Espiritos, ancestrais, guias e guardiões na Bruxaria e em seus trabalhos magicos.
Cada Divindade possui seu séquito de espíritos e criaturas, dentro dos costumes Helênicos podemos ver isso com nitidez. Hecate como por exemplo possui um cortejo de criaturas, como as Lâmpades, Lâmias, Mormolices, entre outros espíritos, Perséfone possui algumas ninfas, tais como Daria e Mintas, Hades sem sombras de dúvida possui todo o cortejo do submundo, porem vemos com maior intensidade seu cão Cérebros o acompanhando. É interessante ressaltar que nem toda criatura que vive sobre o véu das suas Divindades é fácil de se trabalhar, algumas possuem seus aspectos selvagens e voraz inclusive! Antes de fazermos uma determinada aliança com espíritos devemos saber se os mesmos possuem algum tipo de iniciação por detrás do véu, e se os votos iniciáticos deste podem atrapalhar a sua vida magica, espiritual ou física. As vezes a falta deste tipo de conversa com o espirito abre brechas na proteção do magista para a atuação na vida do mesmo como bem quiser. (Erinna, e a roca, poesia grega C6 a.c; Aristofanes, sapos comedia grega de C5 a 4 a.c)
É interessante que o praticante quando for realizar determinados trabalhos mágicos, conheçam primeiro tais Divindades com intimidade, se abram as conexões e estudem seus epítetos, reflitam e meditem sobre os tipos de espíritos que andam no cortejo desta Divindade sobre as égides de tais epítetos.
Hécate em geral é a Deusa rainha de todos os Mortos e de todo o submundo (Aidonaia) dentro dos costumes e da cosmovisão Helênica. Pelos trabalhos mágicos que já realizei em meu sacerdócio com Hecate, seus epítetos e seu séquito podemos observar determinados mortos tendo maior inclinação para o cortejo desta Deusa, como por exemplo:
Os guias espirituais são regidos na égide de Hecate Hegemonen, assim como ela foi a guia de Perséfone. Os espíritos das ruas são regidos pela inclinação energética de Hecate Enodia. Hecate Trivia é a senhora e rainha dos espíritos das encruzilhadas. Hecate também é a senhora de Pharmakoi, sendo ela a senhora dos espíritos das ervas. Os espíritos dos mares, das praias e limiares de águas estão inclinados aos domínios de Hecate Einalia. Hecate Kleidoukhos arrasta em seu cortejo os espíritos carregadores de chaves, os pioneiros, e desbravadores, já que os mesmos abrem as portas para ações e conhecimentos. A Hecate Nikytipolos pertence os espíritos vagantes da noite. Os cães e espíritos que lidaram em vida com os mesmos são carregados pela energia de Hecate Skylagetes. Portas, fronteiras, portais e afins são domínios de Hecate Propylaia, e espíritos sobre esta esfera trabalham em honra sobre esta face da Deusa. Hecate Perseis é a face ligada ao Titã Perses, e é o epiteto da senhora como a própria morte, sendo assim, espíritos ligados a morte como coveiros são arrastados pelo cortejo da Deusa sobre esta influência. Hecate como bem sabemos é a Deusa rainha de todas as bruxas, sendo a alma da magia e do mundo, ela é a senhora da lua adorada pelas bruxas, sendo assim nossas ancestrais da arte são regidas pelo cortejo desta Deusa. Cada epiteto da Deusa terá uma correspondência referente a um trabalho com os mortos. Esta correspondência talvez possa ser dada a outros tipos de Divindades, pois podemos ver a sua imanência e influencia com maior ênfase.
A bruxaria e o paganismo de modo geral possuem as suas bases no culto há ancestralidade. Um ancestral são os nossos antecessores, não somente os consanguíneos, mas, também sendo os da terra e da história! Mas para que nós iriamos querer saber de manter um culto com pessoas mortas? Por que isso é tão importante? E eu te respondo: Para saber quem sou e o que carrego dentro de mim, pra entender o porquê a história da humanidade está neste rumo. Para conhecer a minha própria história e entender ao que estou dando continuidade, pois nós não somos o ponto inicial da jornada evolutiva do planeta. Nós herdamos muito, nós somos, porque foram antes de nós. Devemos aprender quais ciclos existem em nossa ancestralidade, para manter os que são prósperos e descartar os que são nocivos para não nos tornarmos escravos de nossa história ancestral e para aqueles que darem procedência em nossa herança, possam tela com honra. Você conhece tudo que herdou? Em nossas aproximadas 7 gerações, ou as 254 pessoas que foram antes de nós e agora são parte de nosso sangue por exemplo. É por isso que manter estes vínculos ancestrais são importantes para um praticante da arte.
Há pelo menos 11 linhagens ancestrais que cercam uma bruxa. Estes são:
Os amados Mortos - pessoas que amamos e morreram Antepassados de Carne e Sangue - ancestrais genéticos Antepassados do Leite e Mel - ancestrais adotados Antepassados do Osso e da Pedra - ancestrais do lugar e da nossa terra Antepassados do Pão e da Respiração - ancestrais da história e do trabalho da vida, muitas vezes artistas, músicos ou pessoas com quem admiramos e ressoamos Antepassados da Alma - este termo é dito como ancestrais que cercam as linhagens das reencarnações do praticante. Ancestrais do Espírito - ancestrais do mesmo legado espiritual, seja de forma generalizada, digamos todas as Bruxas que vieram antes de nós, ou apenas de uma linhagem ou tradição específica, como os Elders, iniciadores ou irmãos de tradição que já se foram. Os Mortos Esquecidos - ancestrais de determinada linhagem que foram esquecidas após sua morte Os Mortos Poderosos - mortos que possuem poderes e autoridade espiritual, estes já não cumprirem o ciclo de reencarnação por motivos diversos, geralmente fazem outras coisas pelo mundo (como serem guias espirituais, ou outras coisas) ao invés de ir para o submundo e cumprir o ciclo de vida morte e renascimento em nosso mundo. Os mortos Divinizados - os justificados ou santificados. Geralmente heróis da mitologia E por fim a Hidden presence - Ancestrais que guardam e fazem a presença oculta do Círculo mágico, estes possuem total influencia e importância em covens e círculos de Bruxaria. Os mesmos instruem e guardam os adeptos da arte.
Para nos aprofundar em nossa ancestralidade como brasileiros, vamos destrinchar a ancestralidade da terra e da história do Brasil por região através do período pós colonial:
Região Norte: Na região Norte há uma intensidade da manifestação indígena. Seus estados integrantes são: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Seus traços culturais são vastos e ricos, trazendo a medicina natural, muito influenciada pelos indígenas, trazendo inclusive, as suas celebrações como características. As festas do boi Caprichoso e Garantido, o Boi-Bumbá, as Cavalhadas e as festas do Congo são exemplos típicos além da culinária regional. Exemplo – Os Quilombolas, e os índios, principalmente do povo Ticuna.
Região Nordeste: Foi nesta região que os primeiros colonizadores portugueses desembarcaram em nosso país. Por tal motivo, estes estados da região ainda conservam em sua estrutura arquitetônica da época colonial. Seus estados integrantes são: Maranhão, Piauí, Ceara, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe. Sua cultura trazida para o Brasil possui influência dos negros com seus traços mais preponderantes. A culinária requintada, o frevo, as Baianas vendendo seus acarajés, as poesias populares, o artesanato, e a capoeira são algum dos exemplos dos mais variados desta riqueza cultural. Exemplo – Os Baianos, sertanejos, vaqueiros, cangaceiros, agricultores, quilombolas, artesãos e índios da tripo Tapaxos.
Região Centro-Oeste: Esta região é bastante diversificada culturalmente, recebendo fortes influências indígenas, africanas, europeias, gaúchas, bolivianos e paraguaios. Seus estados integrantes são: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Brasília. A procissão do Fogaréu, as Cavalhadas, as Violas-de-Cocho, sua culinária típica, as festas de Cururu com suas danças e músicas típicas, trazem suas distinções culturais. Exemplo – Boiadeiros, Violeiros, garimpeiros e índios da tribo Caiapó.
Região Sudeste: Fora muito diversificada e possui uma forte influência indígena, escrava e dos diversos imigrantes europeus e asiáticos. Seus estados integrantes são: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espirito Santos. A culinária típica, as cidades históricas com sua arquitetura barroca, a mineração, as festas de carnaval e as festas da lapa carioca são fortes traços culturais. Exemplos - Mineiros, garimpeiros, violeiros, sertanejos, marinheiros, pescadores, malandros, Paulistas, Cariocas, catingueiros, vaqueiros, agricultores, quilombolas e índios das tribos Tumbalala, Pankararu, Xacriabás e kopenoti.
Região Sul: possui suas raízes ligadas aos imigrantes da Europa que vieram para esta parte do país. Essa região fora colonizada fortemente por Europeus, principalmente pelos Portugueses, possuindo fortemente a cultura Açoriana e espanhóis. Muitos povos que vieram da Alemanha, Itália, e outros povos da Europa se estabeleceram por esta região. Seus estados integrantes são: o Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. O Chimarrão, as danças gaúchas e o churrasco sulista são traços culturais. Exemplos: Gaúchos, Açorianos, Alemães, italianos alem das tribos indígenas Guaranis.
Além dos marinheiros que viajaram pelos mares, que contribuíram para a Europa no descobrimento das Américas e do Brasil, é valido citar também os pescadores que viviam pelo litoral Brasileiro, além das culturas ribeirinhas e povos indígenas com tais inclinações.
De acordo com o dicionário de Filosofia Espírita, L. Palhano Jr. Um espírito guia ou mentor espiritual é um ser encarregado de acompanhar o médium, ou adepto da arte, trazendo-nos orientações sobre a vida e auxiliando-no quando for preciso. Podem se tratar de espíritos dos antepassados, invocados em determinados cultos. Os mesmos podem em práticas de bruxaria e em outros sistemas de crenças e práticas magicas incorporar nos adeptos sobre determinadas circunstâncias. Não há um número definitivo de guias, para os praticantes de magia e bruxaria pode ser muito relativo aos distintos trabalhos mágicos e conexões com Divindades de seus cultos.
Para uma pratica bem estabelecida é de serventia para o adepto conheça seus guias espirituais, caso o mesmo o tenha, caso contrário Divindades intermediadoras de seus sortilégios podem lhe auxiliar nesta busca por alianças magicas ou elas mesmas podem enviar determinados espíritos guias para o praticante. Os guias espirituais podem ser seres que fizeram a transição da vida após a morte, ou outros tipos de seres espirituais que guiam o praticante a mando de uma Divindade especifica. A própria Divindade pode se fazer como guia espiritual do adepto. Para os espíritos humanos que aqui são mencionados, os mesmos ao invés de reencarnar na terra novamente, optam por dedicar sua existência a serem guias espirituais como uma forma de continuar a evolução de sua alma, a presença oculta do círculo magico possui este papel de guiamento espiritual do adepto e do clã podendo serem ditos como mortos poderosos.
Há diversas classificações de guias espirituais, essa classificação que disserto aqui está no livro O templo interior da Bruxaria de Christopher Penezak, sendo eles:
Os protetores: preocupam- se com nosso bem estar físico. Os guardiões: guardam nossas vidas em geral. Os curandeiros: estão disponíveis para trabalhos de cura. Os que trazem alegria: estão disponíveis para nós trazer felicidade na vida. Os mensageiros: saem pelo mundo nós trazendo possibilidades e abrindo caminhos, ou nos traz mensagens. Os professores: nos ensinam e trazem saberia. Divindade guia: Algum Deus ou Deusa que guia e auxilia a vida do adepto.
É de valia para o adepto saber que todos os espíritos mencionados neste texto podem em algum momento se tornarem guardiões pessoais do mesmo, variando de trabalhos distintos, momentos, lugares, posições e áreas da vida, uma variante pode vir a ser até mesmo das intervenções da própria divindade e seus respectivos contratos mágicos.
Mapa mental desenvolvido para ilustrar as linhagens ancestrais.
Imagem extraida do Printerest
Técnicas práticas de Incorporação na Bruxaria, questões de sensatez, responsabilidade magica e coerência
Como vimos anteriormente, a incorporação na bruxaria existe e é um fato histórico em diversas civilizações pagãs do mundo antigo, como fora citado pelos gregos e sumérios. Porém, devemos ter coerência, responsabilidade e sensatez na hora de trazer tais praticas para nossa vida magica cotidiana, esta parte sem sombras de dúvidas, serve para os neófitos do caminho. Tolo é aquele que não comunga com seus ancestrais, ou que acha que a arte da bruxaria, os reinos e seres espirituais são deveras cheios de bondade e graça, afinal de contas, se isso fosse uma verdade, não existiriam os seres chamados de Tricksters, aqueles que são malandros, trapaceiros e brincalhões, ou outras categorias de seres bem como os Gregos conhecem, chamados de Caco Daemons. A diversidade espiritual é grandiosa e complexa, o adepto que acha fácil nadar em um oceano com profundidade de mistérios e seres de todos os tipos abaixo e acima dele, é realmente um tolo alem de iludido.
De antemão, os neófitos devem conhecer e se estabelecerem em práticas magicas básicas, bem como possuírem o discernimento sobre os planos espirituais, as criaturas e espíritos e técnicas de magias para sua vida magica em geral. A leitura e pesquisa sempre deve ser um fator crucial na vida de cada um, e não deve ser excluída de forma alguma da vida diária de qualquer praticante de magia, sendo das sendas da bruxaria ou não.
Para que o neófito tenha maior sucesso em suas práticas magicas, o mesmo deverá em primazia aprender técnicas para alterar o estado de consciência, tendo como base para esta pratica inicial a alteração para o estado Alfa de consciência em conjunto com a visualização criativa. No livro O templo interior da bruxaria de Christopher Penczak, possui um guia de atividades para um treinamento e desenvolvimento psíquico do adepto.
A segunda técnica que deve ser requerida é a arte da purificação e banimentos, neste caso, o adepto estará fazendo a manutenção energética do que permanece, entra e sai de suas operações magicas. O banimento e a purificação são formas responsáveis de se manter o equilíbrio da liturgia envolvida, além do mais, são técnicas que trará segurança ao praticante da arte em seus rituais caso algum fenômeno possa sair do controle do noviço. O aterramento energético é o próximo passo que indico de começo para os neófitos da arte, para auxiliar em sua proteção, equilíbrio energético, banimentos e purificações. O livro completo de bruxaria de Raymond Buckland possui uma abordagem com técnicas de banimentos, os livros da Magia do Caos Liber Null e Psiconauta, o Magica Visual, e as obras da autora Lua Valentia, O livro Via e o livro Valentia, são ótimas recomendações como materiais de estudos e praticas com banimentos.
Uma Invocação quando bem feita tem o poder de arrastar os céus em nossas conjurações. o próximo passo para o adepto é aprender da arte da invocação e evocação. Para que um trabalho magico seja feito com sucesso, é necessário que o adepto aprenda a chamar as forças nas quais serão trabalhadas ritualisticamente, ou, chamar forças que serão auxiliadoras para as praticas de magia realizada. É através das invocações que o praticante começara a desenvolver os seus laços e alianças magicas com os seres espirituais e com os Deuses, a ponto das mesmas serem intermediadoras, e os demais seres mágicos serem postos como nossos guardiões. Quando realizamos uma oração fervorosa, a mesma pode conter poder o suficiente para te trazer auxilio e proteção Divina adequada para determinadas praticas magicas, alem de auxiliarem o equilíbrio e manter o controle da operação magica com excelência. É interessante o neófito ter em mente que existem diversos tipos de técnicas para estas aqui mencionadas, um mantra, uma música e um rosário podem ser mencionados como exemplo. Um conselho para o leitor, jamais invoque algo que não saiba banir.
O adepto da arte deve aprender com exatidão a centralizar e manter o controle do seu poder pessoal, e de todas as energias que serão trabalhadas dentro da operação mágica. O equilíbrio da operação é essencial para que os resultados sejam assertivos e feitos com responsabilidade. Para que isso seja feito com perfeição, o adepto da arte deve se conhecer e saber como a sua magia e magias externas a ele interagem para com o mundo interior (microcosmos) e exterior (macrocosmos).
Para que o praticante possa estar mais preparado com suas práticas de incorporação, ou outras operações magicas dentro do caminho, é preciso que o mesmo saiba sobre a anatomia energética humana, animal, vegetal e de outros seres que nos cercam. Sendo assim o magista estará precavido de informações de que se uma determinada operação magica proporcionar determinados desconfortos, como dores de cabeça, o mesmo já terá em mente de fatores que poderão serem preponderantes. A anatomia energética é algo que pode ser complexo de começo, porem eu indico o neófito realizar mapas mentais e desenhos com relação aos seus estudos, bem como exercícios práticos de percepção de nossos corpos espirituais e estudos com embasamento literário e histórico sobre. Indico aqui livros maravilhosos sobre o tema, que relatam com profundidade nossa anatomia energética. O livro dos chakras da energia e dos corpos sutis, Os chakras e os campos de energia humanos, o livro medicina vibracional, Cura prânica com cristais, Os chakras - os centros magnéticos vitais do ser humano, Anatomia esotérica - o corpo como consciência de Bruce Burger, e o livro Anatomia Esotérica de Douglas Baker são excelentes materiais literários para os embasamentos de estudos e as praticas do adepto.
Os povos hindus trouxeram o conhecimento milenar sobre os chacras que compões nossa anatomia energética. Estudar e adquirir tais bases será uma base essencial para qualquer caminho magico que possamos desenvolver, afinal de contas, como já dizia Sócrates, conheça a ti mesmo, uma destas bases é conhecer seu próprio corpo e os seus processos energéticos. Os egípcios possuem a menção no livro dos Mortos o conhecimento dos 9 corpos espirituais. Não vou me aprofundar em tais conhecimentos neste texto, pois não é o objetivo.
Uma questão importantíssima que o neófito deve ter em mente é sobre o respeito em lidar com o sagrado e seus mistérios, além do respeito que devemos manter sobre todas as circunstancias a todos os demais seres que serão convocados! Devemos saber entrar e sair de todo e qualquer reino, lidar com operações mágicas é muito semelhante a manter relações internacionais com determinados países, quando lidamos com a cultura e história de povos distintos, devemos ser corteses, cordiais e diplomatas as determinadas regras dos mesmos. Hoje em dia, muitos praticantes de magia acabam achando que as energias convocadas devem fazer o que o adepto bem entender, sem ao menos saber do contexto e história do ser envolvido. Os povos do outro lado também se ofendem, possuem suas regras, hierarquias, tradições e costumes, seria tolice achar o contrário, isso é uma das mais importantes premissas Herméticas, oque há acima, é assim como oque está abaixo, como referido no Caibalion. Cada panteão, sistema e povo dentro dos reinos espirituais existem com seu modos operanti. É de grande valia alertar o leitor que há também os espíritos e seres que não obedecem a hierarquia nenhuma, tampouco possuem regras, costumes ou tradições.
Outra coisa que o adepto deve ter em mente é a questão de egrégoras e seus conflitos e as formas de manter sua harmonia, isso deve entrar muito em quesito no respeito que mencionei anteriormente sobre a comunhão e diplomacia com os povos. Afinal de contas nem toda Divindade e seres espirituais são puro amor e benevolência, muitos Deuses carregam instrumentos embutidos de limites e punições em suas simbologias. O açoite e as lâmina por exemplo são carregadas por Hecate, Osiris e Ran, todos eles sendo Divindades do submundo em suas respectivas culturas.
Há vários tipos de seres humanos em vida, pensar que em morte seria diferente é puramente ilusório. A bruxaria possui uma conexão profunda com a ancestralidade, e todos os tipos de ancestrais que existem. Há também espíritos guardiões e os guias espirituais, além é claro, de espíritos que não são tão legais de serem trabalhados, pois em vida, sua índole e caráter não eram um grande exemplo, estes por fim devemos possuir maior cautela. Porem o neófito não se deve enganar, tais espíritos são tão humanos quanto eu e você, então, lidar com alguns destes pode ser complicado, além do praticante poder atrai para si seres que podem querer extrair alguma vantagem. Por isso ter uma Divindade como intermediadora sempre é essencial, além de fazerem contratos mágicos, que podem futuramente serem desfeitos, com o intuito de não prejudicar o adepto, mas sim, trazer-lhe devidas cautelas e proteções.
Devemos observar em tais práticas que há uma diversidade de esferas e planos espirituais, devemos conhecer e reconhecer onde entramos e vamos pisar em uma operação magica para o devido respeito e manutenção do equilíbrio da operação mágica.
Outro tópico que o adepto deve encarar em tais práticas é a base das reencarnações. Tal conceito filosófico existe em diversas culturas, sistemas de crenças e espiritualidades pelo mundo. Platão por exemplo em seus diálogos de Menos, Fedro e Fedon além de seu trabalho mencionado como A república, o mesmo menciona este tema no século IV a.c. Heródoto, no século V a.c, cita em suas obras as crenças da reencarnação como de origem Egípcia, porém temos registros desta crença em variadas culturas humanas espalhadas pelos séculos e pelo mundo. Os pré-socráticos Gregos levantavam tal tema do século VII a.c ao século V a.c, assim como os indianos, os bem mencionados Egípcios, os Druidas Celtas entre outros mantiveram suas abordagens.
Levando em consideração a reencarnação em tais trabalhos de magia, o adepto deve estar preparado par abordagens profundas e históricas, pois, o espirito que fora convocado, terá outras reencarnações, histórias de vidas distintas, e quanto mais profundidade o adepto trabalhe com os mortos, maior intimidade ele o terá para acessar tais discrepâncias históricas do ser convocado. Bem como acesso aos conhecimentos dos ciclos encarnatórios do morto, do próprio adepto, assim como, compreender possíveis pontos fracos e fortes que determinado espírito possa vir a ter. Dependendo do morto envolvido e dos mistérios das suas histórias de vida, o espirito pode vir a trabalhar com o adepto para relembrar de algumas informações, bem como para adquirir determinados aprendizados, ou ate mesmo, ensinar variadas coisas para o adepto. O importante é ter cautela, coerência e respeito, e que o trabalho com este víeis tenha uma troca, e aprendizado com reciprocidade.
Espíritos sendo eles de determinados seres vivos ou não, possuem algo mencionado como corpo astral, este é uma estrutura energética sutil e necessário para a manifestação dos espíritos. Helena Petrovna Blavatsky em suas obras menciona o mesmo. Como não possuem uma forma astral imutável, a energia do espirito pode ter suas variantes, geralmente os seres possuem uma forma astral, porem há determinados seres espirituais que possuem a facilidade de alterar esta forma astral e seus arquétipos envolvidos.
Por fim, cada espirito que será trabalhado deverá apresentar o seu nome para o adepto. Por ventura os espíritos podem se apresentar em nomes distintos, com diversas finalidades, desde o nome civil da última encarnação, outros podem dar vários nomes de suas vidas passadas, como nomes de poder para determinadas situações, nomes mágicos caso o espirito tenha sido iniciado de uma determinada vertente magica, como o nome da alma, este sendo o mais profundo e de difícil apresentação. Alguns espíritos podem pedir para que o adepto o nomeie. É importante que tais nomes possuam um viés de equilíbrio para a egrégora que será trabalhada e comungada com o magista, para que toda a operação magica esteja em perfeita harmonia para o magista e para todas a energias remanescentes que foram convocadas, sendo assim respeitem o contexto cultural de cada um e os seus limiares mágicos.
Edward Kelly e Paul Wade conjurando os mortos. (Ilustração das Ciências Ocultas / Ebenezer Sibley)
Incorporação na bruxaria e no paganismo
Um dos trabalhos mágicos mais fundamentais para as bruxas é o sacerdócio, a comunhão com os espíritos e ancestrais, além de variadas formas de magias e comunhão com o reino espiritual. Para estabelecer tais práticas, os praticantes da arte devem desenvolver seus dons e talentos mágicos e espirituais, a mediunidade é uma destas possibilidades, com o passar de nossos estudos, veremos que não existe apenas os dons mediúnicos como formas de talentos mágicos.
A mediunidade é o talento espiritual designado para a comunicação dos seres humanos vivos com os planos espirituais, com os seres espirituais e Divindades. Tais dons podem se manifestar de diversas formas, tais como, a clarividência, onde o sujeito possui visão dos seres espirituais e seus reinos, a clariaudiência, onde o mesmo possui a capacidade de ouvir claramente os seres espirituais e seus reinos, a clarissenciência onde o praticante possui o sentimento, a intuição, e a sensibilidade aguçada, a psicofonia, onde os seres espirituais usam da boca do médium para a comunicação, a incorporação, onde o espirito se acopla aos chacras do praticante, dando a falsa impressão que o mesmo está dentro do corpo físico do praticante, a canalização já é parecida com a anterior, porém, as Divindades ou outros seres espirituais se utilizam dos chacras superiores do praticante para trazerem sua “voz”, ou seja, suas mensagens, e palavras ao mundo físico, a psicografia é a faculdade mediúnica envolvendo a escrita ou formas de comunicação através das mãos. Há muitos outros tipos de talentos mediúnicos, porem para não me estender muito, citarei estes como exemplos, porém é importante ressaltar que, todos os seres humanos possuem tais talentos, alguns em menor escala, outros mais aflorados, alguns despertos outros adormecidos.
É deveras importante os praticantes de bruxaria se questionarem sobre o porquê não usar de tais talentos em suas práticas desde que haja coerência e uma base bem estruturada, afinal de contas, somos a voz dos Deuses na terra a partir do momento que tomamos a nossa iniciação no caminho da bruxaria, nós expressamos a natureza Divina, e os Deuses também são a morte, a ancestralidade e os guias dos espíritos após desencarnarem, tais como podemos ver referencias claras de Hecate e Hermes na cultura Helênica. Para aqueles que compreendem os Deuses como imanentes, os espíritos também fazem parte da natureza dos Deuses, principalmente os Ctónios e senhores do submundo. Trago um pequeno trecho da Odisseia trazendo tal referência.
“Hermes de Cliene ia chamando as almas dos pretendentes. Trazia na mão a graciosa vara dourada, com a qual, quando quer, adormece os olhos dos homens ou desperta os adormecidos; agitando-a movia as almas, que o seguia dando gritos. Como trissam os morcegos, esvoaçando no interior de uma caverna portentosa, quando algum deles despenca dos ganchos que forma na rocha agarrados uns aos outros, dando gritos inarticulados, elas acompanhavam Hermes benfazejo, que os guiava pelas úmidas sendas abaixo da terra. Transpuseram as correntezas do oceano e a rocha Leucade; passaram as portas do sol e o país do sonho e logo chegaram ao vergel dos Asfodelos, onde habita as almas, e espectros dos finados ancestrais”.
As bruxas após suas iniciações possuem os seus familiares, tais seres podem ser encarados ou não, e são subdivididos em três classificações como vemos no livro a Enciclopédia da Bruxaria de Doreen Valiente, estes podem ser seres elementais, tais como fadas e Imps, espíritos humanos tendo referencias há família e a ancestralidade, ou os espíritos da natureza, ou ancestrais encarnados em animais domésticos. Tais seres quando são espíritos humanos possuem uma relação tão intima com a bruxa que podem em dados momentos e trabalhos mágicos o ato da incorporação, quando o familiar é um animal encarnado, o processo pode acontecer, sendo o familiar o receptáculo e canalizador de determinados espíritos para a bruxa em questão, claro que o animal deve permitir.
Para acontecer o processo de incorporação e canalização o praticante deve primeiramente saber entrar em alfa, sendo este o processo primário para as práticas magicas, assim como alterar seu estado de consciência para entrar em determinado transe, para este processo, a música e os aromas costumam ser bem relevantes para os neófitos principalmente, porem a técnica varia de pessoa para pessoa. É importante ter isto em mente e estudar com maior profundidade sobre este tema, pois neste texto o abordo de maneira superficial.
O adepto da arte deve ter em mente que de acordo com seu estado de transe, há diversos níveis de estados de incorporação, além do mais, essas variantes também vão se dar, com os tipos de seres espirituais que o mesmo está lidando, bem como com a profundidade do desenvolvimento dos dons e talentos mágicos, assim como seu auto controle mental e espiritual.
Os adeptos da arte podem ter o que é chamado de irradiação, quando o mesmo se apresenta irradiando a energia do ser trabalhado, porém, não estar incorporado. O talento mediúnico de incorporação pode ser classificado por três diferentes graus: consciente, semiconsciente e inconsciente. Isso tudo dependendo do transe mediúnico no qual o praticante ficará em estado alterado de consciência para dar a devida passividade ao ser na qual fora convocado no processo magico para que o mesmo tome o controle momentâneo das ações do adepto.
A incorporação consciente é classificada quando o adepto está consciente de todo o processo e de todos os atos nesta operação magica, sendo assim, este consegue lembrar de tudo o que fora vivenciado na experiência, podendo até passar a mensagem de acordo com o seu próprio entendimento. O processo de incorporação semiconsciente é retratado quando o adepto consegue se lembrar de determinados momentos e atos do seu processo de incorporação, podendo ter o controle parcial dos órgãos sensoriais e vocais do corpo. Já a incorporação inconsciente possui o grau de transe mais intenso a ponto do adepto não se lembrar de nada, e não possuir controle, e nem ter a consciência sobre o seu corpo e seus atos durante o processo. tais processos envolvem parcialmente ou totalmente os chacras do corpo humano em conjuntura com o ser espiritual, por isso, devemos ter compatibilidade energética com o ser incorporado, a anatomia energética deve ser parecida com a nossa para haver incorporação, caso contrário o praticante poderá ter uma irradiação ou canalização.
A canalização como fora mencionada antes é o fenômeno espiritual, onde ocorre a utilização corpórea do médium por uma Divindade ou seres espirituais de vibrações mais elevadas ou até mesmo mais poderosas. A canalização também possui seus níveis, podendo também possuir maior profundidade ou menor. Neste último caso, o fenômeno seria mencionado como Psicofonia, onde o adepto possui total consciência sobre os órgãos vocais, onde será utilizado para a comunicação entre os reinos, os seres apenas acoplam-se no chacra laríngeo do médium. Já em níveis mais profundos de canalização, os seres se utilizam dos chacras superiores do praticante para o trabalho magico inerente, podendo assim possuir os níveis de semiconsciência ou de inconsciência. O temo canalização provem do inglês Channelling, e é o principal dom dos sacerdotes e iniciados para dar voz aos Deuses na terra. Neste caso o adepto amplia sua consciência para com as Divindades e seres canalizados.
Ao falarmos de tais dons devemos mencionar a existência da possessão, o termo é difundido em várias culturas e mencionada em vários momentos da história humana. A possessão é o dado momento em que um ser espiritual possui o corpo do médium e o subjuga contra sua vontade, controlando seus atos, ações, consciência, pensamentos e lembranças. Este é um acontecimento perigoso, podendo fazer com que a saúde do médium fique debilitada, podendo acontecer maiores danos para a saúde física, espiritual e mental do adepto, tais atos podem vampirizar e drenar a energia e força vital do médium. Por conta disso é deveras importante e sensato da parte do magista desenvolver suas proteções de forma mais adequada possível, se certificando que não acontecerá possessões, além de contar com a ajuda magica de pessoas devidamente treinada para tais atos mágicos, para que um exorcismo e banimento ocorra sem danos ou distúrbios com relação a mudança de comportamento ao médium.
A possessão possui suas referências mais antigas datadas pelos sumérios, estes acreditavam que as doenças do corpo e da mente seriam causadas por determinados espíritos chamados de Gidim, que seriam os responsáveis e causadores de tais sofrimentos. Os mesmos possuíam o corpo do ser vivo, lhe causando danos, até sua morte. Estes “espíritos da doença e da peste” deveriam ser expulsos através de rituais de banimentos, purificações e exorcismos por Sacerdotes e feiticeiros mencionados como Ashipu juntamente com uma espécie de medico ou curandeiro mencionado como Asu, que cuidava fisicamente do doente, enquanto o outro cuidava espiritualmente. Os Sumérios desenvolveram espécies de tabuas cuneiformes e estelas rituais contendo determinadas orações para um grupo especifico de Deuses, pedindo proteções e bênçãos para evitar a possessão, enquanto outras já foram realizadas com o intuito da retirada do ser do corpo do possuído.
O exorcismo nada mais é do que conjuntos de técnicas magicas de banimentos de espíritos do corpo de um médium que fora possuído. Tal termo vem referente ao grego exorkismos trazendo em seu significado a expressão de juramento. A mesma crença está livre de ser apenas validada pelo cristianismo, pois esta é apenas uma das mais diversas técnicas magicas de rituais de banimento.
Na antiguidade grega a crença e práticas com evocações (convocaçao para dentro), incorporação de espíritos e canalizações de divindades era completamente normal. No templo de Delfos, localizado nas encostas do monte Parnaso, no golfo de Corinto, na Grécia existiam as Pitonisias e os Pitons, estes eram os sacerdotes do oráculo, encarregados a canalizar os Deuses e trazerem suas mensagens para os seus devotos. No começo, o oráculo fora dedicado para Piton, depois fora sucumbido e reestabelecido para Gaia, para então Apolo o assumir e tomar estes como seus sacerdotes. Este mesmo oráculo fora importantíssimo para várias decisões políticas importantíssimas para a Polis Helênica nos séculos VII e VI a.C. Há registros onde os devotos poderiam conversar com as “sombras” ao invés dos Deuses através da incorporação de tais sacerdotes recebendo assim orientações das mais diversas. Este relato mostra-nos que o indivíduo conseguia interrogar tal espirito que estará incorporado. (Delane, 1937).
Através da evocação as Pitons se assentavam em seus trípodes, mascavam as folhas de Louro, sagradas há Apolo, inalavam vapores sulfurosos (enxofre) para adquirir seus “delírios Divinos” tendo o intercambio dos Sibilas que trabalhavam em conjunto anotando as palavras dos seres incorporados, ou canalizados em formas de verso. Os consulentes e sacerdotisas se banhavam-se nas águas sagradas da fonte Castália, logo em seguida bebiam nas águas da fonte de Cassótis e entrava no templo para assim darem início a consulta, e vários consulentes de territórios longínquos ou não as procuravam, bem semelhante ao que vemos hoje em muitas sendas de magia e espiritualidade. A arte do sacerdócio é dar a voz aos Deuses de formas distintas, e este é um dos diversos caminhos que os próprios nos podem trazer como ferramentas.
Mediante a ritualística, as Pitons evocavam a “sombra” para seus corpos, e assim a mesma começava a proferir profecias que era anotada por outros sacerdotes para haver uma melhor interpretação após a consulta, e na vida cotidiana do consulente. Após a liturgia e com o contato com os espíritos, o consulente e as sacerdotisas passavam por uma limpeza ritual com enxofre. As emanações dessas mesmas substâncias tinham como função desinfetar energeticamente as pessoas destruindo possíveis miasmas ou fluidos deixados pelos mortos.
Os oráculos eram núcleos de intercâmbio entre os Deuses, espíritos diversos e Daemons, existindo outros numerosos templos e grutas dedicados a diversos Deuses como seus oráculos.
Outro templo que servia de oraculo que é importantíssimo ressaltar é o Nekromanteion, um dos mais antigos templos dedicado há Hades, Perséfone e Hecate, senhores governantes do submundo e celebrados nos mistérios. Nos relatos constam que este estava localizado às margens do rio Acheron, em Épiro, perto da antiga cidade de Éfira, descoberto pelo arqueólogo Sotirios Dakaris descobriu tal monumento em 1958, ao noroeste da Grécia, nas montanhas de Épiro. Tal templo realizava praticas de necromancia, daí que surgiu o termo. Está sendo uma pratica magica que possui apenas o embasamento na comunicação com os mortos para víeis oracular, sendo que a palavra Necromanteion significa "Oráculo dos Mortos", sendo utilizado para se saber do passado, presente e futuro. Os adeptos deste templo possuíam em suas crenças que o mesmo era um local sagrado por estar inserido nos portões do submundo.
De acordo com as descrições feitas por Homero (Século 8 a.C) e Heródoto (Século 5 a.C), o local possuía inúmeros salões subterrâneos, onde eram praticadas as diversas cerimônias de necromancia. A ritualística envolvida era embasada na incorporação de espíritos e canalização dos Deuses pelos sacerdotes dos Deuses do submundo. Haviam purificações ritualísticas, seguidas por consumo de substancias psicoativas, feitas com cogumelos, seguidos por sacrifícios de ovelhas, em conjunto com oferendas de pão, vinho e frutas para se banquetear e então conversar com os mortos.
Muitos outros templos existiram na Grécia com tais finalidades, se destacando aos mais diversos Deuses, podemos citar aqui: o oráculo de Zeus em Dodona, o Templo de Poseidon em Taenaron, o oráculo de Anficléia, com o Deus Dioniso, o oráculo de Epidauro, com o Deus Asclépio, os oráculos sibilinos encubidos pelas Sacerdotisas mencionadas como Sibilas, realizaram suas profecias, bem como os de Argolis , Cumae e Herakleia em Pontos.
Além de tais práticas mencionadas na incorporação, os antigos Gregos e Romanos mantiveram um outro oráculo envolvendo a morte, chamados de Arúspices, neste acontecia o sacrifício sagrado e ritual para os Theois (Deuses) onde os sacerdotes realizavam a interpretação oracular através das vísceras de animal.
Pitonisas em um trabalho magico oracular - Imagem extraída do Pinterest
Crânios na Bruxaria
Livro: "Enciclopédia de Wicca e Bruxaria" Autor: Raven Grimassi
"O Crânio é um símbolo de sabedoria e conhecimento guardado. Nos mistérios internos dos ensinamentos o crânio é um símbolo da natureza interna despojada de sua origem através do processo de Iniciação nos grandes Mistérios do Ocultismo. Ele também é um símbolo da morte, seja a morte da carne ou a morte do ego/ de si mesmo. Esta é uma razão pela qual o crânio aparece nas cerimônias de iniciação na Antiga Religião. Aqui, ele é um lembrete de que a antiga personalidade estava morrendo para uma nova consciência.
O crânio, particularmente quando mostrado com os ossos cruzados, também é um símbolo do Deus em antigas religiões Pagãs. Os ossos cruzados abaixo do crânio são símbolos do Deus Sacrificado, e um sinal da ressurreição da morte. Na Bruxaria, o crânio algumas vezes é mostrado colocado na frente de um caldeirão. Nesta posição ele simboliza o renascimento através dos poderes da transformação associada com o caldeirão. Na Bruxaria Italiana o crânio também representa a culminação do conhecimento ancestral.
Na magia e no misticismo, o crânio é uma ligação para os espíritos dos mundos Sobrenaturais através de sua associação com a morte. Ele também é um receptáculo para a energia psíquica, e por esta razão normalmente é colocado próximo dos instrumentos de adivinhação como a bola de cristal e o espelho mágico. Uma vez que os magos se tornaram mais sofisticados, o simbolismo do crânio evoluiu na arte da frenologia. Esta arte foi popularizada no século XVIII pelo Dr. Franz Joseph Gall, que teorizou que as faculdades do cérebro poderiam ser determinadas a partir da forma do crânio."
O crânio é um dos instrumentos com associações mais antigas e conhecidas sob várias formas de pensamento e trabalho ocultos, embora na tradição da Arte não sej aobjeto tão comum, principalmente por, suspeito, estar ligado ao roubo e à profanação de sepulturas, satanismo, vodu, etc. Talvez o uso do crânio em rituais seja visto como algo demoníaco em conseqüência do pensamento cristão em relação a qualquer prática mágica contrária à palavra de Deus, bem como por estar ligado ao Demônio e ao lado obscuro da natureza humana.
Ao mesmo tempo, dentro da igreja cristã houve e ainda existe o reconhecimento de que os restos mortais pertencentes a determinadas pessoas_ os santos_ possuem certos poderes. Estes em geral envolvem cura, e, conseqüentemente, eram tratados como relíquias sagradas. Conservadas em tumbas magníficas, tornaram-se foco de peregrinações. Acredita-se que estas relíquias, quando acompanhadas de preces, formam, para os crentes, um elo com o espírito do santo na esperança de obter alguma graça sob a forma de milagre. Da mesma maneira, o crânio, nos rituais, agia como foco de moradia para um espírito. Havia somente esse tipo de contato em nível pessoal para o grupo ou coven e restrito somente àquele grupo.
No passado, várias culturas criaram alguma mitologia sobre crânio ou ossos como instrumentos de culto. Historicamente falando, no caso do pensamento europeu, essas idéias basicamente originam-se no culto celta às cabeças. Para os celtas, a cabeça era a fonte de poder espiritual e força de vida do homem. Com ela, o poder do homem morto era transferido para quem o tivesse matado e trabalharia a seu favor. Ao segurá-la, a coragem e a bravura do guerreiro morto poderiam ser invocadas para agir como defesa contra qualquer forma de perigo sobrenatural.
Ao decorar a casa, paliçada, estaca do portão ou os portais do templo com crânios ou cabeças cortadas tanto dos inimigos do clã como dos guerreiros da tribo,a mensagem era: esse local ou área está defendido pelas almas unidas desses guerreiros mortos. A crença de que existe uma relação entre a alma da pessoa morta e a cabeça fazia com que o crânio de um antigo sacerdote ou xamã servisse freqüentemente como foco no ritual de invocação da alma de um homem morto, habitante do outro mundo. Como na vida era reconhecida como moradia do poder espiritual da pessoa viva, na morte tornava-se a casa vazia do mesmo espírito. Por meio do ritual, aquele espírito podia ser chamado para aquele objeto reconhecível a fim de ajudar e proteger os membros vivos da família, grupo ou clã do morto.
Uma das coisas que achamos difícil compreender hoje em dia é que a morte não fosse barreira entre os mundos, como é agora. Com as palavras "descanse em paz", o que estamos querendo dizer ou pedir é que a alma da pessoa permaneça em seu mundo e não atravesse para o nosso, embora para os celtas os mundos físico e psíquico estivessem interligados nesse plano. Em vez da luz e das trevas, havia um reino obscuro através do qual determinadas pessoas podiam atravessar a separação entre o mundo dos vivos e o dos mortos, trazendo informação, enquanto os mortos podiam contatar os vivos com os mesmos objetivos em mente. Dessa forma, passado e futuro podiam ser trazidos para o presente. Ao reconhecer isto, considera-se possível para a alma atravessar do outro mundo para este, o material, sob a forma de guardião ou espírito profético.
Ao reconhecer a possibilidade de contato com o bem vindo do além, não podemos nos esquecer de que o mal possui o mesmo poder. Portanto, é necessária proteção sobrenatural contra o mal sobrenatural. O culto ao crânio deveria crescer para se equiparar às necessidades espirituais de qualquer época.
Acredito que tenhamos nos afastado desses conceitos e idéias, tendendo a considerá-las fantasia e superstição primitivas. Mas o fato de termos agido dessa maneira não significa que não haja verdade nisso tudo. Muitas pessoas acreditam na imortalidade da alma, embora, ao mesmo tempo, neguem a existência de fantasmas. A idéia de que um "fantasma" é o eco de acontecimentos passados constitui uma ds teorias atuais mais comentadas. Isto ignora o reconhecimento de que, se existe alma imortal dentro de uma pessoa, essa alma deve ter o poder de retornar a um determinado local de alguma forma importante para ela em existência passada.
Neste sentido, o crânio dentro do círculo é o reconhecimento desse fato. Além disso, os ritos e rituais ligados ao crânio não são, de forma alguma, tentativa de chamar os mortos por encantamentos ou para prender aquela alma ou espírito para servir ao grupo. Qualquer contato feito com o outro lado será na base de vontade e desejo mútuo de ambos os mundos, dentro do contexto das práticas e rituais da arte.
Quero dar outro aviso. O fato de haver determinada utilidade no crânio em determinados aspectos da prática da Arte não justifica a profanação em nome da fé. Os grupos podem e realizam rituais sem ele. Alguns nnunca sequer pensaram em ter um. Quanto a isso, se houver a possibilidade e o grupo desejar obter um crânio por meios legais de fornecimento a escolas de medicina, não há razão para não fazê-lo. Mas não podemos esquecer que um grupo que usa um crânio está aberto a todos os tipos de carga.
Um dos primeiros rituais é o de limpeza do crânio realizado com e em nome dos quatro elementos: terra, ar fogo e água. Por trás desse ato está o reconhecimento de que o crânio deve ser limpo de todas as suas ligações passadas. Num sentido oculto, o crânio não está sendo usado como meio de chamar de volta a alma que o habitou, mas como meio de atrair o fantasma de uma pessoa com ligaçoes com a feitiçaria. Nesse sentido, o crânio age como uma chave para o reconhecimento de que, por um lado, o grupo está trabalhando dentro da estrutura reconhecível de "O Crânio dentro dos ritos". Por outro, os membros do grupo estão se abrindo para um contato sobre o rio do esquecimento.
Com esse objetivo, a pergunta é exatamente o que está sendo contatado ou o que está vindo. Será uma pessoa que morreu há muito tempo e que espera o renascimento ou um aspecto do Deus Cornudo, se manifestando enquanto pessoa? Esta é mais uma pergunta sem resposta. Creio que, na maioria das vezes, se trata do fantasma, espírito ou alma de alguém que já morreu e pertenceu à Fé. Acredito nisto porque, nos casos em que soube que o crânio estava sendo usado, o contato gradualmente revelou um caminho individual reconhecível. Em um deles, o contato era feminino, com nome e vida passada claramente identificável. Em outro (e nesse somente repito o que me foi revelado), era masculino e grande apreciador de mulheres e de piadas sujas, embora em ambos os casos o contato tenha se tornado real com um grande fluxo de material inspirado para trabalhos desse tipo.
Para introdução do crânio no círculo, talvez a melhor idéia seja um trabalho interno. Pela natureza passiva do rito, e sendo necessária a introdução ao movimento real, as chaves principais são a paciência e a simplicidade. No lugar do fogo no centro do círculo, é colocado o crânio entre duas velas, com todos os presentes sentados à volta e virados para o centro. Aqui começa a paciência. Nesse caso, é somente esperar pela primeira leve sensação de contato mútuo. Gradualmente isso se fortalecerá e se delineará até uma forma reconhecível e estabelecimento do sexo.
Há uma troca de idéias entre os membros, como impressões sobre o que sentem quanto à identidade do contato que emana do crânio. No final, chega-se a um nome consensualmente aceito. O crânio, então, recebe formalmente o nome, e por meio disto é trazido para o coven ou para o grupo, como um dos membros invisíveis, parte da companhia oculta.
A partir do nome, a persona do contato tende a se fortalecer e a se desenvolver em contato reconhecível, com suas artimanhas e fraquezas particulares. Assim, quando houver uma taça de vinho consagrado em um dos encontros, a prática é colocar uma libação em sua homenagem e memória. Isto é feito porque ela também é parte do grupo de trabalho.
Cerca de três ou quaro meses antes da dissolução do meu grupo, houve uma sensação gradual de que o espírito de contato estava se desprendendo do grupo. No final, sentíamos que o nosso crânio estava "vazio", e que nosso contato se mantinha firme do outro lado.
Para alguns, tudo isso parecerá fantasioso e motivo de críticas. Para ser franca, também tive dúvidas quanto ao primeiro caso. O que fiz foi sentar e esperar. Após algum tempo, comecei a sentir que havia ali mais do que supunha. Havia uma resposta definida que vinha do crânio. Para minha surpresa, não era o tipo de resposta que eu esperava. Não havia um fluxo súbito de conhecimento esotérico do que poderíamos descrever como um líder do passado contatando os novos seguidores desse lado. Era muito mais sutil do que isso e difícil de ser compreendido.
Parecia ser o eco de uma vida passada, com outro eco de outra vida. Havia um sentido de perplexidade e do porquê ela sentia o chamado do grupo. Aos poucos, quando alguns aspectos de sua natureza se tornaram conhecidos, compreendemos que o seu fantasma ou espírito estava aprisionado nela. Ela não tinha sido, naquela vida, uma seguidora da Deusa, porém, subjacente àquela memória havia uma outra, e era aquela memória de vida passada que estava respondendo, por intermédio do último renascimento e memória, e respondendo ao nosso chamado.
Em algumas ocasiões, havia a sensação distinta de que ela não queria estar ali e da falta de compreensão do porquê estava. Em outras, sentíamos a sua vontade de estar e a compreensão do que buscávamos e estávamos tentando conseguir. Nesses encontros havia a sensação da ligação com o passado e da sua lembrança que se refletia na maneira de como toda a natureza dos rituais havia muddo. Pelo menos, dois ou três de nós, a cada encontro, outros dois ou três que sentiam. No fluxo e refluxo desse contato, cada um de nós voltou com melhor compreensão, que foi muito considerada antes de ser posta em prática."
Imagem extraída do Printerest
O Crânio dentro dos Rituais
Autores: EJJ e Doreen Valiente.
A principal função do "crânio dentro dos rituais" é a de servir como acesso aos trabalhos especiais. Por seu intermédio e vindo do outro lado surgem com frequência um clarão de iluminação e o conhecimento que, em um instante, impulsiona todo o grupo vários degraus à frente no caminho. Muitas vezes confirmam-se os objetivos e as ambições do grupo ou coven. Além disso, há novos pensamentos e idéias colocados nas mentes do grupo, que ampliam o caminho a ser trabalhado e também abrem outros. Nesse sentido, o contato espiritual se torna ou ganha atributos do sacerdote-rei orientador e líder que habita a tumba real.
Em outro aspecto, torna-se o crânio da profecia. No passado, quando era mais utilizado para isso, segurava-se o crânio com as mãos enquanto se fazia a pergunta. Se ele ficava mais leve, a resposta era "sim". Se ficasse mais pesado, a resposta era "não". Hoje, em vez de segurá-lo, coloca-se o crânio no centro do círculo de um ambiente obscurecido, dirigindo-se as perguntas ao espírito de contato. Todos os presentes colocam a mente num tipo de fluxo livre, até que as respostas comecem a chegar.
Para se rsincera, não estou muito convencida de que todas as respostas sejam enviadas pelo espírito. Pelo simples fato de várias mentes estarem buscando uma resposta por meio do contato externo, isto propicia que elas mesmas encontrem as respostas dentro delas. Qualquer que seja a origem, as respostas chegam com o tempo e, posteriormente, mostram que estavam corretas. Existe outra forma de tradição em relação ao crânio dentro da Arte, que chegou até nós por intermédio de ancestrais muito antigos, embora hoje seja utilizada muito raramente, se é que ainda o é. É o uso do crânio como totem, o símbolo animista do clã, que evoluiu gradualmente para outra forma de ritual. Por isso, e também como assunto de interesse histórico, devo descrevê-lo.
Desde os tempos pré-históricos, tem havido o reconhecimento do elo mágico entre o caçador e sua vítima. Foram encontrados vários exemplos desse elo, desde as famosas pinturas rupestres da máscara de veado, do Deus coberto de hera ou do mago na Caverne des Trois Frères, em Arège, até as pilhas ritualísticas de ossos de animais escondidas no fundo das cavernas. Crescendo nesse conceito de harmonia mágica entre caça e caçador, passando por determinados rituais mágicos, o passo seguinte seria o reconhecimeto gradual por parte do clã ou da tribo do animal envolvido: urso, bisão, veado ou qualquer outro. Entrelaçado com o conceito do ritual para uma caçada proveitosa veio o reconhecimento de que a fertilidade das espécies caçadas era de importância primordial. Se elas não procriassem, significaria a fome para a tribo.
O tempo trouxe mudanças. Não havia mais rituais realizados no fundo das cavernas, mas ao ar livre, dentro do círculo. Como parte do ritual, a agora familiar estaca das Bruxas era montada como porta de acesso ao círculo. No lugar da estaca em forquilha que conhecemos, havia um mastro reto com um crânio do animal totêmico fincado na extremidade. Embora a vida tenha mudado da sobrevivência que dependia das caçadas para as atividades agrícola e pastoril, no ciclo da natureza e na fertilidade dos campos, o culto ao Deus Cornudo e a Deusa Grávida ainda tem garantindo o seu lugar.
Nessa fé havia ainda o conceito do sacrifício animal como agradecimento aos deuses guardiãos dos rebanhos e manadas e, acima de tudo, à Deusa Mãe da terra. Na verdade, parte do animal sacrificado era consagrada aos deuses e queimada no fogo sagrado. O resto era cozido e comido depois pelo grupo. Era festa sagrada, partilhada pelos deuses e pelo povo. O que tinha sido praticado dentro das cavernas era realizado agora ao ar livre, com envolvimento maior do grupo ou clã nos rituais. Mesmo que as circunstâncias e o estilo de vida tenham mudado, o conceito de fertilidade permanece o mesmo. mudando apenas na aparência externa. Em vez de boa caçada, orava-se por boa colheita.
À medida que o conceito da Deusa e dos Deuses Antigos tomava forma mais humana, a natureza do sacrifício também mudava. ssim como a vida se tornava mais complexa e organizada, expandia-se a visão sobre os deuses. Em vez do sacrifício animal, surgia o conceito do mensageiro humano. Deuses e Deusa ganhando caráter mais humano podiam ser contatados por um ser humano, essa alma levando as preces e os pedidos da tribo. Desenvolvido paralelamente ao conceito de mensageiro dos deuses, e com o mesmo objetivo de força e bem-estar para a tribo, surgiu o sacrifício do Rei Divino, em que a força da tribo era fixada em uma pessoa não por direito de nascimento ou de herança, mas por seleção. Enquanto o rei fosse forte e vigoroso, assim seria a tribo. Sacrificado em seu apogeu, o rei tornava-se companheiro dos deuses pelo bem da tribo.
Posteriormente esse conceito foi modificado, e o sacrifício voltou mais uma vez a ser animal, com o que surgiu o conceito muito interessante de bode expiatório. O infeliz aniaml, portador de todos os males e pecados da comunidade, deveria levá-los diante dos deuses junto com a sua vida, como símbolo de expiação e pagamento para libertação_ uma vida substituindo a do rei.
Com esse conceito da possibilidade de transferir doenças e pecados para um animal a ser sacrificado e, ao mesmo tempo como lembrança do sacrifício do Rei Divino, o Mestre [Sumo Sacerdote/ Magister] detém os poderes de um líder, e deve pagar um preço por esses poderes.
Durante sete anos, pelas graças da Senhora [Suma Sacerdotisa/ Magistra], o Mestre lidera o coven. No final do sétimo ano, o preço dessa regra é transferido para o "Carneiro Real". A vida do carneiro é oferecida à Deusa, substituindo a do Mestre. As partes sagradas são oferecidas ao fogo sagrado, e as outras são utilizadas nas festas sagradas. A cabeça do carneiro sacrificado é queimada ao lado da "Ponte entre os Dois Mundos". Por essa razão, o avental algumas vezes usado pelo Mestre como parte doas seus paramentos, como no caso dos utilizados por outros membros, simboliza nada mais do que o avental do açougueiro.
Hoje em dia não há mais necessidade do sacrifício. Ele foi substituído pelo juramento do ofício feito e confirmado pela Senhora e pelos quatro oficiantes a cada sete anos. Entretanto, podemos ocasionalmente achar um grupo que marca a sua porta de entrada para o círculo com uma cabeça queimada de carneiro como lembrança do espírito-totem animista do clã. Da mesma maneira, a estaca ou mastro em forquilha é o símbolo do jovem Deus Cornudo das florestas e da caça, aquele que permanece entre o coven e a Mãe, a Deusa.
Imagem extraída do Printerest
O uso do carneiro na Bruxaria
Livro: O Significado da Bruxaria Autor: Gerald Gardner
Se houvesse o abate de animais durante esses festivais provavelmente serviam a propósitos mundanos, como alimentação, e as fogueiras serviram para cozinhar; porque nenhum encontro de bruxas era, ou é, uma comemoração completa sem alguma espécie de refeição festiva. Quando as pessoas vinham de longas distâncias para esse ponto de encontro, elas desejavam uma refeição substancial, e a carne e as bebidas faziam parte da atração do sabá das bruxas. A Igreja tentou dispersar essa atração perigosa divulgando a história de que a carne e a bebida das bruxas na verdade continham todos os tipos de substâncias horríveis e asquerosas a fim de fazer com que o sabá parecesse repulsivo, para que as pessoas não mais desejassem freqüentá-lo. Porém, a monstruosidade dessa história frustra o seu propósito; porque quem sairia de sua cama aconchegante, à noite, e percorreria longas distâncias pelo adorável prazer de comer imundícies e beijar o tergo de um bode? As pessoas comuns iam aos sabás das bruxas por uma razão natural e compreensível, porque elas viviam bons momentos ali.
Creio que seja importante ressaltar que, embora a maioria das ilustrações nos trabalhos dos oponentes à bruxaria pareçam, à primeira vista, ser trabalhos da fantasia e da imaginação, se não da loucura, ao analisar vários deles com uma bruxa, ambos percebemos que vários aspectos estavam corretos.
Na verdade, era como se o homem que tivesse feito o desenho tivesse estado presente e visto algo que ele não havia compreendido, ou possivelmente tivesse conversado com alguém que havia visto. (Obviamente ele devia ter estado presente nos julgamentos.)
Não posso falar sobre a maioria desses assuntos. Porém, devo mencionar isso. No princípio, eu ficava intrigado com o grande número dessas figuras que mostravam esqueletos de animais, com alguns fragmentos de carne ainda neles. Eles são geralmente retratados como se ainda estivessem vivos e se mexendo. Eu pensava que a intenção fosse simplesmente produzir um quadro horrível até o dia em que presenciei uma festa de bruxaria em um bosque; quando um carneiro inteiro foi "assado" em uma fogueira (e estava muito bom). Foi assado por inteiro, em um enorme espeto de ferro, e, quando pronto, a carne foi destrinchada. Foi uma visão estranha, com as chamas iluminando as árvores, e subitamente vi os contornos do carneiro através da fogueira, suas costelas descobertas, os ossos das quatro patas voltadas para baixo. A luz oscilante da fogueira e a fumaça davam a impressão de que ele se movia como se estivesse vivo, exatamente como mostravam os antigos "quadros de bruxaria", com exceção de que este não tinha cabeça, e é provável que nos tempos antigos eles o assavam sem tirar a cabeça.
Imagem extraída do Printerest
O Velho Simon
Livro: Enciclopédia da Bruxaria Autora: Doreen Valiente.
Quando o Sabá tem que acontecer em lugares fechados, o ritual é modificado conforme a necessidade. Então há geralmente um pequeno altar no centro do círculo. Esse altar deve ter fogo e água sobre ele, de alguma forma, e as bruxas de tradições mais antigas às vezes incluem um crânio e ossos cruzados, ou uma representação deles.
Esse é um símbolo da morte e da ressurreição e, portanto, da imortalidade. Ele é às vezes chamado de "Velho Simon".
Existe uma crença cristã muito curiosa e antiga de que enquanto restar um crânio e dois ossos das pernas de um homem, isso seria suficiente para assegurar-lhe um lugar na ressurreição geral do Último Dia. Essa crença pode muito bem ter sido originada do verdadeiro simbolismo do emblema do crânio e dos ossos cruzados. As fraternidades maçônicas também fazem uso do crânio e dos ossos cruzados em suas cerimônias, que descendem, se não na verdade derivaram, dos antigos cultos dos Mistérios.
Pessoas de fora podem considerar esse emblema algo terrível e cruel, principalmente quando visto sob a luz de velas em uma sala escura. Entretanto, os procedimentos na maioria dos Sabás de que participei eram alegres e espontâneos. Eles são responsáveis por algumas de minhas lembranças mais alegres.