiros também refletem a relação entre a magia e a religião na Grécia Antiga. A magia era vista como uma forma de interação com o divino, uma maneira de buscar a ajuda e a intervenção das divindades para influenciar os acontecimentos do mundo humano. As invocações divinas presentes nos PMG visavam estabelecer uma conexão direta com as divindades, buscando sua proteção e assistência nos assuntos pessoais e coletivos. Ao estudar os Papiros Mágicos Gregos, é importante considerar as limitações e os desafios na interpretação desses textos. Eles representam uma parte da prática mágica na Grécia Antiga, mas não oferecem uma visão completa e abrangente do cenário mágico da época. Além disso, é necessário analisar os PMG dentro de seu contexto histórico, social e religioso, levando em conta as influências culturais e as transformações que ocorreram ao longo do tempo.
Outro exemplo notório onde os Gregos e os Egípcios estabeleciam trocas de informações a cerca da magia, fazendo um balanço antropológico pendular e Policultural é o culto dos mistérios de Ísis na Grécia, em Pompéia, esta que é uma divindade da magia originária do Egito que se tornou popular na Grécia Antiga. O culto de Ísis prometia iniciação, imortalidade e salvação após a morte. Os rituais envolviam procissões, música, dança e dramatizações dos mitos de Ísis e seu marido Osíris. Os iniciados passavam por ritos de purificação e eram introduzidos nos mistérios da vida e morte, oferecendo-lhes uma esperança de vida após a morte e a possibilidade de uma conexão mais profunda com a divindade. Conforme observado por Apuleio (século II), "o culto de Ísis prometia a seus seguidores uma participação na vida divina, uma união com Ísis e uma renovação espiritual".
Os pilares da Bruxaria sobre a óptica das praticas de magia e Bruxaria Helênica
A cultura Helenística possuía um Panteão politeísta, contendo o foco no Henoteismo, acreditando em Zeus como o rei dos Deuses detendo uma rica e complexa hierarquia divina composta por diversas categorias de seres míticos e divindades. Vamos explorar algumas das principais categorias dentro deste contexto, incluindo os Theois, os Titãs, os Olimpianos, os Deuses do Submundo, os Deuses do mar, os Deuses menores, os Semi-Deuses, os Daemons, os Heróis, os ancestrais e os Mortos Poderosos, bem como as criaturas místicas e os espíritos da natureza, alem dos seres mais ligados à magia dentro deste Panteão.
O Paganismo-Politeísmo Helênico é um sistema religioso complexo e abrangente que envolve a adoração e reverência a uma ampla variedade de divindades, conhecidas como Theoi. Os Theoi são os Deuses que personificam diferentes aspectos da natureza, da sociedade e da experiência humana. Cada divindade possui sua própria esfera de influência e atributos específicos, e era comum para os antigos gregos honrar e buscar a proteção dos Deuses relevantes para suas necessidades e circunstâncias particulares.
Dentre os Theoi, destaca-se Hecate, uma Deusa reverenciada na Grécia Antiga, associada à magia, encruzilhadas e proteção dos lares. Hecate era frequentemente invocada em rituais mágicos e era considerada uma divindade poderosa capaz de trazer tanto bênçãos quanto maldições. De acordo com Harrison (1903), "Hecate era amplamente adorada como uma divindade guardiã dos mistérios da vida e da morte, e era invocada em práticas mágicas que buscavam proteção, sabedoria e poderes sobrenaturais".
Outra figura importante nos sistemas mágicos e religiosos gregos é Hermes, o mensageiro dos Deuses. Hermes era conhecido por sua habilidade em comunicar-se entre os reinos divinos e os mortais, tornando-se um intermediário essencial nas práticas mágicas. Detienne e Vernant (1978) destacam que "Hermes era considerado um deus astuto e engenhoso, associado à magia, aos encantamentos e à comunicação com os Deuses". Sua presença era particularmente importante em rituais mágicos que envolviam invocações, encantamentos e transmissão de mensagens entre os humanos e o mundo divino.
Além dos Deuses e Deusas, a Grécia Antiga acreditava na existência de seres conhecidos como Daemons. Os Daemons eram considerados poderes intermediários, atuando como mediadores entre os deuses e os seres humanos. Faraone (1991) destaca que "os Daemons eram considerados seres sobrenaturais que podiam ser invocados e manipulados para auxiliar nas práticas mágicas e proporcionar orientação ou proteção aos praticantes". Acreditava-se que esses seres possuíam conhecimentos ocultos e habilidades mágicas, tornando-os valiosos aliados nas práticas mágicas e religiosas dos gregos antigos.
No panteão grego, também encontramos os heróis e semi-deuses, figuras que poderiam ter ascendência Divina e mortal, bem como ser um mortal Deificado. Esses personagens eram considerados intermediários entre os humanos e os Deuses, e suas histórias eram de importância para os clãs e famílias, a origem deste ritos vem com o culto e honra aos ancestrais de destaque de uma sociedade, clã ou família, estes eram deificados após a morte, tornando-se Mortos Poderosos pelas razões de destaques que tiveram em vida. Vernant (1991) ressalta que "os heróis gregos eram vistos como figuras excepcionais, capazes de transcender as limitações humanas e obter ajuda divina através de rituais mágicos e orações". Os gregos frequentemente invocavam os heróis em busca de proteção, orientação e intervenção divina em suas vidas cotidianas.
Circe e Medeia são dois exemplos proeminentes de feiticeiras da mitologia grega. Essas poderosas mulheres eram conhecidas por suas habilidades mágicas e ocultas. Circe era famosa por suas habilidades em transformar homens em animais, enquanto Medeia era conhecida por suas poções mágicas e habilidades de cura e venenos. A magia praticada por Circe e Medeia era temida e respeitada, e sua representação na mitologia grega reflete a importância da magia e do ocultismo na cultura da época.
O animismo desempenhou um papel significativo na religião e na mitologia da Grécia Antiga (Burkert, 1985). Essa crença ancestral atribuía vida e espírito a elementos da natureza, incluindo animais, plantas, rios, montanhas e até mesmo fenômenos naturais. No contexto grego, as Ninfas destacaram-se como um exemplo importante de espíritos da natureza associados ao animismo. As Ninfas eram divindades femininas que personificavam a beleza e a vitalidade da natureza. Eram consideradas as guardiãs de áreas específicas, como bosques, rios, montanhas e fontes (Kerenyi, 1980). Essas divindades eram retratadas como seres jovens e belos, frequentemente descritas como deusas da fertilidade e da vegetação.
Referências na mitologia grega, como os escritos de Homero (Ilíada e Odisséia) e Hesíodo (Teogonia), descrevem as Ninfas como entidades divinas que habitavam o mundo natural. Elas eram frequentemente associadas a lugares específicos, como as Ninfas dos bosques (Hamadríades), que eram vinculadas a árvores individuais e compartilhavam uma conexão profunda com sua saúde e sobrevivência. Além disso, havia as Ninfas dos rios (Náiades), que personificavam as águas doces e eram adoradas como protetoras das fontes, rios e nascentes. As Ninfas também eram associadas às montanhas (Oreiades) e às grutas (Napeias), cada uma com sua própria esfera de influência e domínio.
Em um dos encantamentos, presente no Papiro Magico Graecus (PGM) VII, as ninfas são invocadas para trazer amor e desejo. O encantamento inclui palavras mágicas e fórmulas de invocação direcionadas às ninfas. Segundo Betz (1996), essa invocação visa despertar a paixão e atração de uma pessoa específica. Outro exemplo é o encantamento contido no PGM IV, no qual as ninfas são invocadas para trazer cura e alívio. Nesse caso, as palavras mágicas são usadas para solicitar a intervenção das ninfas na cura de doenças ou na proteção contra males. Acredita-se que a conexão das ninfas com a natureza e seu poder de renovação e vitalidade estejam relacionados à sua capacidade de proporcionar cura e bem-estar aos praticantes.
Além disso, há referências a invocações de ninfas nos encantamentos de sucesso nos negócios ou empreendimentos. Por exemplo, no PGM IV, há uma invocação específica às ninfas para obter prosperidade e êxito comercial. Essa invocação visa atrair a boa sorte e a influência positiva das ninfas para garantir o sucesso nos empreendimentos e atividades financeiras.
Dentro das práticas mágicas folclóricas da Grécia Antiga, encontramos uma variedade de rituais e encantamentos. O folclore abrange uma ampla variedade de elementos culturais, como as mitologias, provérbios filosóficos, festas populares, danças tradicionais, músicas, artesanato, culinária, vestimenta e até mesmo práticas mágicas e religiosas. Essas expressões folclóricas são transmitidas através de tradições locais, e muitas vezes são influenciadas por fatores históricos, geográficos, sociais e ambientais.
Os kolossois e katadesmoios são exemplos de magia simpática, que envolve a utilização de objetos ou representações simbólicas para afetar uma pessoa ou situação específica. De acordo com Burkert (1985), "esses rituais, como a criação de bonecos de cera ou o uso de amuletos, eram considerados formas de magia simpática, em que o poder mágico era transferido para o objeto ou símbolo representativo". Outro exemplo de magia grega envolvia a utilização de amuletos e talismãs com representações de Divindades e seres mitológicos. Esses objetos mágicos eram acreditados como portadores de poderes protetores ou benéficos. Por exemplo, um amuleto em forma de serpente poderia ser usado para proteção contra doenças, já que a serpente era considerada um símbolo de cura e renovação. Conforme observado por Mikalson (1998), "os amuletos e talismãs eram amplamente utilizados no contexto da magia grega como uma forma de invocar a presença e a proteção das divindades e criaturas mitológicas".
A Teurgia e Taumaturgia representam formas de magia cerimonial praticadas na Grécia antiga. A Teurgia envolvia a invocação de Divindades e a realização de rituais para obter sua orientação, intervenção Divina e transformações mágicas a nível interior do individuo, como curas emocionais e Psíquicas. Segundo Faraone (1999), "a Teurgia era vista como um caminho para se aproximar dos Deuses e receber sua graça, permitindo aos praticantes estabelecer uma conexão direta com o Divino". Já a Taumaturgia se concentrava na realização de transformações mágicas de cunho físico e externo do ser, geralmente para ganhos próprios, ou como a cura de doenças do corpo físico e a manipulação dos elementos naturais.
A Teurgia é uma forma de magia que se concentra na união mística com o Divino, na busca da elevação espiritual e no entendimento dos mistérios cósmicos. Diferente da Taumaturgia, que busca influenciar a realidade física, a Teurgia busca alcançar uma canalização direta com as forças Divinas e transcender a natureza humana. Os Teurgos utilizam rituais, invocações e práticas espirituais para se aproximarem dos Deuses e obterem uma experiência magistica. A Teurgia é caracterizada pela busca da união com o Divino e pela busca do autoconhecimento e da transformação interior e espiritual. O livro Theurgy and the Soul: The Neoplatonism of Iamblichus. Pennsylvania State University Press de Shaw, G. (1995) explora a Teurgia na filosofia Neoplatônica de Lâmblico, oferecendo uma análise detalhada das práticas e conceitos Teúrgicos na Grécia Antiga.
Já a Taumaturgia refere-se à prática da magia realizada com o propósito de realizar feitiços de cunho material. É o tipo de magia que busca manifestar poderes sobrenaturais e influenciar a realidade física atraindo ou banindo da esfera material o que se almeja. Os taumaturgos, através de rituais, encantamentos e manipulação de elementos, buscavam realizar curas de doenças físicas, transformações de vida a nível material, como em âmbito amoroso e financeiro, vitorias sobre um obstáculo ou inimigo. É importante ressaltar que a Taumaturgia era vista como uma prática de poder e habilidade, muitas vezes associada a indivíduos considerados dotados de poderes espirituais.
A utilização de substâncias e plantas com propriedades mágicas também desempenhava um papel importante na magianatural grega. Os gregos acreditavam que os elementos naturais possuíam magia e poderes ocultos e podiam ser utilizados para diversos fins mágicos. Essa prática era conhecida como Pharmaka, que envolvia a utilização de ervas, poções e outras substâncias para realizar encantamentos, curas ou rituais mágicos. Conforme observado por Dodds (1951), "as substâncias utilizadas na Pharmaka eram consideradas portadoras de forças ocultas que podiam ser canalizadas para alcançar diferentes objetivos".
É importante ressaltar que nem todas as práticas mágicas na Grécia Antiga eram consideradas aceitas pela sociedade. Os papiros mágicos gregos (PMG) fornecem evidências de invocações de Tifão, uma figura associada à rebelião e à destruição, considerada uma prática de magia herege. Os PMG são uma coleção de textos mágicos escritos em papiro que datam do período entre os séculos IV a.C. e VII d.C. Esses textos oferecem insights sobre as crenças e práticas mágicas da época. De acordo com os PMG, as invocações de Tifão eram vistas como poderosas e perigosas, capazes de trazer caos e destruição ao mundo. Um exemplo de uma invocação encontrada nos papiros é a seguinte: "Invoco Tifão, o rebelde, o poderoso, o destruidor, para que traga tempestades e terremotos, e lance o medo nos corações dos homens" (Betz, 1992, p. 85). Essas invocações demonstram a crença na capacidade de Tifão de causar danos e perturbar a ordem natural.
Essa forma de magia era vista com desconfiança pela sociedade grega, pois envolvia o uso de poderes perigosos e destrutivos. Os gregos acreditavam que o equilíbrio e a harmonia do mundo eram essenciais para a estabilidade da sociedade. A magia que buscava desestabilizar essa ordem era considerada herética e perigosa. Conforme observado por Betz (1992), "as invocações de Tifão nos PMG refletem uma abordagem mágica considerada perigosa e malévola pela sociedade grega, sendo frequentemente associada à bruxaria e à feitiçaria".
Além disso, existia a prática da chamada "magia negra", também conhecida como goetiken mageian. Essa forma de magia era associada a práticas consideradas imorais ou perigosas, envolvendo a manipulação de forças sobrenaturais para fins egoístas ou prejudiciais. Conforme aponta Graf (1997), "a magia negra era vista como uma prática desviante, que violava os princípios morais e éticos da sociedade grega, e os praticantes eram frequentemente estigmatizados como bruxos ou feiticeiros".
As Dionisíacas eram cerimônias tribais que desencadeavam rituais de celebração em honra a Dionísio, Deus do vinho, da fertilidade e do êxtase, na Grécia Antiga. Essas festividades, conhecidas como Dionisíacas Urbanas ou Dionisíacas Campestres, desempenhavam um papel significativo na sociedade grega, e sua influência pode ser observada mesmo em eventos posteriores, como nos Bacanais em Roma e com nos Sabbaths das Bruxas durante a Idade Média. Vale ressaltar que a popularização do termo “Sabbaths” na Bruxaria ocorreu nesse período, devido à perseguição às bruxas e aos judeus durante a Inquisição.
De acordo com Burkert (1987), as Dionisíacas eram ocasiões marcadas por um intenso prazer e ritos sexuais de fertilidade, nos quais os participantes adoravam os símbolos sexuais e o poder transformador da vida. Durante essas celebrações, elementos como vinho, fogo, florestas, noite e carne sacrificada eram venerados, proporcionando uma sensação de liberdade e conexão com o divino selvagem. Os participantes buscavam alcançar o êxtase e estabelecer uma comunhão com as forças divinas presentes nesses rituais.
Nas Dionisíacas, os participantes eram envolvidos por um senso coletivo de união e transcendência, experimentando uma fusão entre o mundo humano e o divino. Através dos rituais de dança, música, bebida e sexo sagrado, as barreiras individuais se dissolviam, proporcionando uma experiência de comunhão e renovação espiritual. Essa celebração era considerada um momento de libertação e renovação, permitindo aos participantes adentrarem em um estado de comunhão com as forças primordiais da vida e da natureza.
Alem dos festivais Dionisíacos públicos, existiam também os Mistérios Dionisíacos, onde eram abordados com maior profundidade e sigilos os rituais sagrados desta Divindade. Nestes cultos de Mistérios os rituais envolviam danças frenéticas, música, êxtase, bebedeira ritual e a representação de mitos relacionados a Dionísio. Segundo Burkert (1987), "os rituais Dionisíacos tinham como objetivo proporcionar uma experiência transcendental, na qual os participantes alcançavam um estado de união mística com Dionísio, liberando-se das preocupações cotidianas e conectando-se com as forças vitais da natureza".
O culto aos ancestrais era uma prática comum na Grécia Antiga, em que os antepassados eram reverenciados e honrados. O culto aos heróis, em particular, envolvia a veneração de figuras lendárias e semideuses, bem como as dos ancestrais Divinizados de um determinado clã, Polis ou família que eram considerados intermediários entre os mortais e os Deuses tornando-se Mortos Poderosos, pois foram Divinizados por seu clã por seu respeito e destaque em vida. A Necromancia e a Psicagogia eram práticas relacionadas ao culto aos ancestrais, envolvendo a comunicação com os espíritos dos mortos. Conforme observado por Graf (1997), "a Necromancia e a Psicagogia eram realizadas em locais específicos, como os cemitérios (Necrópole), onde se acreditava que os espíritos dos mortos poderiam ser invocados para fornecer orientação ou prever o futuro".
O autoconhecimento era altamente valorizado na Grécia Antiga, tanto que a filosofia desempenhou um papel crucial na busca por esse conhecimento. No templo de Delfos, uma das inscrições mais famosas era "conheça-te a ti mesmo e conhecerá os Deuses", que incentivava os indivíduos a buscar a compreensão de si mesmos e do mundo ao seu redor. Os oráculos, como o Oráculo de Delfos e o Oráculo de Dódona, eram locais sagrados onde os gregos buscavam orientação divina e respostas para suas perguntas mais profundas. Segundo Dodds (1951), "os oráculos eram vistos como canais de comunicação entre os Deuses e os seres humanos, e as respostas oráculares eram consideradas sabedorias Divinas que poderiam fornecer clareza e orientação".
Além dos oráculos, a Teurgia envolvia a realização de rituais e invocações complexas, com o objetivo de estabelecer uma conexão direta com as Divindades em uma busca de autoconhecimento, sabedoria Divina, transformações mágicas internas e pela unificação com tais forças. Ela é considerada uma forma de prática mágica e espiritual, na qual através de invocações e cerimônias meticulosas, os Teurgistas procuravam atrair a presença das Divindades e estabelecer uma conexão profunda com elas trazendo autoconhecimento para suas vidas através destes mistérios Divinos. Essa prática buscava transcender os limites da condição humana e se aproximar da natureza Divina, permitindo ao praticante vivenciar a Divindade dentro de si mesmo e experimentar um estado de elevação espiritual e união mística.
A prática da magia e bruxaria na Grécia Antiga era uma esfera amoral complexa e ambígua, onde a moralidade não era um critério absoluto. Muitos rituais mágicos, e feitiços (epōidai) como os kolossois e katadesmoios, poderiam envolver ataques mágicos ou proteções onde bonecos de argila, cera e outros elementos eram usados para representar o alvo, e laminas eram entalhadas com símbolos mágicos para convocar cortes em determinadas situações para abrir caminhos, também podendo ter o objetivo de causar dano a outras pessoas ou influenciar suas vidas de maneira negativa. Era comum que indivíduos recorressem a essas práticas para obter vantagem pessoal ou vingança ou a cura como no caso das Pharmakas. Além disso, a invocação dos mortos nas necrópoles e nas encruzilhadas também fazia parte do repertório mágico, especialmente para realizar amarrações (katádesis), uma forma de feitiço que buscava amarrar o alvo desejado. Essas práticas obscuras e de cunho mais negativo levaram o governo local da Polis a intervir, administrando casos que resultavam em prisão perpétua ou até mesmo a pena de morte para aqueles envolvidos em "magias de cunho mais obscuro".
Na Grécia Antiga, a magia e a bruxaria não eram consideradas atividades moralmente aceitáveis pela sociedade em geral. Embora a magia fizesse parte da vida cotidiana e tivesse um papel importante nas crenças e práticas religiosas, práticas que envolviam o uso de magia para prejudicar outras pessoas ou manipular o destino eram vistas como moralmente questionáveis. Essas ações eram associadas àqueles que praticavam "magias de cunho mais obscuro", como os goetiken mageian, termo que se refere àqueles que se envolviam em magias negativas e mais sombrias. A repressão e punição por essas práticas refletem a preocupação da sociedade em proteger-se contra ações maléficas e preservar a ordem social estabelecida.
As práticas sacerdotais também ocupavam um lugar central no contexto religioso e mágico na Grécia Antiga. Havia diferentes funções sacerdotais, como os Hieroi, que eram os sacerdotes em geral, os Arkousai, eram sacerdotes oficiantes de uma cerimônia situada em um espaço sagrado circular chamados de (Kyklos/Kuklos) onde residia em um santuário (Alsos) com um altar a céu aberto (Hypethres), o sumo-sacerdote, chamado de Hierofante e a Suma-sacerdotisa de Hiereia. Esses sacerdotes e sacerdotisas eram responsáveis por conduzir os rituais, preservar as tradições religiosas e atuar como intermediários entre os mortais e as divindades. Conforme afirmado por Burkert (1985), "os sacerdotes e sacerdotisas desempenhavam um papel fundamental na manutenção e organização dos cultos, transmitindo os ritos sagrados e as práticas religiosas para garantir a comunicação efetiva com as divindades".
As práticas iniciáticas desempenharam um papel importante na esfera religiosa da Grécia Antiga. Através dessas iniciações, os indivíduos eram admitidos em cultos específicos e tinham a oportunidade de se conectar de forma mais profunda com as Divindades e principio mágicos. Nos Papiros Mágicos Gregos (PMG), há evidências de iniciações para o culto de Tifão, uma figura associada à rebelião e à destruição, considerada uma prática de magia herege e iniciática. Conforme observado por Betz (1992), "os PMG contêm instruções para rituais de iniciação que permitiam aos indivíduos ingressar no culto de Tifão, buscando uma união íntima com essa entidade poderosa". O papiro conhecido como "Papiro de Leiden" (PGM IV.2962-2998) descreve um ritual no qual o praticante se prepara para entrar em contato com Tifão como mencionado por "The Greek Magical Papyri in Translation: Including the Demotic Spells" de Hans Dieter Betz, que oferece uma tradução e análise dos textos dos PMG.
Os cultos de mistérios eram uma característica proeminente da religião grega antiga. Esses cultos envolviam rituais e cerimônias realizados em segredo, nos quais os iniciados eram conduzidos a uma experiência transformadora e revelações espirituais. Os Mistérios de Elêusis, dedicados à deusa Deméter e sua filha Perséfone, eram um dos cultos de mistérios mais famosos e influentes na Grécia Antiga. Durante essas cerimônias, os iniciados participavam de rituais simbólicos, como a ingestão de uma bebida sagrada chamada kykeon, e vivenciavam uma jornada espiritual em busca de iluminação e comunhão divina. Esses cultos desempenhavam um papel fundamental na vida religiosa grega, oferecendo uma experiência transcendente e uma conexão direta com os mistérios divinos.
Um dos exemplos notáveis é o Culto de Orfeu, um culto misterioso baseado nas tradições e mitos associados ao lendário poeta Orfeu. Esse culto enfatizava a busca pela redenção e a conexão com o Divino através da música, poesia e rituais sagrados. Os seguidores de Orfeu acreditavam na imortalidade da alma e buscavam purificação e libertação dos ciclos de nascimento e morte. Conforme mencionado por Guthrie (1952), "o culto de Orfeu oferecia aos seus iniciados a esperança de uma vida melhor no além e a possibilidade de transcendência espiritual por meio da música e da adoração a Orfeu".
O Culto de Adônis também merece destaque, pois era celebrado principalmente por mulheres em honra ao jovem e belo deus Adônis, associado ao ciclo da vegetação e à morte e renascimento anual. Os rituais adônicos incluíam lamentações pela morte de Adônis, seguidas de celebrações de seu renascimento e renovação. Esses rituais transmitiam a crença na natureza cíclica da vida e na esperança de uma ressurreição após a morte. Conforme observado por Pausânias (século II), "o culto de Adônis permitia às mulheres expressarem suas emoções de tristeza e, ao mesmo tempo, celebrarem a renovação da vida, acreditando na imortalidade da alma".
Os ritos de sexualidade sagrada, conhecidos como Hierogamia sagrada, eram parte integrante do Paganismo Helênico. Esses rituais envolviam a celebração da união divina entre uma divindade masculina e uma divindade feminina, simbolizando a fertilidade e a conexão com as forças da natureza. Conforme observado por Burkert (1985), "a Hierogamia sagrada representava uma forma de comunhão com o divino, permitindo aos participantes experimentar e celebrar a energia vital e a fecundidade presente na união sagrada". Geralmente eram administrados nas festividades de Gamelia, o casamento divino de Zeus e Hera, que eram um rito primaveril em honra há fertilidade, ou de forma mais sexual nos ritos de Anthesteria, ritos do casamento de Dionísio e Ariadne, que também era um rito primaveril, honrando a fertilidade. Neste rito, o sacerdote era chamado de Basíleu (rei), onde ele canalizava a energia divina de Dionísio para se deitar com a Basiléia (rainha) que era a sacerdotisa canalizando a energia divina de Ariadne.
Os festivais em honra a Demeter, a Deusa da agricultura e da colheita, eram momentos de renovação e gratidão. Durante o festival de Thesmophoria, as mulheres participavam de rituais secretos em honra a Demeter, buscando a bênção divina para a fertilidade do solo e a prosperidade das colheitas. Segundo Detienne (1986), "os rituais das Thesmophoria eram uma forma de renovação da vida, onde as mulheres se uniam em comunidade para celebrar a abundância da terra e garantir sua continuidade".
Além dos festivais relacionados aos ciclos vegetativos, também havia celebrações em honra a Zeus, o pai dos deuses e dos homens. O festival conhecido como Diasia era realizado para honrar Zeus Meilichios, uma forma de Zeus associada à proteção e à prosperidade do lar e da família. Durante o festival, eram oferecidos sacrifícios e rituais de purificação, buscando a bênção divina para a harmonia doméstica e a segurança do lar. Essas práticas sacerdotais e festivais desempenhavam um papel vital na vida religiosa da comunidade, buscando fortalecer a conexão entre os seres humanos e o divino.
A lua desempenhava um papel significativo na prática da magia grega. Ela era considerada uma fonte de poder místico e um símbolo de transformação. Hécate, a deusa da magia, dos cruzamentos de caminhos e da lua escura, estava intimamente associada à magia e às práticas mágicas. Segundo Assmann (2001), "Hécate era venerada como a guardiã dos segredos mágicos, a deusa que facilitava a conexão entre os mundos visível e invisível, e era frequentemente invocada em rituais de magia".
O festival de Noumenia era celebrado na aparição da lua nova, marcando o início de um novo ciclo lunar. Era um momento de renovação e purificação, no qual os adoradores prestavam homenagem às divindades lunares, como Selene e Artemis. Durante essa celebração, as oferendas eram feitas em agradecimento pela renovação da lua e pela oportunidade de um novo começo. Conforme observado por Burkert (1985), "o festival de Noumenia era uma ocasião de devoção e reverência, na qual os adoradores buscavam a bênção divina e renovavam seu compromisso com a espiritualidade".
O Dikhomenia ocorria na lua cheia, e era dedicado a honrar e adorar a plenitude da lua. Nesse festival, os participantes expressavam sua reverência e admiração pela beleza e poder da lua cheia, celebrando-a como uma manifestação divina. Rituais de invocação, danças e cânticos eram realizados para expressar a conexão com as energias lunares e buscar a bênção das Divindades associadas, como Artemis e Hécate. Segundo Harrison (1912), "o festival de Dikhomenia era uma oportunidade para os adoradores se conectarem com as energias cósmicas da lua cheia e experimentarem a plenitude espiritual".
O Deipnon de Hécate era uma celebração especial dedicada à deusa Hécate, a guardiã dos mistérios, dos cruzamentos de caminhos e da magia. Realizado durante a lua escura, esse festival era uma ocasião para buscar a proteção de Hécate, realizar rituais de purificação e buscar orientação espiritual. Os participantes acendiam tochas e faziam oferendas em encruzilhadas, simbolizando a conexão com o reino espiritual e buscando a comunhão com Hécate. Conforme mencionado por Betz (1986), "o Deipnon de Hécate era um momento de devoção e magia, onde os adoradores buscavam a proteção e o auxílio da Deusa nos caminhos da vida".
O festival de Bendideia era uma celebração em honra a Bendis, uma deusa lunar Trácia. Essa festividade ocorria no segundo dia após a lua cheia e envolvia danças rituais, competições esportivas e procissões em honra à deusa. Era uma oportunidade para a comunidade expressar sua devoção e gratidão a Bendis, reconhecendo seu papel como uma divindade lunar associada à fertilidade e à proteção. Conforme observado por Mikalson (1998), "o festival de Bendideia era uma ocasião de alegria e comunhão, na qual os adoradores celebravam a presença constante e benéfica da Deusa em suas vidas". Esses festivais no Paganismo Helênico eram momentos de conexão espiritual, magia, devoção e comunhão com as energias cósmicas dos ciclos naturais e com as Divindades associadas a ela. Eles concediam aos adoradores momentos de honrar e reconhecer o poder natural, Divino, e dos ancestrais em suas vidas cotidianas, buscando fortalecer sua conexão com o cosmos.
Outro aspecto importante a ser considerado é a presença das chamadas "bruxas da Samotraca" na Grécia Antiga. Samotraca era uma ilha grega onde ocorriam rituais de mistérios religiosos e cultos iniciáticos. Segundo Kessler (2010), as bruxas da Samotraca eram mulheres que participavam desses rituais e detinham conhecimentos e habilidades mágicas especiais. Elas eram consideradas guardiãs dos segredos místicos e conhecimentos ocultos e eram responsáveis por transmitir essas práticas a outros iniciados. As bruxas Helênicas carregam consigo um conjunto de práticas mágicas e culturais específicas vinculadas às terras Gregas, que poderiam incluir rituais, encantamentos, o uso de plantas medicinais, adivinhação e conexões com o mundo espiritual.
Quadro Circe Oferece a Taça para Ulisses John William Waterhouse, 1891. Imagem extraída do Pinterest
Mitologia da roda do ano para nossa tradição
Este é o calendário litúrgico sazonal definido como roda do ano no culto Bruxo, nele é abordado diversas comemorações de cunho natural ao longo do ano. Festeja-se as estações e suas colheitas, o clima e como a vegetação é influenciada por este, a potência solar com sua variação de luz e calor sobre a terra ao logo do ano, bem como os mistérios cíclico dos Deuses e os mistérios naturais de vida, morte e renascimento. Nossa tradição celebra e compreende a roda do ano da maneira que os antigos povos Helênicos bem faziam. (MARGARET MURRAYTHE WITCH-CULT IN WESTERN EUROPE, 1921)
As celebrações na antiga Grécia possuíam caráter cívico, além de doméstico, sendo momentos de festividade para a própria Polis, e seus cidadãos realizavam tais comemorações na cidade e em seus entornos. Dentro de tais comemorações realizavam-se concursos, peças de teatro, jogos esportivos, sacrifícios ou oferendas, banquetes irrigados a vinho cantos e danças. Além disso, procissões das mais variadas eram muito comum entorno das celebrações e possuem um forte traço cultural. (ALMEIDA 2014, p. 60)
A nossa roda do ano começa em Genésio, o meio do outono. Neste festival é celebrado o retorno da Morte trazida por Hecate e acolhida por Hades. Dionísio é o senhor e ancião das sombras. Perséfone se encontra como rainha do submundo e os nossos ancestrais são honrados. Os portões entre os mundos dos vivos e dos mortos se abrem e a Deusa transforma-se em Aidonaia, a Senhora rainha e governante do submundo junto há Perséfone. Hermes aparece para nós como o Deus psicopompo, o que guia as almas perdidas através das noites escuras do Inverno que está por vir.
Ainda no outono a primeira colheita do ano acontece em Pyanepsia e os frutos são colhidos. Apolo como Deus solar é honrado, junto com Demeter a senhora da agricultura. Hecate se manifesta como Pantrephô, aquela que tudo nutre, assim como a terra.
A escuridão reina como se estivéssemos no caldeirão da Deusa em Maimakteria. Assim, Zagreus, o Rei das sombras vai se transformará em Dionísio, como a criança da promessa. o Filho do Rei Olimpiano, que deverá morrer para renascer para restaurar a natureza. Zeus Maimaktes aparece como senhor dos bons ventos libamos há Zeus, como o Deus que agora é pai, mas também já fora o filho sagrado de Reia, para que ele seja gentil e nos traga calor, brisa e felicidade na primavera que renascera. Hecate se apresenta em sua face de Skotias, a sombria, já que o a escuridão do inverno prevalece.
Em Oskhophoria a vindima acontece e as uvas são colhidas para o fazer do vinho, esta é a segunda colheita do ano, quando os Mistérios de Dionísio acontecem. Zagreus que fora ceifado no inverno, morre e renasce como o pequeno Dionísio, assim como as uvas são ceifadas e transformadas em vinho, sendo assim, Hecate se torna Lochias a protetora do parto. Deméter preparará o arado e a semeadura para a estação agrícola que estará por vir, a fim de levar a fome do inverno ao seu fim. A Deusa chama por sua filha Koure que será guiada por Hecate, assim a terra se encherá frutos para seus filhos.
A luz cresce em Haloá, o Deus se manifesta como o jovem Dionísio, como a criança da promessa que cresce com vitalidade e é festejado, pois os dias tornam-se visivelmente mais longos e a natureza começa a se renovar com a esperança primaveril. Hecate Parthenos se apresenta em sua face virginal, sendo a donzela portadora do desabrochar da luz. Deméter é honrada, pois a esperança da primavera carrega consigo a promessa do reencontro com sua filha. Os grãos são debulhados no chão para o preparo do arado que acontecerá na primavera. Em honra aos mistérios menores de Eleusis, que são presididos sobre a terra por Demeter e Perséfone, não se comem romãs, maçãs, ovos, aves e alguns peixes. Os Deuses e os homens fazem sexo para comemorar a promessa da fertilidade da primavera.
Em Lenaia, luz e sombras são equilibradas e a primavera é celebrada. Hecate Atalos é a delicada e terna donzela. A natureza renasce, sua luz da vida se eleva e o Deus quebra as correntezas do inverno. Ariadne é a virgem e o Deus Dionísio, já renascido e como um jovem vigoroso vai ao seu encontro. O amor sagrado da Deusa e do Deus e a promessa do crescimento e da fertilidade se perpetua nesta união. Este encontro e o retorno do florescer primaveril é celebrado durante a noite, a festa vai até o amanhecer do primeiro dia de primavera, é irrigada há vinho e a danças orgiástica. A comunhão do sexo sagrado acontece.
Galáxia é o festival em honra de Réia, pois esta é também uma Deusa que preside a fertilidade da terra e das estações. Neste festival de primavera lembramos do mito desta Titã, e do nascimento de Zeus menino que fora protegido pela dança dos Curetes. Contemplamos nesta cerimonia os mistérios de Zeus, Reia e Hera como os Deuses que presidem as mudanças e a transformação das estações. A primavera é um momento de vigor e fertilidade, assim Hecate é Aizêiοs, a toda Vigorosa.
Gamelia era o mês primaveril, onde acontecia o Hieros Gamos, a sagrada consumação de casamento dos Reis e senhores do Olimpo, Zeus e Hera, juntamente com seu banquete. Consequentemente, como Hera ascenderá como rainha e senhora dos céus e dos Deuses, ela acaba sendo também a senhora dos casamentos. Os Helenos detêm para si o costume antigo de o fazer como mês dos matrimônios nesta época. O tempo é de renovação, assim como os casamentos são um passo para a nova vida do casal divino que espalha suas bençãos de crescimento sobre o mundo. Como uma celebração de casamento dos Reis Olimpianos, Hecate assume sua face de Ourania, a celeste.
O meio da primavera chega em Anthesteria, a Deusa Ariadna e Hecate se transformam em Basilennas (Rainhas), e o jovem Deus Dionísio é o caçador e sacerdote rei, Basileus. Ariadne ao ser perseguida pela floresta pelo Deus, se transforma na Basilenna e amadurece para uma linda mulher, e assim eles se unem com sua paixão através do seu sexo sagrado e sustenta o mundo natural com sua fertilidade. O vinho feito em Oskhophoria que representa a morte de Zagreus e o renascimento do Deus como Dionísio agora pode ser degustado nos três dias de ritual com prazer. Assim a terra se torna fértil e a natureza se enche de vida.
Em Stenia, a alegria é comemorada e Demeter vai ao encontro de sua filha Perséfone sendo guiada pelas tochas de Hecate Phôsphoros, a portadora da luz, e se se deleitam em risadas e felicidade, preparando-se para a chegada de Thesmophoria, uma cerimônia que perdura por seus três dias, tal momento onde acontece a terceira colheita dos cereais, e oferenda de leitões. Tais rituais relaciona-se à fertilidade das plantações, animais e pessoas e seu processo de preparação para o mesmo. É somente na Thesmophoria que mãe e filha se reencontram, e em homenagem as tristezas que Demeter já passara com a ausência da filha, as mulheres fazem jejum, do mesmo jeito que a Deusa havia ficado sem comer por sua tristeza. Tal ato se transforma em magia que reverbera como força e poder que é lançada para o solo pelas sacerdotisas.
Chega então a Diasia, Zeus é o Rei do Verão e Hecate aparece como Chrysostephês possuindo a coroa solar dourada, e o Deus aparece com seu aspecto paternal e gentil, possuindo de extrema força e virilidade. Neste momento oferecemos grãos e frutos pois o Deus é responsável pela fertilidade do solo com suas chuvas e é normalmente mostrado com uma cornucópia, representando a cabra Amalteia que o alimentou e seu mito. O poder do Sol de verão entra em seu ápice e começa a minguar e o Deus começa a seguir rumo ao submundo, ganhando seus aspectos serpentinos de Zeus Meilikhios. Hera e Deméter estão em satisfação com suas faces maternais e demonstram isso através das folhas verdes e das lindas flores do verão.
Nas cerimonias de Dionísia Rural, a luz solar prevalece sobre a escuridão, e o verão é celebrado com a vegetação em pleno vigor. Dionísio e Ariadne são celebrados no ápice do seu poder de fertilidade. Ariadne se encontra gravida, Hecate aparece sendo Paggennêteira, a Mãe de tudo e o Deus agora maduro, é representado como o pai de Iakos. Sua energia de vida percorre a natureza. O Deus cuida daqueles que bebem de seu vinho junto dele.
Skirophoria é a época do corte da quarta colheita e debulhamento de grãos sobre a terra. Atena e Poseidon, que representam a vida da cidade e Hélio, que testemunhou o rapto de Koré, vão para o um lugar sagrado chamado Skiron, para se encontrarem com Deméter e Koré que representam a agricultura. Lá a semeadura dos grãos acontece, e um escudo que simboliza a proteção dos campos é feito para se evitar queimadas e a seca.
É chegada a hora da Hekatombe a colheita de carne acontece sobre os sacrifícios bovinos que serão realizados para os Divinos reis do Olimpo. Zeus em seu aspecto paternal junto de HeraMeter com sua face de mãe, assim como, Hermes, Apolo e Athena recebem os sacrifícios sendo os filhos de Zeus e senhores que ajudam na manutenção das cidades. Apolo também é honrado como uma Divindade Solar, sendo que agora no verão o Deus está no ápice de sua energia e se enche de luz e poder, doando sua luz para a terra e para o mundo, fazendo a vegetação se preencher de vida e vigor. Hecate Keratôpis é então ornada com os chifres dos bois sacrificados.
Na Dionísia Urbana, luz e a escuridão são equilibradas mais uma vez e o outono é celebrado, porém o poderio da luz solar começa a minguar mais rapidamente. O Deus caminha sobre a terra sendo o pai, com seu aspecto maduro, porém, começará a torna-se então o ancião, o senhor das sombras e o caçador do submundo. Sua energia ainda preenche a terra para que a vida possa crescer e prosseguir. O Deus nutre aqueles que bebem de seu vinho com seu êxtase e fertilidade. Perséfone então retorna para os braços de Hades para junto dele governarem o Submundo. Hecate Despoina também se apresenta como senhora, em seu aspecto maduro, tornando-se então a anciã.
A Kronia é um festival cretense em honra há Cronos como senhor do tempo, dos ciclos e da colheita e Réia como senhora da terra fértil e da maternidade, os pais de Zeus menino que assumiria como o Deus pai do Olimpo futuramente. Neste festejo Cronos é representado como o senhor da colheita de grãos, portando uma foice. Esta é uma comemoração feita durante a noite, com uma ceia feita de nossa safra para celebra o final da colheita. Banimentos e quebra de correntes são mencionados neste festival, podemos fazer alusão ao fato de ser a última colheita, e a sabedoria do corte da foice perdurar neste momento. Dionísio aqui é desperto como Anax, em sua face de senhor e ancião outonal.
Chega novamente Genesio e então o ciclo recomeça, e assim tudo retorna em seu perfeito ritmo cíclico Divino, para mais uma vez no inverno o Deus se sacrificar para que a natureza seja nutrida através do seu sacrifício e renascimento. Nos Mistérios Dionisíacos podemos ver o ciclo do vinho, desde seu plantio na primavera após os grãos serem debulhados, até a época de maturação pelo seu crescimento e vigor no verão, passando pela colheita do outono e do inverno, onde o Deus se torna ceifado pela Deusa da morte e será transformado na bebida que trará a promessa da alegria e do êxtase primaveril.
Em síntese podemos observar o mito e os Mistérios de Eleuses dentro desta jornada cíclica anual da vegetação, onde Demeter é a mãe terra e senhora da agricultura, e Koure sua filha representa a donzela virginal da primavera. No outono quando Koure é levada por Hades para o submundo Demeter entra em tristeza e a terra se torna estéril, a vegetação seca, e o gélido inverno começa, pois a Deusa se encontra em tristezas pois sua filha havia desaparecido. A jovem que ante era Koure amadurece se casa e é transformada na rainha do Submundo, onde os mortos residem, e se torna então Perséfone. Hecate e Hermes guiam há então rainha para o retorno da sua mãe, para que a terra se preencha com a alegria de Demeter e a primavera tenha seu retorno com o fértil desabrochar.
Vemos os ciclos naturais na mitologia de mistérios do nascimento e ascensão de Zeus menino como Rei e soberano do Olimpo. Onde Reia, a Titã da fertilidade da terra é a sua mãe protetora, e o tempo destruidor é o Titã Cronos, seu pai, este possui vontade de destruir e comer tudo, pois ele é o próprio tempo. Neste mito Zeus nasce, sendo a criança da promessa, trazendo a esperança do crescimento para o mundo. O jovem Deus destrona o velho Cronos, ceifando-o, para que ele possa assumir e ascender aos céus Olimpianos. Hera e Zeus se casam e a fertilidade primaveril para o mundo é levada. Para então na Diasia o Deus em seu aspecto de Rei e pai comece sua descida para o submundo, trazendo a jornada outonal ao reino dos mortos.
Hecate é a Axismundi, a alma e pilar central do mundo, sendo assim a Deusa sempre está ali sendo retratada na roda do ano com seus mais variados aspectos, assumindo o manto de Ctonia, a senhora da terra, Aidonaia, a rainha do submundo em Genesios, Keroeis, a de chifre, em Hekatombe, Curotrofa, a cuidadora das crianças e dos jovens, desde o nascimento e amadurecimento de Dionísio, e também quando ela guia e cuida da donzela Koure guiando-a e transformando-a em rainha ao lado de Hades. A Deusa assume entre seus outros e mais variados títulos sobre a roda do ano trazendo os seus mistérios cíclicos e transformadores.
A roda do ano tem como seu objetivo, sincronizar a nossa energia com os Deuses, ancestrais e com as potencias naturais das estações nos trazendo a sabedoria dos ciclos, e dos seus mistérios Divinos, além de nos conectar com as forças da terra e do céu ampliando os nossos dons e talentos enquanto Bruxos. Os ciclos celebrados trazem momentos ideais para mergulharmos em reflexões sobre cada um dos aspectos de sabedoria em nós mesmos e da natureza ao nosso redor entrando em contato com a nossa sombra, para equilibra-la com a nossa luz e transformarmos padrões nocivos em nossas vidas.
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Os altares de bruxaria e do mundo Grego antigo.
Um altar é geralmente uma estrutura elevada que pode ser usado como local de oração ou adoração. Os praticantes de magia colocam variados instrumentos mágicos assim como simbologias, para lançar feitiços e fazerem seus rituais. Os altares de Bruxaria são espaços especiais que simbolizam seu microcosmo em conexão com o seu macrocosmo. É uma representação do cosmos e das intenções do magista perante o universo, suas vontades e mistérios. O altar é um ponto de conexão para as energias que serão trabalhadas pelo praticante. São também pontos focais para suas práticas magicas sendo um espaço para enviar sua energia e intenção ao universo, assim como receber energias invocadas em seus ritos. Os altares agem como um espaço físico para os mundos astrais e para que o praticante possa acessar tais mundos. Ele é um lugar para trabalhar e acessar poderosas fontes de energia e magia. Geralmente o altar é disposto ao norte ou ao leste por muitas tradições de bruxaria, como mencionado por ScottCunningham em seu livro, OGuia Essencial Da Bruxa Solitária.
Geralmente alguns elementos do altar são dispostos em determinadas direções, porem isso fica ao critério do adepto, mostrarei aqui como por ventura é feito. Ao sul do altar adicionem um castiçal para as velas, ao centro do altar adicionem o caldeirão com os cristais de quartzo em seus pés, o pentagrama deve ficar ao norte, o báculo e o punhal virado de frente para o magista, tendo um fácil acesso nas práticas (mesmo que o Athame seja um símbolo do fogo, e o bastão do ar, adicionamo-nos juntos por pura praticidade), enquanto a taça, a lua, e a representação da Deusa ao oeste o sino, os incensos, o sol, e a representação do Deus ao leste, sendo a água o elemento feminino, e o ar um elemento masculino. O sal deve ser disposto ao norte, porém no meu altar pessoal este fica ao sul por falta de espaço, sendo assim, o adepto pode adaptar através de seu espaço pessoal os distintos elementos. Os demais instrumentos devem ficar do modo que o magista assim desejar.
Altar principal: local principal de nossos ritos, sua descrição ocorreu no parágrafo acima.
Altar para uma divindade em especifica: Local de culto e práticas magicas voltado exclusivamente há uma Divindade e seu cortejo. Neste altar dedicamos oferendas, e devoção há determinados Deuses e também dispomos os seus instrumentos sagrados.
Altar para Holocausto: Este é chamado de altar de Bomos, é uma coluna contendo uma pira para atear fogo nas oferendas aos Deuses Olimpianos e celestiais, o Dodecateão.
Altar do Submundo: Pode aparecer como uma cova, abaixo da terra, ou um altar dedicado aos Deuses Ctónios sobre a terra. Os antigos gregos faiam valas para enterrar seus sacrifícios e oferendas para os Deuses Ctónios. Podemos usar obsidianas, ossos, velas escuras, oferendas, foices, crânios, bidentes entre outros materiais para a confecção deste altar. O mesmo pode se tornar um altar dos ancestrais também, partindo da premissa que os ancestrais vivem no submundo, o reino de Hades.
Altar para o lar: este altar era bastante comum para os antigos gregos e romanos, feito de forma muito simples com determinados elementos da natureza, pode ser feito dentro de casa, ou fora em algum jardim. Aqui é um espaço para representar os Deuses do lar, como Hestia, Hecate, Zeus, Apolo, Hermes, as Cárites e também ao nosso Daemon pessoal. Cada um desses é representado por um tipo de rocha ou símbolos Anicônicos, como por exemplo, Hermes é representado por pedras empilhadas, Apolo por uma pedra fálica, ou em forma de obelisco chamada de Omphalos, Zeus é representado por uma rocha em forma de cubo, as Carites por três pedras com aspectos fibrosos perfurando o solo, Priapo pode ser representado por uma pedra cilíndrica, ou por um phalo de madeira, Hecate por uma pedra triangular, o Agathos Daemon por um Ônix circular, Hestia por velas e Dionísio por uma pinha. Hercules pode aparecer nesse altar sendo representado por uma clava.
Altar dos ancestrais: local para praticas magicas com os nossos ancestrais. Tal altar é um local de poder para as artes necromânticas, onde podemos lidar com os espíritos, além de fazermos nossas homenagens e preces. Geralmente adicionamos ervas de poder, sal, terra, velas, água, oferendas, foto de nossos ancestrais, crânios, foices, o cristal que representa nossa linhagem ancestral, um cristal dos espíritos, podendo ser negro, representando o submundo, vermelho representando o sangue ou uma ametista representando o próprio plano espiritual, além de outros cristais de poder, instrumentos sagrados e coisas relacionadas aos nossos ancestrais. Este é um altar vinculado ao Submundo, os antigos Helenos e Minoicos usavam urnas contendo as cinzas de seus falecidos como uma forma para este altar. Lararia: Este é um altar Greco-romano dedicada para a proteção, saúde e fartura do lar que era disposto para os Deuses, espíritos ancestrais e guardiões dos antigos povos. A palavra vem do Latim Larariun que é uma derivante da palavra lar. Este era frequentemente feito em forma de uma casa, e ficava ao lado de fora da mesma, geralmente no pátio ou próximo da cozinha. É interessante observarmos que o mesmo é em aspectos similar com as tronqueiras das religiões afrodescendentes e com os oratórios para santos católicos. Alguns elementos compõem a Lararia, tais como: Acerra (recipiente para guardar incensos), pratos para as oferendas, recipiente com sal, Pátera (um recipiente para se adicionar as libações feitas, esta pode ser uma espécie de pira ou de tigela), Gutus (recipiente para guardar líquidos), Incenso, Turibulo e Lucerna (velas dedicadas para as energias assentadas na Lararia). O adepto pode adicionar elementos básicos de culto, como oferendas, símbolos e imagens, entre outros, a determinados seres que suas Lararias serão dedicadas.
Lararia, casa dos cupidos, Pompeia Itália - Imagem extraída do Pinterest