A bruxaria é uma prática espiritual que tem suas raízes em culturas antigas, incluindo as culturas do Neolítico. O Neolítico é um período da história que se estende de cerca de 10.000 a.C. a cerca de 2.000 a.C., e é caracterizado pelo desenvolvimento da agricultura, da criação de animais e da domesticação.
Embora não haja registros escritos do período neolítico, os arqueólogos descobriram evidências de práticas espirituais que podem ser relacionadas à bruxaria em vários locais ao redor do mundo. Por exemplo, em Çatalhöyük, um sítio arqueológico na Turquia, foram encontrados altares decorados com imagens de animais e deusas, bem como esqueletos de animais enterrados em uma posição ritual.
Na Europa, a cultura do Neolítico também apresenta evidências de práticas espirituais relacionadas à bruxaria. Em Stonehenge, na Inglaterra, foram encontrados restos mortais e objetos rituais que indicam que o local era utilizado para fins espirituais. Além disso, foram encontrados diversos objetos de cerâmica e de pedra que apresentam imagens de deusas, animais e símbolos que podem estar relacionados à bruxaria. (Parker Pearson, 2013)
A prática da bruxaria no contexto do Neolítico era provavelmente uma forma de culto à natureza e aos ciclos da vida. Os povos neolíticos viviam em harmonia com a natureza e dependiam dela para sobreviver, por isso, era natural que eles desenvolvessem práticas espirituais que honrassem e respeitassem a natureza. (Hutton, 1999)
A mitologia é um elemento fundamental das culturas humanas desde tempos antigos, e o Neolítico não foi exceção. Durante esse período, que começou cerca de 10.000 anos atrás e se estendeu até cerca de 4.000 aC, as sociedades humanas começaram a se estabelecer em comunidades agrícolas e desenvolver crenças e práticas religiosas mais complexas.
A Mesopotâmia, uma região que se estende pelo atual Iraque, Kuwait e partes da Síria e Turquia, é considerada uma das primeiras civilizações da humanidade, tendo surgido cerca de 4000 a.C (Van De Mieroop, 2015). Como tal, a Mesopotâmia foi um importante centro de desenvolvimento cultural e religioso, e é possível encontrar evidências de práticas espirituais relacionadas à bruxaria na região. Os antigos mesopotâmios acreditavam em uma série de deuses e deusas, e muitas das práticas culturais da época envolviam rituais destinados a honrar e apaziguar esses seres divinos. Os rituais incluíam o uso de amuletos e talismãs, bem como a realização de ofertas e desejos.
Os mesopotâmios também acreditavam que algumas pessoas possuíam poderes especiais, como a capacidade de se comunicar com os deuses ou de realizar atos sobrenaturais. Essas pessoas eram chamadas de Asu e frequentemente consultadas para a realização de rituais e para curas espirituais (Maul, 2000). As mulheres desempenhavam um papel especial na prática espiritual. Por exemplo, a deusa Inana era frequentemente representada como uma figura poderosa, associada à fertilidade e à sexualidade. Mulheres que realizavam rituais em honra a Inana eram vistas como tendo uma conexão especial com a deusa e eram valorizadas como líderes espirituais (Leick, 2010).
Há referências à bruxaria Grega desde o Neolítico ate a antiguidade, incluindo os escritos de Homero, Hesíodo e Píndaro, e também em textos filosóficos de Platão e Aristóteles. Além disso, há evidências arqueológicas de objetos e amuletos que eram usados em práticas mágicas, encontrados em sítios arqueológicos em toda a Grécia. (Antonio Dabdab Trabulsi, 1992)
A palavra "Goeteias" vem do termo grego "goês", que significa "feiticeiro". As Goeteias eram um conjunto de práticas mágicas que eram frequentemente associadas a atividades nefastas, como a conjuração de espíritos malignos ou o uso de venenos. Embora muitos desses rituais fossem realizados por indivíduos que se autodenominavam "feiticeiros". As práticas de Goeteias eram amplamente conhecidas na Grécia antiga e eram frequentemente mencionadas em textos literários e filosóficos. Platão, por exemplo, menciona as práticas de Goeteias em seus diálogos, e o poeta grego Hesíodo descreve um feiticeiro em seu poema "Teogonia". Outros escritores antigos, como o historiador Heródoto, também falam sobre a existência de práticas mágicas na Grécia antiga. (ARTIGOS HESIODO E A EVOLUÇÃO RELIGIOSA NA GRÉCIA ANTIGA, n.d.)
Na Grécia antiga, as práticas mágicas envolvendo plantas eram conhecidas como "pharmaka". Essas práticas incluíam o uso de ervas para cura, venenos e encantamentos. A palavra "pharmaka" deriva do grego "pharmakon", que significa "remédio" ou "veneno". Na verdade, o mesmo termo era utilizado para se referir tanto a medicamentos quanto a venenos. Os gregos antigos acreditavam que as plantas possuíam propriedades mágicas e poderes divinos, e que as ervas poderiam ser usadas para se comunicar com os deuses e para alcançar uma variedade de objetivos mágicos. Essas práticas eram realizadas por homens e mulheres, especialmente por curandeiros e sacerdotes. (Madureira, n.d.-a)
Uma das mais famosas práticas de Pharmaka na Grécia antiga foi à utilização do ópio, que era considerado uma planta sagrada. O ópio era usado em cerimônias religiosas e rituais mágicos, além de ser utilizado como analgésico e sedativo. Os gregos acreditavam que o ópio era um presente divino e que era capaz de conferir poderes mágicos. Circe foi uma figura da mitologia grega, filha do deus do sol Hélio e da oceânide Perseis. Ela é conhecida principalmente por sua aparição na épica "Odisseia", de Homero. Na obra, Circe é descrita como uma poderosa Bruxa que vive em uma ilha isolada, onde transforma em animais os homens que lá chegam. (Madureira, n.d.-b)
Para os gregos antigos, os oráculos eram uma parte essencial de sua vida religiosa e política, e suas respostas eram levadas muito a sério. O Nekromanteion, também conhecido como o Oráculo dos Mortos, foi um templo na antiga Grécia dedicado a práticas de necromancia, onde os sacerdotes invocavam e incorporavam os espíritos dos mortos. Acredita-se que tenha sido construído no século VIII a.C., durante a era arcaica da Grécia antiga, e funcionou até o século II d.C., quando foi destruído pelos Romanos. Nos relatos constam que este estava localizado às margens do rio Acheron, em Épiro, perto da antiga cidade de Éfira, descoberto pelo arqueólogo Sotirios Dakaris descobriu tal monumento em 1958, ao noroeste da Grécia, nas montanhas de Épiro.(Barros Madureira & de Souza Lessa, n.d.)
A Necromancia, a Nekyia e o Catabasis são conceitos que têm origem na mitologia e na religião da Grécia Antiga. Embora sejam distintos, esses três conceitos estão relacionados com a idéia de comunicação com os mortos ou com o mundo dos mortos. (Margarida Arruda & Da Conceição Lopes, 2012)
A necromancia é uma forma de adivinhação que consiste em invocar os espíritos dos mortos para obter informações ou orientação. Essa prática era comum na Grécia Antiga e em outras culturas antigas, como a egípcia e a mesopotâmica. Na Grécia, a necromancia era geralmente realizada em locais sagrados, como cavernas, templos ou cemitérios, onde o contato com o mundo dos mortos era mais fácil. (Jfurlani,+131-146 (1), n.d.)
A nekyia é um ritual funerário realizado na Grécia Antiga para honrar os mortos e estabelecer uma comunicação com eles. Esse ritual era geralmente realizado no terceiro dia após a morte, quando a alma do falecido ainda estaria presente no mundo dos vivos. A nekyia envolvia a oferta de comida e bebida aos mortos, bem como a recitação de poemas e hinos em sua honra. (Dialnet-MemoriasEmTornoDeApolonioDeTiana-6571285, n.d.)
A catabasis, por sua vez, é uma jornada ao mundo dos mortos realizada por heróis e deuses na mitologia grega. Essa jornada pode ser física ou simbólica e geralmente é realizada com um propósito específico, como resgatar uma alma do mundo dos mortos ou obter conhecimento e sabedoria. Um exemplo famoso de catabasis é o mito de Orfeu, que desce ao mundo dos mortos para tentar resgatar sua amada Eurídice. (São Paulo 2005 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA, n.d.-a)
Acredita-se que o Oráculo de Vísceras tenha se originado na Ásia Menor, mas tenha sido introduzido na Grécia por volta do século VIII a.C. Ele se tornou uma prática comum em toda a Grécia Antiga, sendo usado para fins religiosos, políticos e militares. (São Paulo 2005 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA, n.d.-b)
O estudo acadêmico do contexto histórico da Bruxaria na Idade dos Metais também nos ajuda a compreender as visões e os valores da época em que essas práticas espirituais eram comuns. Podemos analisar como as pessoas viam o mundo e a natureza, quais eram suas crenças sobre a vida após a morte, como se relacionavam com os olhares, entre outros aspectos.
Os celtas, por exemplo, eram conhecidos por sua espiritualidade complexa e rica em símbolos. Eles acreditavam em deuses e deusas associados a várias forças da natureza e celebravam rituais em honra a essas entidades. Como as mulheres celtas tinham um papel importante na sociedade e na espiritualidade, e muitas delas eram sacerdotisas ou líderes espirituais em suas comunidades.
Os celtas também acreditavam que as plantas podiam ser usadas para invocar espíritos e ajudar a comunicação com o mundo espiritual. Por exemplo, era comum que usassem a hera em rituais para invocar o espírito feminino da terra, enquanto que a verbena era usada para invocar o espírito masculino do céu. Ogham é um antigo alfabeto usado na escrita da língua irlandesa e outras línguas celtas, como o galês e o escocês gaélico, também fora utilizado como oráculo. Ogham foi usado principalmente entre os séculos V e VI, mas existem evidências de que ele pode ter sido usado desde a cultura de La Tène desde a idade do ferro.
Os celtas acreditavam que a barreira entre os mundos dos vivos e dos mortos era mais fina durante certos momentos do ano, como no Samhain, que era um festival celta celebrado no final de outubro. Nessa ocasião, os celtas acreditavam que os espíritos dos mortos retornavam ao mundo dos vivos, e realizavam cerimônias e rituais para honrar e agradar esses espíritos.
Já os povos Nórdicos também praticavam formas de religião e espiritualidade que envolviam a Bruxaria e a honra aos deuses, a natureza e aos contemplativos. Eles acreditavam em uma série de espíritos e entidades sobrenaturais, incluindo as Bruxas Völvas, estas eram mulheres divinas associadas à guerra, à morte e a vidência. Seiðr é uma prática espiritual nórdica que envolve a magia, adivinhação e comunicação com os espíritos. Esta prática era realizada principalmente por mulheres conhecidas como Völvas, que eram consideradas sábias e poderosas, mas não impedia os homens de realizar tais práticas. O Seiðr era geralmente realizado em rituais privados ou durante celebrações sazonais, como o solstício de inverno. As Völvas praticavam Seiðr e se utilizavam de técnicas como cantos, batidas de tambor, danças e transes para se conectar com os espíritos e obter informações. (Davidson, H. R. E.,1990)
Alguns historiadores acreditam que as bruxas da Idade Média podem ter sido influenciadas pelas tradições espirituais dos alemães das Völvas, inclusive os espíritos familiares mencionados na Bruxaria da idade média eram provenientes das tradições nórdicas e celtas. A forma dos familiares ligadas com animais pode muito provavelmente ter vindo dosfylgjur uma categoria de espíritos (vættir), já a forma de diabretes vem da mitologia celta, interligada aos Imps e o mundo das fadas, Feérico. (Price, N., 2002)
"Fylgjur" é um termo da mitologia nórdica que se refere a um tipo de ser sobrenatural ou espírito que se diz acompanhar uma pessoa ao longo de sua vida, muitas vezes tomando a forma de um animal ou criatura. As fylgjur são tipicamente invisíveis para a maioria das pessoas, mas podem ser percebidas por aqueles com certas habilidades ou poderes espirituais.
De acordo com a mitologia nórdica, cada pessoa tem sua própria fylgja, que se acredita estar intimamente ligada ao seu destino e destino. A fylgja é dita estar com uma pessoa desde o nascimento até a morte e é considerada uma espécie de guardião ou protetor. Em algumas tradições, a fylgja também está associada ao conceito de "fetch", que é um duplo ou doppelganger sobrenatural que pode ser visto por outras pessoas. O fetch é dito representar o destino ou destino de uma pessoa e pode aparecer em momentos de perigo ou crise como um aviso ou presságio. (Davidson, H. R. E.,1990)
As Dísir são entidades femininas da mitologia nórdica, que são frequentemente associadas à fertilidade, proteção e fortuna. O termo "Dísir" significa "deusas" ou "mulheres divinas" em nórdico antigo, e pode se referir a uma ampla variedade de entidades femininas, desde espíritos ancestrais até deusas veneradas em cultos específicos. De acordo com a mitologia nórdica, as Dísir são espíritos que podem assumir diversas formas e aparecer em diferentes momentos da vida das pessoas, geralmente para oferecer ajuda, proteção ou orientação. Elas são frequentemente associadas à proteção do clã ou da família, e são muitas vezes invocadas em rituais e cerimônias especiais. (Price, N., 2002)
As Dísir também são associadas à fertilidade e à sexualidade, e são frequentemente veneradas em rituais de fertilidade ou de amor. Elas podem ser invocadas para ajudar em questões relacionadas à concepção, gravidez ou parto, ou para garantir a fertilidade das colheitas ou do gado. Além disso, as Dísir são muitas vezes associadas à fortuna e à prosperidade, e são consideradas como fontes de boa sorte e proteção. Elas podem ser invocadas em rituais para proteger contra doenças, desastres naturais, ou outros perigos, ou para garantir o sucesso em empreendimentos comerciais ou outras atividades.
A Bruxaria na Idade antiga também se desenvolveu em torno dos povos Etruscos que foram uma civilização antiga que se desenvolveu na região central da Itália, durante o período de 900 a.C. até a sua conquista pelos romanos em 264 a.C. A bruxaria era uma prática comum entre os Etruscos, que acreditavam que as divindades e os espíritos estavam presentes em todas as coisas e que era possível se comunicar com eles através de rituais e cerimônias.
Os Etruscos acreditavam que a bruxaria poderia ser usada para prever o futuro, curar doenças e proteger as pessoas de males espirituais. Os bruxos e bruxas eram altamente respeitados na sociedade Etrusca e muitas vezes eram contratados para realizar rituais e cerimônias importantes, como casamentos e funerais. Os Etruscos também tinham uma classe de sacerdotes conhecidos como Haruspices, que praticavam a adivinhação através da análise das entranhas de animais sacrificados. Eles acreditavam que a posição dos órgãos internos de um animal sacrificado poderia revelar informações sobre o futuro. (Davies, O., 2009)
Os Etruscos deixaram muitas evidências de sua prática de bruxaria, incluindo inscrições em pedra e cerâmica, bem como pinturas em tumbas e outros locais sagrados. Alguns desses registros mostram figuras humanas realizando cerimônias em honra às divindades, enquanto outros retratam animais como cães, lobos e corujas, que eram considerados animais sagrados pelos Etruscos. Após a conquista pelos romanos, a prática da bruxaria Etrusca diminuiu, mas muitos de seus elementos foram incorporados à religião e cultura romanas. A tradição dos haruspices, por exemplo, foi adotada pelos romanos e continuou a ser praticada até o final do Império Romano. (Graf, F., 1997)
Na Roma antiga, a bruxaria era vista como uma prática suspeita e considerada um crime punível com a morte. A prática da bruxaria na Roma antiga era frequentemente associada a superstições e rituais religiosos não autorizados. As pessoas acusadas de bruxaria eram frequentemente vistas como ameaças à segurança pública e à estabilidade social. (Davies, O., 2009)
Existem vários exemplos na história de Roma em que a bruxaria foi criminalizada e punida severamente. Por exemplo, em 186 a.C., um grupo de mulheres foi acusado de realizar rituais mágicos na cidade de Roma, o que levou a uma investigação e à prisão de várias delas. Em 139 a.C., o senado romano emitiu um decreto ordenando que todas as práticas religiosas não autorizadas fossem proibidas. Além disso, muitos dos escritos romanos antigos, incluindo os livros de Plínio, o Velho, e de Apuleio, tratam da bruxaria como uma prática maligna e perigosa. Plínio, o Velho, em sua obra "História Natural", descreveu a bruxaria como uma prática que poderia causar danos à saúde, alegando que as bruxas podiam enfeitiçar os homens e torná-los impotentes. (Frazer, J. G. 1922)
Diana também era uma das divindades protetoras da cidade de Roma, e seu templo era um dos mais importantes da cidade. O templo de Diana em Roma foi construído no século VI a.C. e ficava localizado no monte Aventino. Com a cristianização do Império Romano, o culto à Diana foi gradualmente abandonado, mas sua figura continuou a inspirar artistas e escritores ao longo dos séculos. Até hoje, ela é lembrada como uma das mais importantes divindades da mitologia romana e seu nome é associado à natureza, à fertilidade e à proteção feminina.
Rex Nemorensis é um título dado aos Bruxos e sacerdotes masculinos da deusa Diana em Arícia, cidade localizada a cerca de 30 km de Roma, na Itália. O culto de Diana em Arícia é muito antigo e remonta ao período pré-romano. A bruxaria era uma prática comum entre os seguidores da deusa Diana no Lago de Nemi, um de seus locais sagrados. Os sacerdotes e sacerdotisas da deusa eram considerados bruxos e bruxas altamente respeitados e realizavam cerimônias e rituais para honrar Diana. O Lago de Nemi é um pequeno lago vulcânico localizado a cerca de 30 km a sudeste de Roma, na região de Lácio, na Itália. Durante a época romana, o lago era considerado sagrado e associado à deusa Diana. (Graf, F., 1997)
Durante as cerimônias, os sacerdotes e sacerdotisas vestiam túnicas brancas, ou ficavam nús de forma sagrada e ritual, portavam tochas e ramos de louro. Eles dançavam e cantavam em volta do lago, dos altares, fogueiras e banquetes sagrados e realizavam sacrifícios de animais para honrar a deusa, para “puxar a energia da Lua para baixo”, para que eles pudessem em transe absolver a magia propiciada pela lua e trazer a deusa Diana e seu consorte Dianus de Nemi, em terra através de canalizações sacerdotais. A prática da bruxaria no Lago de Nemi continuou durante a época romana e era frequentemente associada a rituais religiosos, bem como a competições violentas pelo título de "rei do bosque". A tradição foi finalmente interrompida no século I d.C., pelo imperador romano Calígula. A prática da bruxaria no Lago de Nemi não foi completamente extinta, mas perdeu grande parte de sua repercussão. (Beard, M. 2016)
Dianus de Nemi, ou Dianus Luciferus é um deus associado ao santuário do Lago de Nemi, na região da Campânia, na Itália. Também conhecido como Rex Nemorensis, ele era um deus da natureza e da fertilidade, muitas vezes representado com chifres de cervo. Segundo a mitologia romana, Dianus era o protetor da floresta sagrada de Nemi e do santuário que ficava em suas margens. Dizia-se que o sacerdote do templo deveria ser um homem e que, para se tornar sacerdote, era necessário matar o antigo sacerdote em um duelo. (Buckland, R., 2002)
O culto de Dianus em Nemi era conhecido por sua ligação com práticas mágicas e de cura, além de ser um local de peregrinação para pessoas em busca de cura espiritual e física. O deus também era associado à caça e à proteção dos animais selvagens, mais tarde sua figura animalesca e seu nome dariam a interpretação do Diabo na inquisição. Embora pouco se saiba sobre o culto de Dianus antes da chegada dos romanos, acredita-se que o santuário tenha sido utilizado desde o Neolítico e tenha sido um importante centro religioso na região, podendo ter sido intimamente relacionado com aos antigos mistérios do deus Etrusco Tagni. O culto de Dianus continuou a ser praticado até a chegada do cristianismo, quando o santuário foi destruído e abandonado e o deus fora posto como o Diabo. (Calame, C. 2009)
A bruxaria é um tema complexo e multifacetado que atravessou muitos períodos históricos. Entre os anos de 476 d.C. e 1453 d.C., vários eventos históricos tiveram impacto na prática da bruxaria na Europa, incluindo a queda do Império Romano do Ocidente, o estabelecimento do cristianismo como religião dominante, a expansão do Islã e as Cruzadas. (Buckland, R., 2002)
Durante esse período, a bruxaria era frequentemente associada a práticas pagãs e considerada uma ameaça à religião cristã. O poder da Igreja Católica na Europa cresceu à medida que a fé cristã se espalhou e os esforços para suprimir a bruxaria aumentaram. Um dos períodos mais sombrios da história da bruxaria ocorreu durante o final da Idade Média e o início da Renascença, entre os séculos XV e XVI. A Inquisição foi estabelecida em 1231 pela Igreja Católica para combater a heresia, mas também começou a perseguir aqueles suspeitos de praticar a bruxaria. A caça às bruxas atingiu o auge no século XVI, com muitas mulheres sendo acusadas de bruxaria e executadas, muitas vezes após serem torturadas para confessar. Essas execuções foram realizadas por toda a Europa, incluindo países como Inglaterra, França, Escócia e Alemanha. (Kieckhefer, R., 2000)
A Inquisição foi uma instituição da Igreja Católica que teve um papel importante na história da Europa entre os séculos XII e XIX. Seu principal objetivo era combater a heresia e proteger a ortodoxia da fé cristã. A primeira Inquisição foi estabelecida em 1184 pelo Papa Lúcio III, mas foi somente em 1231 que a Inquisição foi oficialmente criada como uma instituição permanente da Igreja Católica. A Inquisição começou como uma resposta à disseminação de seitas consideradas heréticas, como os Cátaros no sul da França, e a partir do século XIII passou a atuar em toda a Europa. (Russell, J. B., 2007)
O período mais famoso da Inquisição foi o século XVI, quando a caça às bruxas atingiu seu auge. A Inquisição foi especialmente ativa na Espanha, onde a Inquisição Espanhola foi criada em 1478 pelos Reis Católicos. A Inquisição Espanhola perseguia principalmente judeus e muçulmanos convertidos ao cristianismo, conhecidos como "conversos", suspeitos de continuarem a praticar sua antiga religião em segredo. Além disso, a Inquisição Espanhola também perseguiu os protestantes, especialmente os Huguenotes, que se refugiavam na Espanha para escapar da perseguição em seus países. (Kieckhefer, R., 2000)
A Inquisição teve um papel importante na manutenção da ortodoxia católica durante a Idade Média e a Renascença, mas também foi responsável pela perseguição e execução de muitas pessoas inocentes, que muitas vezes eram acusadas falsamente de heresia ou bruxaria. As vítimas da Inquisição incluíam judeus, muçulmanos, protestantes e outras pessoas consideradas suspeitas de práticas heréticas. No século XVIII, a Inquisição começou a perder poder, principalmente com a chegada da Ilustração e o surgimento do liberalismo. A Inquisição Espanhola foi oficialmente abolida em 1834 e a Inquisição Romana foi extinta em 1860, com a criação do Reino da Itália. (Monter, E. W., 2003)
A Inquisição foi uma instituição da Igreja Católica que teve um papel importante na história da Europa entre os séculos XII e XIX. Sua principal função era combater a heresia e proteger a ortodoxia da fé cristã. A Inquisição foi especialmente ativa no século XVI, durante a caça às bruxas, e perseguiu principalmente judeus, muçulmanos e protestantes considerados suspeitos de práticas heréticas. A Inquisição começou a perder poder no século XVIII, com a chegada da Ilustração e o surgimento do liberalismo, e foi oficialmente abolida na Espanha em 1834 e na Itália em 1860. (Russell, J. B., 2007)
Uma notória figura histórica importante da Espanha medieval fora Maria de Padilla como a amante e mais tarde esposa morganática do rei Pedro I de Castela, também conhecido como Pedro, o Cruel. Acredita-se que Maria tenha praticado bruxaria, o que a tornou uma figura ainda mais intrigante e misteriosa na história da monarquia espanhola. Maria de Padilla nasceu em uma família nobre em Toledo, na Espanha, em torno de 1334. Ela se tornou amante de Pedro I de Castela em meados da década de 1350, quando ele ainda era príncipe. Pedro era conhecido por sua vida amorosa tumultuada, mas Maria se tornou a única amante que ele tomou como esposa morganática, embora isso tenha sido uma união informal que nunca foi reconhecida oficialmente pela Igreja Católica. (Fernando Liguori, 2019)
Maria desempenhou um papel significativo na vida do rei Pedro I de Castela, e é dito que ela foi uma influência benéfica para ele. Ela foi descrita como sendo bonita e inteligente, e sua presença supostamente acalmava o comportamento impulsivo e cruel de Pedro. No entanto, ela também é dita ter praticado bruxaria, que era um crime grave naquela época. Embora não haja evidências concretas que comprovem as atividades de bruxaria de Maria de Padilla, o fato de que ela era acusada disso não é surpreendente. Durante a Idade Média, a bruxaria era comumente associada às mulheres, especialmente aquelas que exerciam algum tipo de poder ou influência. Mulheres como Maria, que eram amantes ou esposas de homens poderosos, eram frequentemente vistas com desconfiança e suspeita.
Durante a idade moderna entre o período de 1453 d.C há 1789 d.C, acreditava-se que as bruxas possuíam habilidades sobrenaturais e poderes mágicos. A crença em bruxaria era difundida em toda a Europa e, em muitos lugares, foi considerada uma ameaça à Igreja Católica e às autoridades civis. Na Europa, havia uma forte associação entre a bruxaria e o diabo, e as bruxas eram frequentemente consideradas adoradoras do diabo, foi então a partir daí que o Deus das bruxas seria adorado como o Diabo. A Inquisição, uma instituição da Igreja Católica, foi estabelecida para investigar e punir aqueles que fossem considerados hereges e bruxos. Milhares de pessoas foram executadas durante este período, muitas vezes por acusações falsas. (Henningsen, G., & Peters, E. et al, 2013)
Os julgamentos de bruxas eram realizados em tribunais eclesiásticos e civis, e as acusações geralmente se baseavam em evidências circunstanciais, confissões obtidas sob tortura e testemunhos de supostas vítimas de bruxaria. As punições para aqueles considerados culpados incluíam a morte na fogueira, afogamento ou enforcamento. Um relato famoso é o julgamento das bruxas de Zugarramurdi, na Espanha, em 1610, que resultou na condenação e execução de dezenas de mulheres acusadas de participar de rituais pagãos. A crença na bruxaria começou a declinar no final do século XVII, à medida que a ciência e a razão se tornaram mais prevalentes na Europa. As leis contra a bruxaria foram revogadas em muitos países, e a caça às bruxas “acabou por completo” na Europa, sabemos que na Índia e África a inquisição acontece ate os dias atuais por meio de condenações populares, e que nas Américas a inquisição acabou mais tarde. (Ankarloo, B., & Clark, S. et al, 2002)
Durante este período, a Itália também foi afetada pela crença na bruxaria, em um grau elevado assim como em outros países europeus. A Inquisição na Itália era uma instituição poderosa e cruel, que investigava e perseguia hereges e bruxas. As acusações de bruxaria na Itália muitas vezes envolviam a prática de magia negra ou a adoração do Diabo. As pessoas acusadas de bruxaria eram frequentemente submetidas a julgamentos injustos e tortura para obter confissões. A punição para aqueles considerados culpados incluía a morte na fogueira, prisão perpétua ou confisco de bens. Justamente por causa deste período histórico e pela busca pela sobrevivência as Bruxas Italianas, Stregas, adaptaram, mesclaram e sincretizaram seus cultos e tradições com a do Cristianismo popular, e tais praticas se mantém ate os dias atuais como forma de Meso paganismo. Durante o período da Renascença na Itália, houve um ressurgimento do interesse pela magia e pelo ocultismo, e alguns escritores italianos da época, como Giordano Bruno e Marsilio Ficino, foram acusados de heresia por suas crenças não convencionais. (Henningsen, G., & Peters, E. et al, 2013)
O "Martelo das Feiticeiras" é um livro que foi escrito no final do século XV, durante a caça às bruxas na Europa. Também conhecido como "Malleus Maleficarum" em latim, o livro foi escrito pelo clérigo Heinrich Kramer e pelo teólogo James Sprenger, e foi usado como um guia para identificar, julgar e punir as bruxas. O livro foi escrito em 1486 e teve grande impacto na perseguição às bruxas na Europa durante os séculos XV e XVI. A primeira edição foi publicada em Speyer, na Alemanha, e rapidamente se espalhou por toda a Europa. A partir daí, o livro se tornou uma referência para a Inquisição, que usou suas diretrizes para julgar e condenar supostas bruxas. (Levack, B. P., 2016)
O "Martelo das Feiticeiras" descreve em detalhes as práticas das bruxas, seus pactos com o diabo, suas crenças e rituais. O livro também ensinava como identificar as bruxas, como interrogá-las e como obter confissões. Muitas das práticas descritas no livro eram baseadas em superstições e lendas populares, como a idéia de que as bruxas podiam voar em vassouras, ou que tinham um pacto com o diabo. O livro foi amplamente utilizado pelos tribunais da Inquisição, e muitas mulheres foram condenadas e executadas com base nas acusações descritas no livro. O "Martelo das Feiticeiras" foi tão influente que, mesmo após o final da caça às bruxas no século XVII, ainda era usado como um manual de referência para julgar as bruxas. Hoje em dia, o "Martelo das Feiticeiras" é visto como um exemplo de intolerância religiosa e um dos símbolos da perseguição às mulheres acusadas de bruxaria. O livro foi amplamente criticado por suas alegações absurdas e desumanas, e é visto como um exemplo de como as crenças religiosas podem ser usadas para justificar a perseguição e a violência contra as minorias. (Levack, B. P., 2016)
No final do século XVII, a crença na bruxaria começou a declinar na Itália, assim como em outros lugares da Europa, permanecendo no ceio de algumas famílias, no folclore e nas localidades rurais, sendo assim, por todo este contexto de sobrevivência causado pela alienação incitada pela instituição católica a cerca da Bruxaria que foi construído o imaginário da bruxa como um ser Diabólico, hoje em dia os praticantes a chamam de “Bruxaria Tradicional”, adotaram o culto ao Diabo das bruxas, como um ato de puro sincretismo, ou comodismo fantasioso causado pelo imaginário popular, ou como forma bélica de empoderamento mágico de oposição aos atos causados pelo cristianismo. (Ankarloo, B., & Clark, S. et al, 2002)
Ainda assim, a caça às bruxas continuou em algumas áreas rurais e isoladas da Itália até o século XVIII. Foi somente com o advento do iluminismo e da racionalidade que a perseguição de bruxas “finalmente acabou”, pois ainda nesta época podemos ver o evento histórico ocorrido com as "Bruxas de Salém" referindo-se a um período sombrio da história dos Estados Unidos em que várias pessoas foram acusadas de bruxaria e executadas na cidade de Salém, Massachusetts, em 1692. O evento tornou-se um exemplo clássico de histeria coletiva e intolerância religiosa. (Henningsen, G., & Peters, E. et al, 2013)
Tudo começou quando várias jovens da cidade começaram a ter comportamentos estranhos, como convulsões, gritos e comportamento agitado. As jovens alegaram que estavam sendo possuídas por bruxas e começaram a apontar o dedo para outras pessoas da cidade como sendo bruxas também. As acusações rapidamente se espalharam pela cidade, e logo havia dezenas de pessoas presas e acusadas de bruxaria. Muitos dos acusados eram mulheres solteiras ou viúvas, muitas vezes vistas como suspeitas pela comunidade puritana de Salém. Os julgamentos eram realizados em tribunais improvisados e não havia uma defesa adequada para os acusados. A maioria dos julgamentos se baseava em evidências circunstanciais ou em confissões obtidas sob tortura. No total, 20 pessoas foram executadas por bruxaria, incluindo mulheres, homens e até crianças. A execução era geralmente por enforcamento ou por serem pressionados sob pedras. Outras pessoas morreram na prisão enquanto aguardavam julgamento. O clima de medo e suspeita em Salém continuou por vários meses, mas eventualmente a histeria começou a diminuir. À medida que mais pessoas começaram a questionar a justiça das execuções, o governador de Massachusetts acabou dissolvendo o tribunal de julgamento em 1693. (Boyer, P., & Nissenbaum, S., 1974)
Os eventos em Salém foram amplamente condenados após o fim da histeria, e muitas pessoas pediram desculpas pelos julgamentos e execuções. No século seguinte, a cidade de Salém se tornou conhecida por esses eventos trágicos, e muitos visitantes ainda vão ate os dias de hoje a Salém para aprender mais sobre as "Bruxas de Salém". Atualmente, muitos historiadores acreditam que a histeria em Salém foi causada por uma combinação de tensões sociais, políticas e religiosas. A sociedade puritana de Salém era altamente religiosa e vivia com o medo constante do diabo e de outras forças do mal. A tensão social e econômica, incluindo disputas de terras e rivalidades entre famílias, também pode ter contribuído para a histeria coletiva. As Bruxas de Salém foram um exemplo trágico de intolerância religiosa e histeria coletiva que resultou na morte de 20 pessoas inocentes. O episódio continua a ser estudado e discutido como um dos eventos mais sombrios da história americana. (Karlsen, C., 1989)
Durante o período do Brasil colonial, a presença e prática da bruxaria revelam-se como um aspecto significativo e enraizado nos conhecimentos populares de cura e proteção transmitidos pelos povos nativos e africanos. Essa manifestação tem suas origens situadas no final do século XVI, quando as práticas de adivinhação e cura começaram a ser associadas aos escravos africanos trazidos ao país. Conforme documentado nas Visitações da Bahia, um escravo guiné chamado André Buçal já exercia adivinhações por meio do uso de panelas e fervedouros por volta de 1587 de acordo com Fernando Liguori, 2019. Essa forma de adivinhação, caracterizada pelo uso de panelas e outros recipientes contendo água ou substâncias diversas, permitia a realização de previsões e o estabelecimento de contato com o mundo espiritual. À medida que o tempo avançava, as referências à prática da feitiçaria na região tornavam-se mais frequentes. Um exemplo destacado é a figura de Maria Barbosa, protegida do governador da Bahia, D. Diogo de Menezes, que operava em conluio com o indivíduo conhecido como negro Cucana. Este último, por volta de 1610, produzia pós utilizando aparas de certas raízes (Ferreira, 2004).
O interesse pelos saberes dos negros feiticeiros cresceu rapidamente, e em 1616, homens brancos já recorriam a eles em busca de cura para seus familiares ou escravos. Essa relação, no entanto, não era isenta de conflitos. Os brancos temiam a influência dos negros e a possibilidade de subversão de ordem social que suas práticas poderiam representar. Durante o século XVIII, a Inquisição Portuguesa também teve papel importante na repressão à feitiçaria no Brasil, que era vista como uma prática pagã e contrária aos valores cristãos. Os acusados eram julgados e punidos com prisão, tortura e, em alguns casos, a morte. No entanto, a feitiçaria resistiu e continuou a ser praticada em segredo, especialmente entre os negros, as Bruxas Ibéricas que eram deportadas para o Brasil e as populações indígenas.
A crença em bruxaria diminuiu significativamente no final do século XVIII durante a idade contemporânea, com o Iluminismo e a Revolução Francesa, que questionaram a autoridade da Igreja Católica e seu papel na repressão da bruxaria. No entanto, ainda há registros de casos de acusações de bruxaria em todo o mundo até os dias atuais. Por outro lado após século XIX, com a abolição da escravatura e das leis inquisitórias, a Bruxaria começou a ter reavivamento pelo mundo. (Yale University Press, 2018)
Gerald Gardner (1884-1964) foi um autor britânico e um dos fundadores da Wicca contemporânea. Ele foi uma figura chave no renascimento da bruxaria na Inglaterra durante o século XX. Gardner nasceu em Blundellsands, Lancashire, Inglaterra, e passou grande parte de sua vida viajando pelo mundo. Ele era um antropólogo amador e estudioso das religiões antigas, e foi durante suas viagens que ele descobriu a bruxaria moderna na Europa. Em 1951, Gardner publicou um livro chamado "Witchcraft Today" (Bruxaria Hoje), que lançou as bases para a Wicca contemporânea. O livro incluía relatos de seus próprios encontros com bruxas modernas, bem como informações sobre a bruxaria histórica e suas práticas. Ele também apresentou o conceito da "Grande Deusa" e do "Grande Deus", uma dualidade que se tornou fundamental para a Wicca. (Sussex Academic Press, 2005)
Gardner também fundou um coven em sua casa em Bricket Wood, Hertfordshire, Inglaterra, que se tornou um centro para a prática da bruxaria moderna. Ele se tornou conhecido como "O Bruxo de Bricket Wood" e ajudou a espalhar a Wicca em todo o mundo, influenciando muitos outros praticantes e autores, incluindo Doreen Valiente, Alex Sanders e Raymond Buckland. Gardner é considerado uma figura importante na história da Wicca e da bruxaria moderna. Seu trabalho e escritos influenciaram profundamente o ressurgimento da bruxaria em todo o mundo contemporâneo pós período inquisitório, e sua vida e legado continuam a ser estudados por muitos na comunidade pagã. (Yale University Press, 2018)
A bruxaria contemporânea, também conhecida como Wicca, surgiu no século XX e tem crescido em popularidade em todo o mundo. A Wicca é uma religião pagã que acredita na natureza e na magia, mas não tem nada a ver com as práticas históricas da bruxaria perseguida pela Inquisição. Ainda assim, alguns grupos religiosos e conservadores continuam a associar a Wicca e outras práticas pagãs com a bruxaria histórica e a consideram imorais ou perigosas. A Wicca é uma religião pagã moderna que tem suas raízes na Europa pré-cristã. Foi fundada na década de 1950 por Gerald Gardner, que reivindicou uma linhagem de bruxaria inglesa tradicional que remontava à Idade Média. Gardner e outros praticantes da Wicca acreditavam em uma divindade dupla imanente, representada pela Deusa e pelo Deus, e enfatizavam a importância da natureza e da magia. (Sussex Academic Press, 2005)
A Bruxaria Alexandrina é uma Tradição contemporânea da Wicca que foi fundada na Inglaterra na década de 1960 pelo bruxo inglês Alex Sanders (1926-1988). Sanders alegou ter recebido ensinamentos de sua avó, que lhe ensinou os segredos da bruxaria. A Bruxaria Alexandrina é uma tradição que enfatiza a magia e a conexão com a natureza. Os praticantes da Bruxaria Alexandrina acreditam em duas divindades imanentes, representada pela Deusa e pelo Deus, e realizam rituais e cerimônias sazonais para honrar a natureza e o ciclo da vida e da morte. (Routledge, 1996)
A Bruxaria Alexandrina também é conhecida por suas práticas de magia sexual, e Hierogamia sagrada, que envolvem o uso de energia sexual para fortalecer a magia e a conexão com a divindade. Essas práticas podem ser realizadas em grupo ou individualmente, e são baseadas na crença de que a energia sexual é uma fonte poderosa de energia mágica.
Robert Cochrane foi um líder britânico da Bruxaria “Tradicional”, que desempenhou um papel significativo no renascimento do movimento pagão na Inglaterra na década de 1960. Seu nome verdadeiro era Roy Bowers e ele adotou o pseudônimo de Robert Cochrane em 1963. Cochrane nasceu em 26 de janeiro de 1931, em Londres, Inglaterra, e cresceu em uma família de tradição cristã. Ele teve um interesse precoce em ocultismo e bruxaria, tendo entrado em contato com os escritos de Aleister Crowley e do mago britânico Austin Osman Spare ainda jovem. Cochrane fundou seu próprio grupo de bruxaria tradicional chamado Clã de Tubalcain em 1951. O grupo era baseado na Tradição das Bruxas da Lã de Sussex, uma tradição de bruxaria do sul da Inglaterra. O Clã de Tubalcain combinava elementos da Bruxaria Tradicional com o misticismo nórdico e a Cabala.
O Clã de Tubalcain ensinava que a bruxaria era uma religião tribal, e que os bruxos eram herdeiros de uma tradição ancestral que se estendia até a pré-história. Ele também ensinava que a bruxaria era uma forma de magia baseada no uso de símbolos e rituais. Cochrane era conhecido por suas crenças radicais e polêmicas. Ele afirmava que a bruxaria era uma religião pagã que havia sido suprimida pela Igreja Cristã, e que os cristãos haviam deturpado e corrompido muitos dos antigos ritos pagãos. Ele também acreditava que a bruxaria era uma religião do mistério, que envolvia a realização de rituais em que os bruxos entravam em contato com entidades espirituais.
Atualmente, no Brasil, a Quimbanda é uma forma de bruxaria que se originou da cultura do país. Esse culto, centrado na figura de Exu, teve suas raízes no século XIX, resultado de um sincretismo complexo e uma mistura de diversas culturas presentes na época. Esse período abrange desde o século XVI até o século XIX, e inclui as primeiras manifestações da Quimbanda, como as Cabulas e os Calundus Baianos, até as práticas de Macumba nas regiões do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Os primeiros Tátas, que são os espíritos ancestrais fundadores da Quimbanda, assim como os primeiros Exus, emergiram como heróis provenientes de contextos de luta e resistência. Eles foram representados por quilombolas, adeptos do candomblé, indígenas na floresta e escravos nas senzalas, que se rebelaram contra os opressores cristãos e os colonizadores escravagistas. A Quimbanda surge a partir dessa luta e resistência, desse encontro ancestral de poder, dando origem ao Espírito da Quimbanda. (Fernando Liguori, 2019)
A Quimbanda é uma tradição de Bruxaria Afro-brasileira que teve sua fundação no século XX. Sua origem está ligada a uma interseção ancestral entre antigas linhagens de feiticeiros Africanos da cultura Bantu,Nàgô-Yorùbá, Pajés Ameríndios e bruxas Ibéricas que foram julgadas e exiladas pelo Santo Ofício de Portugal. A partir desse encontro de linhas ancestrais Africanas, Ameríndias e Européias, surgiu o espírito da Quimbanda, uma tradição de Bruxaria profundamente enraizada na ancestralidade e nas terras Brasileiras. A Bruxaria Ibérica, que já estava presente no Brasil antes da chegada dos Africanos, teve um papel significativo na formação da Quimbanda. A tradição Cipriânica-Faustina, que existia em Portugal antes do período colonial Brasileiro, foi incorporada pelos escravos e se mesclou com as práticas Africanas e Ameríndias. (Fernando Liguori, 2019)
Quadro: O Sabbath das Bruxas, 1799 de Francisco Goya
A Bruxaria em torno do mundo, do imaginário popular até as práticas reais
A bruxaria é um fenômeno cultural que apresenta traços distintos nos diferentes continentes, mas que também compartilha padrões culturais intrínsecos. A importância dos traços culturais da bruxaria reside na compreensão de como as práticas mágicas e rituais foram moldadas pelas crenças, valores e costumes das sociedades ao longo da história e dos diferentes povos. Os traços culturais da bruxaria nos diferentes continentes evidenciam a riqueza da diversidade cultural e das experiências humanas. Ao estudar e compreender esses padrões culturais podemos ampliar nossa visão sobre a complexidade da bruxaria e sua relevância como um fenômeno histórico e cultural.
A datação da bruxaria na Ásia, em especial na China antiga é um assunto complexo, uma vez que não há registros precisos ou evidências arqueológicas claras que possam fornecer uma datação e coleta de dados exatos. No entanto, é possível encontrar referências à bruxaria em textos antigos, que datam de aproximadamente 200 a.C. a 500 d.C. Por exemplo, o livro "Shan Hai Jing" ("Clássico das Montanhas e Mares"), escrito durante o período dos Reinos Combatentes (476 a.C. - 221 a.C.), contém histórias de seres sobrenaturais e criaturas mágicas que podem ser interpretadas como formas primitivas de bruxaria de acordo com Hart, 2018. Além disso, há textos confucionistas que mencionam a existência de bruxas na sociedade chinesa durante a dinastia Zhou (1046 a.C. - 256 a.C.), embora não tenham muitos detalhes sobre suas práticas. (Pregadio, 2018)
A bruxaria na antiga China era praticada em uma variedade de contextos, incluindo a religião popular, a medicina tradicional, a adivinhação e a magia. Uma das formas mais antigas de bruxaria na China foi à prática de Fu, que envolvia o uso de talismãs, amuletos e feitiços para proteção contra espíritos malignos. (Campany, 2009)
A prática de Fu remonta a mais de 2.000 anos na história da China e é considerada uma forma de bruxaria chinesa. Os talismãs eram escritos em papel amarelo e muitas vezes incluíam caracteres chineses que eram considerados poderosos. Esses talismãs eram frequentemente colocados em portas, janelas e outros locais para afastar os maus espíritos. (Jordan, 2009)
Durante a dinastia Han (206 a.C. - 220 d.C.), a prática de Fu se tornou mais organizada e formalizada, com a criação de manuais de feitiçaria e a introdução de novos caracteres de acordo com Campany, 2002. Durante a dinastia Tang (618 a.c -907 a.c), a prática de Fu atingiu o auge, com a criação de novas técnicas de escrita e novos rituais. (Kohn, 2008)
No entanto, a prática de Fu também foi reprimida em várias ocasiões na história da China, especialmente durante a dinastia Qing (1644 a.c-1912 a.c), quando o governo proibiu todas as formas de feitiçaria e magia. Apesar das perseguições, a prática de Fu continuou a ser transmitida de geração em geração por praticantes secretos. Hoje em dia, a prática de Fu ainda é preservada em algumas regiões da China, especialmente em áreas rurais. Embora a maioria das pessoas modernas não acredite em magia ou feitiçaria, a prática de Fu ainda é vista como uma forma de arte e cultura tradicional na China, e é valorizada como parte do patrimônio cultural do país. (Pregadio, 2018)
Para Unschuld, 2017 existiam uma diversidade de técnicas, manifestações e prática de bruxaria tornando as praticas de Fu, uma manifestação completa. A adivinhação era uma delas, envolvendo o uso de ossos de animais, carapaças de tartaruga e varetas de adivinhação para obter informações sobre o futuro. Os praticantes de adivinhação eram frequentemente considerados bruxos e bruxas, e suas habilidades eram muito valorizadas pelos governantes e pelas elites. A medicina tradicional chinesa também incorporava práticas que poderiam ser consideradas como bruxaria, como o uso de ervas medicinais e técnicas de acupuntura para curar doenças e aliviar a dor, como abordado por Harper, 2013. Além disso, havia práticas que envolviam o uso de amuletos e talismãs para curar doenças e afastar os espíritos malignos. (Unschuld, 2017)
A Onmyōdō é uma antiga tradição de bruxaria japonesa que se desenvolveu durante o período Heian (794 d.c -1185 d.c). Ela combina elementos da magia, astrologia, adivinhação e espiritualidade, sendo influenciada pelas crenças chinesas do Taoismo e do Yin-Yang. A palavra "Onmyōdō" significa "caminho do yin e yang" e se refere à prática de equilibrar as forças opostas e harmonizar as energias do universo. Os praticantes da Onmyōdō, conhecidos como "Onmyōji", eram especialistas em assuntos espirituais e mágicos, atuando como conselheiros do governo, adivinhadores e exorcistas. (Kazuhiko Komatsu, 2018)
A origem da Onmyōdō está associada a Abe no Seimei, um lendário Onmyōji do século X, considerado um dos mais famosos e poderosos praticantes da tradição. Seimei era conhecido por sua habilidade em exorcizar espíritos malignos, prever o futuro e realizar rituais de proteção. A prática da Onmyōdō envolve o uso de instrumentos e técnicas específicas. Um dos principais instrumentos é o "ofuda", um talismã sagrado que é usado para proteção e para afastar espíritos malignos. Outra técnica importante é o "reigai", que envolve a criação de réplicas espirituais de pessoas para rastrear e combater influências negativas. (Brett L. Walker, 2013)
A astrologia desempenha um papel central na Onmyōdō. Os Onmyōji usavam técnicas de adivinhação baseadas nos movimentos dos astros, especialmente o sol, a lua e as estrelas. Essas práticas astrológicas eram utilizadas para prever eventos futuros, escolher datas auspiciosas e determinar a melhor direção para construir edifícios e túmulos. Além disso, os Onmyōji também se envolviam em práticas de exorcismo. Eles acreditavam que certas doenças e infortúnios eram causados por influências malignas e realizavam rituais e encantamentos para purificar e proteger as pessoas. (Kazuhiko Komatsu, 2018)
Embora a Onmyōdō tenha sido influente durante o período Heian, seu status e popularidade diminuíram ao longo dos séculos. No entanto, ainda existem praticantes e estudiosos que buscam preservar os ensinamentos e tradições da Onmyōdō, mantendo viva essa antiga forma de bruxaria japonesa. (Kazuhiko Komatsu, 2018)
A presença das bruxas nas Filipinas é uma parte significativa do folclore e das crenças tradicionais do país. Uma prática específica associada às bruxas nas Filipinas é conhecida como "Kulam", que se refere ao uso de magia negra ou feitiçaria para causar dano ou infortúnio a uma pessoa. Essa tradição é profundamente enraizada na cultura filipina e tem sido objeto de estudo e pesquisa em várias obras acadêmicas e antropológicas.
Acredita-se que as bruxas Filipinas, ou "Mangkukulam" em tagalo, sejam capazes de lançar maldições, criar doenças e até mesmo controlar espíritos malignos para atingir seus objetivos. Essas bruxas são temidas e respeitadas por muitos filipinos, e suas práticas são levadas a sério dentro da cultura local. Acredita-se que elas possuam conhecimentos secretos sobre ervas, encantamentos e rituais que lhes conferem poderes sobrenaturais.
Um estudo que aborda a tradição das bruxas nas Filipinas é o livro "Witchcraft and Sorcery in East Africa and the Philippines" de G.C. Oostindie (1973), que analisa as semelhanças e diferenças entre a bruxaria nas Filipinas e na África Oriental. O autor examina a estrutura social e os aspectos culturais que moldam as crenças e práticas das bruxas filipinas, fornecendo uma visão abrangente dessa tradição específica.
Outra obra relevante é o artigo "Witchcraft Beliefs and Practices in the Philippines: An Overview" de Mary Katherine G. Lawas (2015), que explora as crenças e práticas de bruxaria nas Filipinas, incluindo o papel das bruxas na sociedade filipina contemporânea. A autora aborda a relação entre a bruxaria e o contexto social, cultural e religioso das Filipinas, oferecendo uma análise detalhada das tradições e percepções sobre as bruxas no país.
Essas referências fornecem um ponto de partida valioso para entender a presença das bruxas nas Filipinas, especificamente na prática de "Kulam". No entanto, é importante ressaltar que a bruxaria é um tema complexo e multifacetado, e outras obras acadêmicas e fontes etnográficas podem complementar e aprofundar ainda mais o conhecimento sobre as bruxas nas Filipinas e suas influências culturais e sociais.
A bruxaria Sihr, mencionada no Islã, remonta aos costumes pré-islâmicos da Pérsia, Turquia e África Oriental, nos quais a prática da magia e feitiçaria era amplamente difundida. Sihr é um termo árabe que abrange diferentes formas de bruxaria, encantamentos e magias. Essa tradição mágica está enraizada nas crenças e rituais pagãos dessas regiões, que foram gradualmente incorporados e adaptados em alguns sistemas de crenças islâmicas.
A bruxaria Sihr é considerada uma prática proibida e maligna no Islã, uma vez que é vista como uma forma de manipulação do mundo espiritual e do destino das pessoas por meio de forças ocultas. Os praticantes de Sihr são conhecidos como sahir (Bruxos) ou sahirah (Bruxas), e acredita-se que eles possuam conhecimentos e habilidades para invocar poderes sobrenaturais, lançar feitiços e causar danos físicos e emocionais às pessoas.
No Islã, a bruxaria é considerada uma transgressão contra a vontade de Alá e uma forma de idolatria, pois os praticantes recorrem a entidades espirituais e buscam poderes além de Alá. Os muçulmanos são instruídos a se proteger contra a bruxaria por meio da recitação do Alcorão, da busca de refúgio em Alá e da prática da religião de forma pura.
É importante destacar que, embora a bruxaria Sihr seja mencionada no contexto islâmico, sua prática e interpretação variam entre as diferentes comunidades muçulmanas e podem ser influenciadas por elementos culturais e regionais, porem as mesmas não fazem parte da religião Islâmica ou qualquer outra religião Abraâmicas, sendo de origem politeísta, pré-Islâmica.
A presença de uma Divindade associada à bruxaria em uma determinada cultura sugere a existência de práticas e figuras semelhantes às bruxas nessa sociedade. Um exemplo marcante é o caso de Hécate, uma antiga deusa da mitologia grega que é frequentemente associada à bruxaria e à magia. Sua figura é venerada como uma divindade ligada ao mundo espiritual, aos encantamentos e aos rituais mágicos. (Hesíodo, Teogonia)
Hécate é representada como uma deusa tríplice, governando os três reinos: céu, terra e submundo. Ela é frequentemente retratada com características que evocam a imagem de uma bruxa, como serpentes em seu cabelo, uma tocha e uma chave, simbolizando seu poder sobre os mistérios e a transição entre os diferentes planos da existência.
A associação de Hécate com a bruxaria é evidente em várias fontes históricas e literárias. Em escritos antigos, como os de Hesíodo e Pausânias, Hécate é mencionada como uma deusa da magia e das encruzilhadas, sendo invocada por bruxas e feiticeiros em seus rituais. Além disso, em obras como a tragédia "Medeia" de Eurípides, Hécate é invocada como uma divindade das bruxas e da feitiçaria.
Na mitologia grega, a bruxa Circe é uma figura fascinante e enigmática. Conhecida por suas habilidades mágicas e poderes de transformação, Circe desempenha um papel significativo nas aventuras épicas narradas na Odisseia, de Homero. Ela é retratada como uma feiticeira habilidosa, capaz de transformar homens em animais e controlar suas mentes por meio de poções e encantamentos. Um estudo relevante sobre a figura de Circe é o livro "Circe: The Untold Story" de Madeline Miller (2018), que revisita a história de Circe a partir de uma perspectiva feminista e empoderadora. A autora explora a vida e os motivos de Circe, bem como sua relação com outros personagens mitológicos, oferecendo uma interpretação cativante e humanizada da bruxa.
Outra referência interessante é o artigo "Circe, Greek Goddess of Magic" de Caroline Alexander (2005), publicado na revista Archaeology. Neste artigo, a autora examina a representação de Circe na mitologia grega, destacando sua importância como uma figura mágica e poderosa. Alexander também discute a evolução da imagem de Circe ao longo do tempo e seu papel nas narrativas mitológicas.
As Goeteis e Pharmakas, também conhecidas como as Bruxas da Grécia Antiga, eram figuras intrigantes e misteriosas. Na sociedade grega antiga, essas mulheres desempenhavam papéis únicos e influentes, possuindo conhecimentos e habilidades em magia, ervas e encantamentos. As Goeteis eram especialistas em práticas mágicas, muitas vezes associadas à invocação de espíritos e à manipulação de energias ocultas. Eram temidas e respeitadas por seu domínio sobre os segredos do mundo espiritual. Por outro lado, as Pharmakas eram conhecidas por suas habilidades em preparar poções, remédios e filtros de cura, utilizando plantas, ervas e outros ingredientes naturais. Eram consideradas as guardiãs do conhecimento medicinal e detentoras de segredos sobre as propriedades curativas das plantas. Ambas as figuras eram cercadas de mistério e reverência, com sua sabedoria sendo passada de geração em geração. Através de suas práticas, as Goeteis e Pharmakas desempenharam papéis importantes na sociedade grega, oferecendo ajuda espiritual e medicinal para aqueles que as procuravam. (Christopher A. Faraone, 1991)
A Stregoneria, também conhecida como Bruxaria Italiana, é uma tradição mágica e espiritual enraizada na cultura e história da Itália. Com suas raízes profundas na antiguidade, a Stregoneria representa uma combinação única de influências pré-cristãs, folclore local e elementos da magia cerimonial. A história da Stregoneria remonta aos tempos antigos, quando a Península Itálica era habitada por povos pré-romanos, como os etruscos e os samnitas. Esses povos possuíam suas próprias práticas mágicas e religiosas, baseadas no culto aos deuses da natureza, na adoração dos ancestrais e na conexão com os elementos naturais. (Sabina Magliocco, 2009)
Com a chegada do cristianismo à região, a Stregoneria passou a ser vista como uma forma de heresia e bruxaria, resultando em perseguições e repressões por parte da Igreja Católica. No entanto, a tradição da Stregoneria sobreviveu de forma clandestina, passando de geração em geração por meio de ensinamentos orais e práticas secretas. A Stregoneria italiana é caracterizada por sua ênfase na conexão com a natureza, no culto aos ancestrais e no uso de encantamentos e rituais para alcançar objetivos mágicos e espirituais. Os praticantes da Stregoneria são chamados de "Streghe" (bruxas) ou "Stregoni" (bruxos) e são considerados como intermediários entre o mundo humano e o mundo espiritual. (Raven Grimassi, 2009)
A bruxa, Streghe é uma das figuras mais importantes da Stregoneria italiana, por ser uma mulher sábia e conhecedora dos segredos da magia, ela detém os mistérios da vida e do sagrado feminino. Ela desempenha um papel central na realização de rituais, na cura e na orientação espiritual da comunidade. Além disso, a Stregoneria italiana também incorpora elementos do folclore local, como o uso de amuletos e talismãs para proteção e boa sorte. (Sabina Magliocco, 2009)
Outro aspecto importante da Stregoneria italiana é a conexão com os antigos Deuses Romanos e pré-romanos. Os praticantes da Stregoneria podem honrar divindades como Diana, Minerva, Ceres e outras entidades associadas à natureza e aos elementos naturais. Apesar da perseguição histórica e do estigma associado à bruxaria, a Stregoneria italiana persiste até os dias de hoje. A tradição continua a ser praticada por indivíduos e grupos que buscam manter viva a conexão com as raízes ancestrais e preservar a sabedoria e os ensinamentos da Stregoneria, é valido ressaltar que por contextualização histórica do período inquisitório, algum destes clãs de Strega absorveram influencias do Cristianismo popular, tornando suas pratica em Mesopaganismo. (Sabina Magliocco, 2009)
As Bruxas de Benevento são personagens lendárias e misteriosas que fazem parte do folclore e da cultura popular da cidade de Benevento, localizada na região da Campânia, na Itália. Essas bruxas são retratadas como seres sobrenaturais dotados de habilidades mágicas e conhecimentos ocultos. A tradição das Bruxas de Benevento remonta a séculos atrás e tem sido transmitida oralmente ao longo das gerações.
De acordo com as lendas e histórias locais, as Bruxas de Benevento se reuniam no Monte Viglio, nas proximidades da cidade, durante a noite para realizar rituais mágicos e danças frenéticas. Esses encontros eram conhecidos como "sabbat" e supostamente envolviam a invocação de forças sobrenaturais, a prática de feitiçaria e a celebração de ritos pagãos.
A reputação das Bruxas de Benevento era de serem capazes de lançar maldições, realizar encantamentos e até mesmo transformar pessoas em animais. Acredita-se que elas possuíam conhecimentos secretos sobre ervas medicinais, poções mágicas e adivinhação, além de terem o poder de influenciar o destino das pessoas por meio de suas práticas místicas.
No entanto, é importante ressaltar que as Bruxas de Benevento fazem parte do folclore e das lendas da região, sendo mais uma expressão da imaginação popular do que uma realidade histórica. A influência da Igreja Católica e a perseguição às bruxas durante a Inquisição também contribuíram para a construção dessas narrativas.
Cerridwen, a Deusa das bruxas, é uma figura reverenciada e mitológica que desempenha um papel significativo na tradição pagã Celtas. Sua origem remonta às antigas tradições Celtas, onde ela é amplamente conhecida como uma Deusa da sabedoria, transformação e magia. Cerridwen é venerada por sua conexão com o mundo espiritual e seu domínio sobre o caldeirão da inspiração e renovação. De acordo com as lendas, Cerridwen é retratada como uma deusa poderosa e sábia, frequentemente associada à lua, à natureza e à fertilidade. Ela é considerada a guardiã do conhecimento oculto e da alquimia, sendo reverenciada como a detentora dos segredos da vida e da morte. Cerridwen é simbolizada por seu caldeirão, que representa a transformação e a renovação da energia vital. (Green, M., 1992)
A história mais conhecida relacionada à Cerridwen é a do mito do Caldeirão de Inspirar a Sabedoria. Nessa narrativa, ela prepara uma poção mágica para seu filho, Afagddu, na esperança de conceder a ele grande sabedoria. No entanto, durante o processo de cozimento, um jovem chamado Gwion acidentalmente consome a poção e adquire todo o conhecimento e inspiração divinos. Cerridwen persegue Gwion em uma série de transformações, até que ele se torna o famoso bardo Taliesin, um grande portador de sabedoria e poesia. (McCoy, E., 2012)
As bruxas Strix, também conhecidas como "Striges" na mitologia Romana, são figuras míticas que ocupam um lugar de destaque nas crenças e folclore da antiga Roma. O termo "Strix" era usado para descrever uma espécie de ave noturna de rapina, associada a práticas mágicas e sobrenaturais. No entanto, a palavra também era utilizada para se referir a mulheres com poderes sobrenaturais, capazes de se transformar em aves e realizar feitiçaria.
Na mitologia Romana, as bruxas Strix eram retratadas como criaturas malignas e assustadoras. Elas eram descritas como mulheres com asas de morcego, olhos brilhantes e garras afiadas. Acreditava-se que elas saíam à noite para aterrorizar as pessoas, sugando o sangue de suas vítimas e lançando maldições sobre elas. Embora haja poucos registros históricos específicos sobre as práticas e crenças em torno das bruxas Strix, encontramos referências a elas em várias obras da literatura Romana. O poeta Romano Ovídio, em sua obra "Metamorfoses", menciona as Strix como criaturas que se alimentavam do sangue dos vivos e tinham o poder de transformar suas vítimas em estátuas de pedra.
Outro autor Romano, Horácio, também faz menção às bruxas Strix em seus poemas. Em seu trabalho "Epodos", ele descreve essas criaturas noturnas como seres assustadores que voavam pelos céus e espalhavam o terror entre as pessoas. É importante ressaltar que as crenças em torno das bruxas Strix estão profundamente enraizadas no folclore Romano e em suas tradições mágicas. Embora não haja uma fonte única e definitiva que explique detalhadamente suas práticas e rituais, as referências literárias nos dão um vislumbre de como elas eram percebidas na mitologia Romana.
As bruxas na Romênia têm uma presença enraizada na cultura e no folclore do país. Elas são conhecidas localmente como "Vrăjitoare" e são consideradas praticantes de magia e feitiçaria. Essas bruxas são figuras complexas, envoltas em mistério e tradições ancestrais que remontam a tempos antigos. A tradição das bruxas na Romênia é influenciada por uma mistura de crenças pagãs e cristãs, pelo contexto histórico também se tornaram Mesopaganismo. Acredita-se que elas possuam poderes mágicos e habilidades sobrenaturais, capazes de curar doenças, lançar encantamentos e realizar rituais para diversos propósitos. As bruxas romenas são consideradas detentoras de conhecimento oculto e são procuradas por pessoas em busca de orientação espiritual ou solução para problemas pessoais. (Ioan Pop-Curşeu, et al 2022)
No entanto, é importante notar que nem todas as bruxas na Romênia são vistas de maneira positiva. Algumas são temidas e associadas a práticas obscuras e malevolentes. Essa dualidade de percepção reflete a diversidade e a complexidade do papel das bruxas na sociedade romena. O folclore romeno está repleto de histórias sobre bruxas e suas interações com os seres humanos. Uma figura lendária notável é a bruxa conhecida como "Muma Pădurii", que é retratada como uma mulher idosa que vive nas florestas e tem poderes sobre a natureza. Acredita-se que ela possa conceder bênçãos ou lançar maldições, dependendo de sua vontade de acordo com o livro “Witchcraft in Romania de Ioan Pop-Curşeu e Ștefana Pop-Curșeu, 2022”.
A tradição de bruxaria Eslava é frequentemente conhecida como "Rodnovery" ou "Rodnoverie". Essa tradição é baseada em crenças pagãs pré-cristãs que eram praticadas pelos povos eslavos na região da Europa Oriental. A palavra "Rodnovery" deriva da palavra "rod", que significa "clã" ou "linhagem", e "vera", que significa "fé" ou "crença". Os praticantes do Rodnovery buscam reconectar-se com as Divindades ancestrais Eslavas, honrar os espíritos da natureza e seguir os rituais e tradições transmitidos ao longo dos séculos. A bruxaria Eslava geralmente envolve práticas mágicas, cura herbal, divinação e a busca de uma conexão íntima com a terra e os antepassados. (Natasha Helvin, 2017)
Baba Yaga é uma figura lendária da mitologia Eslava, conhecida como uma bruxa enigmática e poderosa. Ela desempenha um papel importante nas histórias folclóricas Russas, sendo retratada como uma velha de aspecto assustador, que vive em uma cabana mágica em meio a uma floresta densa. Sua figura é cercada de mistério e dualidade, representando tanto a natureza benevolente quanto malévola das forças sobrenaturais. (Afanas'ev, 1993)
A cabana de Baba Yaga é frequentemente descrita como tendo pernas de galinha, capaz de se mover e girar ao seu comando. Ela é retratada como uma guardiã dos segredos da floresta, possuindo grande sabedoria e poderes mágicos. Em algumas histórias, Baba Yaga é retratada como uma figura temida, capaz de lançar maldições e conceder favores somente àqueles que merecem. A figura de Baba Yaga tem sido estudada por pesquisadores e estudiosos da mitologia e folclore. Em seus estudos, Ivanits (1981) explora a ambiguidade da personagem, descrevendo-a como uma figura maternal e bruxa ao mesmo tempo. Já Afanas'ev (1993) investiga as origens poéticas de Baba Yaga, examinando a presença da personagem em contos folclóricos e seu papel na narrativa.
A Bruxaria Escocesa é uma tradição mágica e espiritual enraizada na cultura e história da Escócia. Com uma rica herança folclórica e crenças antigas, essa forma de bruxaria tem características únicas que a distinguem de outras tradições. Na Bruxaria Escocesa, as bruxas são conhecidas como "Cunning Folk". Elas são consideradas como detentoras de conhecimentos mágicos transmitidos ao longo das gerações. A tradição da Bruxaria Escocesa possui elementos históricos que remontam aos tempos antigos, como a crença em espíritos da natureza, a adoração dos deuses celtas e a prática de magia cerimonial. Durante os períodos de perseguição às bruxas na Europa, a Escócia foi palco de inúmeras caças às bruxas, com muitas mulheres sendo acusadas, julgadas e executadas por supostos crimes de bruxaria. (Tess Dawson, 2009)
A história da Bruxaria Escocesa remonta a um período em que a Escócia era uma terra habitada pelos povos celtas, que possuíam uma conexão profunda com a natureza e a espiritualidade. Com a chegada do cristianismo, ocorreu um processo de sincretismo religioso, no qual as crenças pagãs antigas foram mescladas com elementos do cristianismo. A Bruxaria Escocesa se adaptou a este contexto histórico, incorporando tanto práticas mágicas quanto elementos espirituais. A importância da Bruxaria na cultura Escocesa pode ser vista em muitas referências literárias e históricas. Um exemplo notável é o livro "Scottish Witchcraft: A Complete Guide to Authentic Folklore, Spells, and Magickal Tools", que oferece uma visão aprofundada sobre as crenças e práticas da Bruxaria Escocesa, incluindo rituais, encantamentos e tradições folclóricas. Outra obra relevante é "The Witchcraft Act in Scotland" que explora a legislação e os eventos históricos relacionados à bruxaria na Escócia. (Mitchell, 1994)
A Bruxaria Escocesa também é conhecida como Bruxaria Caledônia é uma tradição mágica e espiritual muito próxima da Escocesa que se origina na região dos povos da Caledônia, que atualmente se tornou a Escócia após a invasão do Império Romano. É uma forma de bruxaria que está intrinsecamente ligada às tradições e ao folclore escocês. Além disso, podemos também mencionar a importância do folclore escocês na compreensão da Bruxaria. Contos populares, lendas e mitos transmitidos oralmente ao longo dos séculos fornecem insights valiosos sobre a tradição e as práticas mágicas associadas a ela. Essas histórias podem ser encontradas em obras como "Scottish Folk and Fairy Tales". (Briggs, 2019)
A Bruxaria Teutônica, também conhecida como Heathenry, é uma tradição mágica e espiritual que remonta às antigas culturas germânicas da Europa. Originária dos povos teutônicos, como os Alemães, Dinamarqueses, Suecos e Noruegueses, essa forma de bruxaria busca resgatar e reconectar-se com as tradições e mitologias dos deuses e deusas germânicos. A mitologia nórdica desempenha um papel central dentro da Bruxaria Teutônica. Os deuses e deusas como Odin, Thor, Freyja e Frigg são honrados e invocados durante os rituais, sendo considerados arquétipos poderosos que representam diferentes aspectos da existência humana e da natureza. Além disso, a utilização das runas, o sistema de escrita mágica dos antigos germânicos, é uma prática comum nessa tradição, sendo utilizadas tanto para adivinhação quanto para ativação de energias. (Blain, J., 2002)
A Bruxaria Teutônica, também conhecida como Seidr, é uma antiga tradição mágica e espiritual que tem suas raízes nas terras da Europa Setentrional, especialmente entre os povos germânicos. Essa forma de bruxaria, com suas crenças, práticas e rituais, remonta a tempos ancestrais e está profundamente enraizada na cultura e nas tradições dos antigos povos teutônicos. A história da Bruxaria Teutônica remonta a um período em que os povos germânicos habitavam a região da Europa Setentrional, e é praticada por sacerdotes conhecidos como "Seidman" ou "Seidkonas", que detinham conhecimentos mágicos e exerciam papéis importantes na sociedade. (Blum, 2019)
Para embasar nosso conhecimento sobre a Bruxaria Teutônica, podemos acompanhar as referências aguardadas. Um exemplo notável é o livro "Nordic Magic Healing: Techniques of Ancient Shamanism", que explora a tradição mágica e espiritual dos povos germânicos. Outra obra relevante é "The Well of Remembrance: Rediscovering the Earth Wisdom Myths of Northern Europe", que aborda a mitologia e a espiritualidade dos antigos povos teutônicos, incluindo o papel da Bruxaria Teutônica na sociedade e na cultura desses povos.
A Bruxaria Inglesa, também conhecida como Witchcraft ou Craft of the Wise, é uma tradição mágica que tem suas raízes na Inglaterra e que remonta a séculos de práticas ancestrais quando a Inglaterra era habitada por povos celtas e anglo-saxões. Essa forma de bruxaria é caracterizada por suas técnicas de feitiçaria, crenças espirituais e rituais únicos, que se desenvolveram ao longo do tempo e se baseiam nas tradições folclóricas e nas antigas práticas mágicas da região. Os praticantes buscam estabelecer uma relação próxima com entidades, honrando-as e buscando orientação e proteção. Ao longo dos séculos, com a influência do cristianismo e a fidelidade às práticas pagãs, a Bruxaria Inglesa se adaptou e evoluiu, mantendo viva a sabedoria ancestral e as práticas mágicas. Além disso, o conhecimento das ervas, dos encantamentos e das práticas divinatórias também são valorizadas nessa tradição, com o objetivo de obter insights, cura e equilíbrio. (Valiente, D., 1973), (Greenaway, 2017)
A Bruxaria Ibérica é uma tradição mágica e espiritual que se desenvolveu na Península Ibérica ao longo dos séculos, possuindo clãs de culto embasado nos Açores, ou de outros locais da Península Ibérica. Ela engloba as práticas mágicas e crenças Ocultistas presentes em Portugal e Espanha, refletindo a rica diversidade cultural e histórica da região. A Bruxaria Ibérica é caracterizada por uma combinação única de elementos pagãos, herméticos, e folclóricos, podendo ter em suas praticas o cristianismo popular, advindas da adaptação pela busca de sobrevivência feita por causa das perseguições às bruxas no período Inquisitório resultando em uma abordagem mágica sincrética e rica em simbolismo. A Bruxaria Ibérica também se destaca por sua relação com o folclore e com as antigas tradições populares. Muitas práticas e rituais são baseados em crenças e conhecimentos transmitidos oralmente ao longo das gerações. (Hespanha, A., 1999)
Combinando elementos das culturas da Mitologia Lusitana, Celta, Romana, Grega, Visigoda e Mourisca, essa forma de bruxaria tem raízes profundas na história e nas crenças da região. Essas diversas influências culturais e religiosas deixaram marcas na tradição mágica da região. É importante ressaltar que a Bruxaria Ibérica é uma tradição viva, transmitida oralmente e praticada por pessoas que preservam seus conhecimentos e rituais. Embora seja possível encontrar algumas referências escritas, a maioria dos ensinamentos e práticas é transmitida de forma oral, de mestre para discípulo, mantendo assim a coerência e a continuidade da tradição. Apesar disso, também existem referências históricas importantes que nos ajudam a entender a Bruxaria Ibérica. Um exemplo é o livro "The Witch-Hunt in Early Modern Europe" por Brian P. Levack, 2015, que aborda as perseguições às bruxas na Europa, incluindo a Península Ibérica. Essa obra examina os eventos históricos e as crenças populares relacionadas à bruxaria.
A bruxaria na diáspora Africana e na Nigéria desempenham um papel significativo dentro da rica cultura Nagô Yoruba. Nessa tradição, encontramos as figuras das Ajés e dos Oxôs, assim como a conexão com os poderes de magia dos Orixás Yami Oshoronga e Elegbara.
As Ajés são consideradas feiticeiras dentro do contexto Nagô Yoruba. Elas possuem uma conexão especial com as Orixás Yami Oshorongas, que são as senhoras do poder do sagrado feminino, da transformação, morte, vida e da geração conhecidas como o guardiãs dos portões entre os reinos espiritual e humano. As Ajés são conhecidas por sua habilidade em manipular energias e influenciar o mundo espiritual em benefício próprio ou para causar danos aos outros. Acredita-se que elas possuem conhecimentos secretos e utilizam poções, encantamentos e rituais para alcançar seus objetivos. (Abimbola, 1977)
Por outro lado, os Oxôs também desempenham um papel importante na bruxaria Nagô Yoruba. Eles são considerados Bruxos e estão associados ao Orixá Elegbara, que é considerado o senhor das encruzilhadas, do poder e dos segredos mágicos. Os Oxôs possuem conhecimentos e poderes mágicos para realizar feitiços, curas e outras práticas relacionadas à bruxaria. Acredita-se que eles podem manipular as forças espirituais em benefício próprio e para o bem-estar da comunidade. (Babalola, 2016)
Tanto as Ajés quanto os Oxôs utilizam práticas mágicas, encantamentos, rituais e conhecimentos transmitidos de geração em geração, poderes relacionados há cura e as maldições. Eles têm a capacidade de acessar o mundo espiritual e trabalhar com as energias sutis para alcançar seus propósitos. Suas práticas estão enraizadas na crença em poderes sobrenaturais e na interação com os Orixás e outras entidades espirituais presentes na mitologia Nagô Yoruba.
No antigo Egito uma das formas de pratica mágica egípcia era conhecida como Hekaw, que envolvia o uso de encantamentos, rituais e poções mágicas para influenciar o mundo espiritual e alcançar objetivos específicos. Os praticantes de Hekaw eram considerados especialistas nas artes mágicas e muitas vezes desempenhavam papéis importantes na sociedade egípcia. No entanto, é importante ressaltar que as informações sobre as práticas de bruxaria e feitiçaria no antigo Egito são fragmentadas e dispersas, e muitos detalhes específicos foram perdidos ao longo do tempo. Nossa compreensão dessas práticas baseia-se em evidências arqueológicas, textos antigos e interpretações acadêmicas, que continuam a ser objeto de estudo. (Maarten J. Raven, 1999)
Os Imakhu eram sacerdotes e Bruxos dedicados a Input (Anúbis) que praticavam o culto Imá-Neter, um culto de ancestralidade e necromancia, onde eram invocando um clã ou família de mortos, os Tep Awy, vinculados há uma ancestralidade em especifica, possuindo uma variedade de espíritos para trazer benefícios ou malefícios para alguém. Este culto era realizado por meio de arvores sagradas, as Nehets, que faziam de morada para o espírito dos mortos e eram locais sagrados que os mesmos recebiam suas oferendas, as arvores eram a morada dos espíritos dos mortos tais como a arvore de Sicômoro para era a morada de Hwt-Hrw (Hator) e a copa era a morada do grade Falcão Heru (Horus) segundo Plutarco. O culto se desenvolve nos mistérios de Hwt-Hrw (Hator), como à senhora da vida, sexo e prazeres, e também da morte ao guiar as almas e Heru (Hors) como senhor da iluminação. Outros Deuses são interligados há esses mistérios, como Dḥwtj (Thot) que é vinculado há escrita de nomes sagrados na madeira das arvores que são a morada dos espíritos, é do corpo User (Osíris) após sua morte que as arvores sagradas brotam, User (Osíris) é também o senhor do mundo dos mortos, auxiliando em abrir ou não o portão de seu reino para os espíritos virem em terra.
As sacerdotisas de Ísis desempenharam um papel significativo na antiga religião egípcia, especialmente no culto dedicado à Deusa Ísis. Essas mulheres exerciam funções sacerdotais e mágicas, atuando como intermediárias entre os Deuses e os seres humanos, além de serem consideradas detentoras de conhecimentos mágicos e ocultos bem como habilidades espirituais. Ísis é a Deusa da maternidade, magia e renascimento, era uma das Divindades mais veneradas do panteão Egípcio. Seu culto se espalhou por todo o Egito e além, tornando-se influente em diferentes períodos da história Egípcia. As sacerdotisas de Ísis eram responsáveis por conduzir rituais sagrados em seus templos e santuários, mantendo vivos os mistérios à Deusa. Essas mulheres eram selecionadas de acordo com critérios específicos, como conhecimento religioso e habilidades mágicas. Elas passavam por um treinamento rigoroso, aprendendo os ritos sagrados, a interpretação de símbolos e textos sagrados, bem como práticas mágicas associadas à Deusa Ísis, como de acordo com o livro "The Search for God in Ancient Egypt" - Jan Assmann, 2001.
A Bruxaria do Vodu Haitiano, também conhecida como Vodou ou Voodoo, é uma tradição espiritual e mágica profundamente enraizada na cultura haitiana. Originada da confluência de crenças africanas da nação Jeje Fon trazidas pelos escravos durante o período colonial, com influências do catolicismo e elementos indígenas, o Vodu Haitiano é uma prática sincrética que combina elementos religiosos, rituais de cura, adoração aos ancestrais e o uso de magia. (Deren, 1953)
No Vodu Haitiano, as bruxas são chamadas de "Hounsi" ou "Mambo". Essas mulheres são consideradas sacerdotisas e líderes espirituais dentro das comunidades Vodu como descrito no livro “Mama Lola: A Vodou Priestess in Brooklyn” Karen McCarthy Brown, 2011. Elas desempenham um papel vital na comunicação com os espíritos, na realização de rituais e no uso de magia para cura, proteção e busca de orientação espiritual. As bruxas do Vodu Haitiano são altamente respeitadas e temidas, pois possuem conhecimentos e habilidades mágicas transmitidos através de gerações.
A prática da bruxaria no Vodu Haitiano envolve a invocação de espíritos, o uso de amuletos, ervas, poções e rituais específicos para alcançar diversos objetivos, como cura de doenças, proteção contra malefícios, obtenção de sucesso ou vingança. Acredita-se que as bruxas do Vodu têm acesso a um mundo espiritual complexo, onde se conectam com deidades, loas (espíritos) e os antepassados. (Davis, 1985)
A Bruxaria Obeah é uma tradição espiritual enraizada nas ricas tradições culturais e religiosas da região do Caribe. Originária principalmente da Jamaica, mas também encontrada em outras ilhas Caribenhas, a Obeah é considerada uma forma de bruxaria que combina elementos africanos, indígenas e europeus. A história da Bruxaria Obeah remonta aos tempos coloniais, quando a região do Caribe era um ponto crucial no comércio de escravos africanos e uma encruzilhada de culturas. Os africanos trazidos para o Caribe durante esse período trouxeram consigo suas tradições e crenças, que se fundiram com as práticas indígenas e influências Européias para formar a base da Obeah. Esse sincretismo religioso foi um ato de resistência contra a opressão e a escravidão, permitindo que os escravizados se conectassem com suas raízes ancestrais e preservassem sua identidade cultural.
A Bruxaria Obeah é amplamente baseada na crença de que tudo no universo está interligado e que a energia vital, ou força vital, permeia todas as coisas. Os praticantes de Obeah acreditam que eles têm a capacidade de manipular essa energia para influenciar os eventos do mundo físico. Eles podem buscar cura, proteção, amor ou até mesmo causar danos, dependendo das intenções e propósitos do praticante. Uma das práticas mais comuns na Bruxaria Obeah é o uso de amuletos e talismãs. Esses objetos são considerados portadores de poderes mágicos e são frequentemente usados para atrair sorte, afastar o mal ou fornecer proteção contra influências negativas. Entre os amuletos mais populares está o "Mojo Bag", uma pequena bolsa de tecido contendo ervas, pedras e outros objetos rituais. O Mojo Bag é usado como uma ferramenta para canalizar a energia e manifestar os desejos do praticante. (Carosa, 2013)
Além dos amuletos, a Obeah também envolve o uso de rituais e feitiços. Os rituais são realizados para entrar em contato com os espíritos e buscar orientação espiritual. Os feitiços, por sua vez, são usados para direcionar a energia para alcançar um objetivo específico. Essas práticas são conduzidas por um Obeahman ou uma Obeahwoman, que são reconhecidos mestres da magia e possuem um conhecimento profundo dos segredos e ensinamentos da tradição. Para entender mais sobre a Bruxaria Obeah, podemos percorrer algumas referências históricas e literárias. Um exemplo notável é o livro "Obeah: A Sorcery of the Caribbean" que explora a história e as práticas da Obeah de uma perspectiva antropológica. Outra obra importante é "Obeah and Other Powers: The Politics of Caribbean Religion and Healing" de Diana Paton, Maarit Forde, 2012, que examina a que examina a prática da bruxaria Obeah nas tradições religiosas caribenhas.
A Bruxaria de Palo Mayombe é uma antiga tradição espiritual originária da região do Congo, na África Central. É uma prática que combina elementos de magia, religião e feitiçaria, e é amplamente praticada em países como Cuba, República Dominicana e Porto Rico. A história da Bruxaria de Palo Mayombe remonta aos tempos ancestrais da África Central, quando os povos do Congo realizavam rituais e cerimônias para honrar seus ancestrais e estabelecer uma conexão com o mundo espiritual. Durante o período colonial, muitos africanos foram trazidos como escravos para o Novo Mundo, levando consigo suas práticas culturais e espirituais. No contexto do sincretismo religioso nas Américas, a tradição de Palo Mayombe se funde com elementos indígenas e católicos, formando uma rica síntese de crenças e práticas.
A Bruxaria de Palo Mayombe está enraizada na crença de que o mundo espiritual e o mundo físico estão entrelaçados. Os praticantes de Palo Mayombe acreditam na existência de uma força vital chamada "Nganga", que é personificada em objetos sagrados, como um caldeirão de ferro ou uma estatueta representando um espírito ancestral. Esses objetos são considerados fontes de poder e são usados em rituais para estabelecer uma conexão com os espíritos e invocar sua ajuda e proteção. Um aspecto central da Bruxaria de Palo Mayombe é o culto aos espíritos dos mortos, conhecido como "Mpungos" ou "Nkisis". Cada Mpungo representa uma força ou energia específica, e os praticantes buscam estabelecer uma relação de respeito e colaboração com eles. Essa relação é estabelecida por meio de rituais complexos, que envolvem consumos de animais e ofertas de alimentos, bebidas e tabaco. Esses rituais visam obter o favor dos espíritos e garantir sua atenção nas questões do mundo físico. O Livro “Oráculos En El Palo Congo Mayombe: Mpaka; Cocos; Caracoles y Huesos”, de Ralph Alpizar, 2020, nos conta um pouco mais das praticas desta Tradição.
As práticas de Palo Mayombe envolvem também o uso de oráculos conhecidos como "Vititi Ngombo" e os oraculistas são chamados de "Kusambulero Nfumbi - O Adivinho dos Mortos". Esses oráculos e os demais feitiços desta tradição são realizados com a ajuda de ervas, ossos, pedras e outros objetos rituais, que são reconhecidos canais de energia e poder. Os praticantes de Palo Mayombe acreditam que esses feitiços têm o poder de afetar o mundo físico e influenciar os eventos de acordo com suas intenções. Para aprofundar nosso conhecimento sobre a Bruxaria de Palo Mayombe, podemos acompanhar as referências Bibliográficas. Um exemplo notável é o livro "Palo Mayombe: The Garden of Blood and Bones" Nicholaj de Mattos Frisvold, 2016, que oferece uma visão abrangente sobre a tradição de Palo Mayombe, explorando suas origens, crenças e práticas.
Nas Américas a Bruxaria Tradicional Brasileira, conhecida também como Quimbanda, é uma tradição espiritual e mágica que possui raízes profundas na cultura brasileira. Ela combina elementos de diversas influências, como as tradições indígenas, Africanas, Nagô Yoruba e Bantu e Bruxaria Ibérica como principais, resultando em um sistema mágico único e poderoso. A Quimbanda é caracterizada por seu forte vínculo com os espíritos ancestrais e o culto a Exu e Pombogira, entidades espirituais que desempenham papéis centrais nessa tradição. (Fernando Ligório, 2019)
Dentro da Bruxaria Tradicional Brasileira, a figura de Exu é especialmente venerada. Ele é considerado um intermediário entre os seres humanos e as divindades, sendo associado a energias primordiais, forças da natureza e à sexualidade sagrada. Exu é visto como um guardião dos caminhos, abrindo portas e proporcionando oportunidades, além de desafiar e quebrar barreiras para possibilitar o crescimento e a transformação pessoal. (Fernando Ligório, 2019)
Outro aspecto importante da Quimbanda é a conexão com os ancestrais. Os praticantes valorizam a sabedoria e a orientação dos espíritos dos antepassados, buscando estabelecer uma comunicação e um relacionamento harmonioso com eles. Os rituais e as práticas da Quimbanda envolvem a realização de oferendas e sacrifícios em honra aos ancestrais, fortalecendo os laços espirituais e recebendo suas bênçãos e proteção. (Pinto, 2009)
A magia desempenha um papel fundamental na Quimbanda. Os praticantes utilizam diversos recursos e ferramentas mágicas, como amuletos, velas, ervas, símbolos e rituais específicos, para canalizar as energias e alcançar seus objetivos. A magia na Quimbanda é vista como uma forma de influenciar e interagir com o mundo espiritual e com as forças sutis da natureza, utilizando-se do poder da intenção, da concentração e da conexão com as entidades espirituais. (Valente, 2011)
É importante destacar que a Bruxaria Tradicional Brasileira, assim como outras tradições mágicas, varia de acordo com as regiões, os praticantes e as linhagens. Cada grupo ou praticante pode ter suas próprias abordagens e práticas específicas, adaptadas às suas crenças e experiências individuais, porem, quando estudamos a fundo as praticas de bruxaria no mundo e na historia observamos elementos que estão sempre presentes independentes das culturas se tornando características intrínsecas da mesma.
Uma das bruxas mais conhecidas é a Cuca, presente no folclore brasileiro. Ela é retratada como uma velha senhora com corpo de jacaré e um enorme bico, capaz de voar em sua morteira (espécie de pilão). A Cuca é retratada como uma figura malévola, que aterroriza as crianças desobedientes e as leva embora. Sua presença está enraizada nas tradições folclóricas do Brasil e é amplamente conhecida em diferentes regiões do país. (Silva, J. J. da., 2009)
A Matinta Pereira, também conhecida como Mãe do Mato, é uma figura do folclore brasileiro presente em diversas regiões do país. Ela é retratada como uma bruxa idosa e malévola, que vive nas matas e exerce poderes sobrenaturais. Acredita-se que ela possa assumir diferentes formas, como a de uma mulher velha e enrugada, um pássaro noturno ou até mesmo uma árvore. A Matinta Pereira é conhecida por assombrar as pessoas que se aventuram em seu território, principalmente à noite, sendo capaz de amaldiçoar e castigar os desavisados. (Silva, J. J. da., 2009)
No século XVIII, um movimento migratório significativo trouxe um grupo de colonos das Ilhas dos Açores para Florianópolis, localizada no litoral sul do Brasil. Esses colonos, conhecidos como Açorianos, trouxeram consigo não apenas sua cultura, tradições e modo de vida, mas também suas crenças e práticas relacionadas à bruxaria. O contexto histórico das bruxas Açorianas que vieram para Florianópolis é fascinante e revela uma mistura única de elementos religiosos, mágicos e culturais. As Bruxas Açorianas de Florianópolis são uma tradição familiar que remete à influência da colonização Portuguesa na região. Essas bruxas, possuem conhecimentos ancestrais sobre ervas, encantamentos e curas. Elas são figuras que causam espanto nos mais velhos da população local, podendo também atuar como sábias e detentoras de saberes tradicionais transmitidos ao longo das gerações. As bruxas Açorianas são frequentemente retratadas como mulheres idosas, com vestimentas tradicionais e a capacidade de se conectar com o mundo espiritual. (Silva, M., 2012)
Malinalxochitl é uma figura mitológica da cultura Asteca, frequentemente associada ao papel de Deusa das Bruxas. Como uma divindade, ela era venerada por sua conexão com a magia, a feitiçaria e o conhecimento oculto. Malinalxochitl era adorada como uma poderosa guardiã das artes místicas e das práticas esotéricas, sendo considerada a patrona das bruxas Astecas. Na mitologia Asteca, Malinalxochitl era representada como uma mulher jovem e misteriosa, com traços marcantes de seu papel como Deusa das Bruxas. Ela era retratada com trajes e ornamentos simbólicos, como vestes escuras e enfeites de penas de aves negras, que ressaltavam sua conexão com o mundo da magia e da feitiçaria. (Miller, M. E. 1997)
As sacerdotisas de Malinalxochitl eram mulheres dedicadas ao serviço sagrado da Deusa e desempenhavam um papel importante na adoração e nas práticas rituais associadas a ela. Elas eram conhecidas como "Cihuateteo", termo Náuatle que significa "mulheres divinas" ou "mulheres espíritos". Essas sacerdotisas eram consideradas intermediárias entre o mundo humano e o divino, servindo como canal de comunicação entre as pessoas e a Deusa Malinalxochitl. As Cihuateteo eram responsáveis por realizar cerimônias, oferendas e rituais em honra a Malinalxochitl, bem como por transmitir os ensinamentos e conhecimentos relacionados à magia e à bruxaria. Elas eram treinadas nas práticas místicas e nos segredos das artes ocultas, desempenhando um papel fundamental na preservação e disseminação desses conhecimentos dentro da sociedade Asteca. (Carrasco, D. 2000)
Na cultura mesoamericana asteca, os Bruxos Tlacatecolotl eram considerados praticantes de magia negra e eram temidos por suas habilidades sombrias. Eles eram conhecidos por sua capacidade de serem possuídos por espíritos e acreditava-se que tinham o poder de destruir pessoas, além de serem capazes de causar doenças e até mesmo assassinar usando poções mágicas. Além disso, os Bruxos Tlacatecolotl possuíam a capacidade de se transformar em vários animais, semelhante aos Bruxos Nahualli. (Townsend, R. F. 2000)
No entanto, uma diferença entre eles era que os Bruxos Nahualli podiam invocar sua contraparte animal tanto para realizar atos benéficos quanto maléficos, enquanto os Bruxos Tlacatecolotl invocavam criaturas mais sinistras associadas ao lado sombrio do cosmos. Durante o século XVI, a palavra "Tlacatecolotl" passou a ser sinônimo de "Demônio" ou "Diabo" cristão, demonstrando a associação negativa e temerosa atribuída a esses bruxos na época. É interessante notar que, mesmo na crença e nos rituais contemporâneos dos Nahua, os Bruxos Tlacatecolotl ainda são invocados e propiciados, mantendo sua presença e significado dentro da cultura Mesoamericana. Embora a pesquisa específica sobre os Bruxos Tlacatecolotl seja limitada, essas crenças e tradições são exploradas em estudos etnográficos e antropológicos que se aprofundam na cultura e nas práticas religiosas Mesoamericanas. (Miller, M. E. 1997)
A tradição do Mometzcopinque, é uma Tradição de Bruxas malévolas capazes de desarticular e transformar os ossos do pé, que estava associada aos dias sagrados na cultura Mesoamericana. Essa tradição persiste até os dias de hoje na região de Tlaxcala, onde há uma forte tradição sobre as Bruxas Tlahuelpuchis, mulheres conhecidas por transformarem as suas pernas nas de um peru. Acredita-se que Malinalxochitl, irmã de Huiztilopochtli, fosse uma Tlahuipuchtli. A transformação das pernas nessa prática remete ao Mometzcopinque, enquanto a associação dos pés de peru ou galo com Tezcatlipoca, uma Divindade Mesoamericana, que é mencionada em diversos relatos. De fato, uma das formas Teofânicas comuns de Tezcatlipoca era Chalchiuhtotallin, que significa "precioso peru". A fonte dessa informação sobre a tradição Mometzcopinque, e as Tlahuelpuchis e sua associação com Malinalxochitl e Tezcatlipoca na cultura Mesoamericana pode ser encontrada no livro "The Aztecs: A Very Short Introduction" escrito por David Carrasco e publicado em 2011. Essa obra aborda diversos aspectos da cultura asteca, incluindo crenças, rituais e Divindades, fornecendo insights sobre as práticas religiosas e folclóricas desse povo.
Segundo a tradição do Chile, a transformação das bruxas era principalmente em pássaros, embora outros animais também sejam mencionados, como podemos ver ao longo de muitas mitologias e folclores ao redor do mundo. Há um tipo de bruxa chamada de Calcu na tradição Mapuche, que detém a capacidade de transformar-se em um pássaro mítico conhecido como Chonchón. Em outro caso no Chile, destaca-se a Bruxaria Chilota, que é uma tradição mágica e espiritual presente na região sul do Chile, especialmente nas ilhas do arquipélago de Chiloé, nesta tradição acredita-se que os Bruxos Chilotes mandam fazer um Macuñ (do mapudungun makuñ: 'manto' ou 'colete') feito com a pele do peito de um cadáver humano para proporcionar determinadas viagens astrais, bem como feitiços de metamorfose. Da mesma forma, nesta tradição foi atribuída a eles a capacidade de voar transformada em pássaros que trazem o "mau presságio" ('má sorte'), exemplo disso é a lenda da Voladora. As Bruxas no Chile também são chamadas de Mandarunos ou Mandarunas, que se reúnem para seus “Covens” e clãs na caverna de Salamanca. (Cárdenas, 2007)
Na Oceania, a bruxaria está presente nas práticas espirituais das populações indígenas. Na Polinésia, por exemplo, encontramos tradições como a bruxaria Havaiana e a bruxaria Maori, que envolvem a adoração dos deuses nativos e a manipulação de energias para fins rituais e medicinais. Essas práticas refletem a conexão profunda entre os povos do Pacífico e o ambiente natural, assim como a crença na influência dos ancestrais sobre a vida cotidiana. Na Oceania, um vasto conjunto de ilhas do Pacífico, existem diversas culturas indígenas que possuem práticas e crenças que podem ser associadas a formas de bruxaria. Podemos explorar algumas práticas e figuras importantes presentes em diferentes culturas oceânicas. (Coulter, 2004)
Nas culturas Maori da Nova Zelândia, encontramos os Tohunga, considerados como Bruxos e praticantes de magia e portadores de conhecimento espiritual. Esses Tohunga eram especialistas em diversas áreas, como cura, cerimônias religiosas, preservação da história e conhecimento ancestral. Eles desempenhavam um papel crucial na comunidade, sendo reconhecidos por suas habilidades sobrenaturais e conexão com os espíritos. Embora os Tohunga não sejam exclusivamente associados à bruxaria, algumas de suas práticas e conhecimentos podem ser considerados similares a aspectos da bruxaria em outras culturas. (Salmond, 2010)
Outra figura relevante na Oceania é o Makutu. Nas ilhas da Polinésia, especialmente nas Ilhas Cook e na Nova Zelândia, o Makutu é conhecido como uma forma de Bruxaria e magia negativa. É visto como um feitiço ou encantamento lançado por uma pessoa para causar dano ou doença à outra. Aqueles que são considerados praticantes de Makutu são temidos e evitados pela comunidade, pois acredita-se que possuem poderes sobrenaturais para prejudicar os outros. Embora o Makutu esteja associado a práticas consideradas negativas, é importante observar que nem todas as práticas espirituais da Oceania estão ligadas à magia maléfica. (Best, 1924)
Nas Ilhas Fiji, existe a figura do Kalou-vu, que pode ser entendida como um Bruxo ou praticante de magia. Esses indivíduos são reconhecidos por sua conexão com o mundo espiritual e são procurados pela comunidade para auxiliar em questões de saúde, proteção e solução de problemas. O kalou-vu é visto como alguém capaz de se comunicar com os espíritos e de acessar os poderes sobrenaturais para intervir na realidade física. Suas práticas e conhecimentos são valorizados e respeitados por sua habilidade de lidar com o mundo espiritual. (Thomas, 2003)
É importante ressaltar que as práticas de bruxaria na Oceania variam amplamente entre as diferentes culturas e ilhas. Cada grupo étnico e região possuem suas próprias tradições e crenças específicas. A bruxaria, como entendida em outras partes do mundo pode ter manifestações culturais diferentes e não ser necessariamente chamada por esse termo na Oceania. No entanto, as figuras do Tohunga, Makutu e kalou-vu representam aspectos das práticas mágicas e espirituais presentes nas tradições oceânicas, fornecendo um vislumbre da rica diversidade cultural e espiritual da região.
A palavra "Sanguma" é um termo usado em algumas partes da Papua Nova Guiné para se referir a uma figura associada à bruxaria. Essa crença é profundamente enraizada em certas comunidades e está enraizada em suas tradições e cosmovisões. Em Papua Nova Guiné, acredita-se que as sangumas sejam mulheres que possuem poderes mágicos e que podem usá-los para causar danos às pessoas. Elas são vistas como tendo a capacidade de lançar feitiços, invocar espíritos malignos e realizar rituais que podem afetar negativamente a saúde e o bem-estar das pessoas. Acredita-se que elas possam causar doenças, acidentes e até mesmo a morte.
A crença nas Sangumas está profundamente enraizada nas tradições culturais e espirituais das comunidades locais em Papua Nova Guiné. Essas figuras são temidas e respeitadas, e as pessoas tomam precauções para se proteger contra suas supostas habilidades mágicas. Em algumas áreas, rituais e cerimônias são realizados para afastar ou neutralizar o poder das sangumas. É importante ressaltar que a crença nas sangumas é uma parte complexa e multifacetada da cultura em Papua Nova Guiné, e suas percepções e práticas podem variar de uma comunidade para outra. Nos dias atuais as Mulheres que são acusadas de Sanguma são caçadas pela população com o intuito inquisitório baseados na tortura, e no assassinato destas pessoas, muitas destas nem sequer são reais praticantes de magia, porem com a falta de determinados conhecimentos científicos da população, fazendo-nos com que estes as acusem de Bruxaria, condenando-as há morte, como podemos observar na reportagem do ABC.Net por Bethanie Harriman em matérias de 2018. A compreensão dessas crenças exige uma abordagem sensível.
As tradições de bruxaria pan culturais ou policulturais são aquelas que surgem a partir do sincretismo e da mescla cultural de diferentes origens étnicas, religiosas e folclóricas tais como a Wicca e a Bruxaria Eclética, Bruxaria solitária, e Tradição Farry. Como podemos observar muitas tradições de bruxaria, através do processo de sobrevivência histórica, em quesito da escravização e processos inquisitórios tiveram que mesclar práticas e influências de tradições Abraâmicas tornando-se Mesopaganismo, uma subdivisão do Politeísmo. Já outras tradições, abraçaram uma diversidade de Panteões do politeísmo em suas praticas. Essas tradições são caracterizadas pela incorporação e fusão de elementos provenientes de diversas culturas, resultando em práticas mágicas e rituais que refletem a interação e influência mútua entre essas culturas. Essas tradições policulturais de bruxaria demonstram a capacidade das práticas mágicas de transcender determinadas fronteiras culturais e históricas, se adaptar às diferentes realidades e contextos, sem perder sua essência. A natureza dinâmica da bruxaria resiste ao longo dos séculos e dos acontecimentos históricos, mantendo suas tradições, sendo símbolo de política e oposição ao aprisionamento. Porem, ao incorporar elementos de diferentes tradições e por vezes culturas tão distintas, tais como as de origem Abraâmicas e o Politeísmo, pode haver o risco de uma compreensão superficial e descontextualizada destas práticas. É essencial que os praticantes se aprofundem na pesquisa e no entendimento das tradições que estão adotando, para evitar uma abordagem superficial que não reflita adequadamente a autenticidade e a riqueza cultural e histórica dessas tradições.
Mapa mental desenvolvido para ilustrar as tradições de Bruxaria em torno do mundo.
Quadro: As Bruxas, 1797 de Francisco Goya
Da maldição ao Grande Rito; A Caracterização da Bruxaria ao longo da historia e do mundo.
A Bruxaria transcende as fronteiras geográficas e temporais, revelando-se como uma expressão multiforme sendo intrinsecamente ligada às experiências religiosas, culturais, filosóficas, mágicas e históricas da humanidade. Desde os primórdios do Neolítico até os dias atuais, essa forma de prática e crença encontra-se enraizada em diversas culturas ao redor do mundo, abrangendo todos os continentes e períodos históricos. Embora apresente traços distintos em cada continente, é possível identificar padrões culturais, filosóficos, espirituais e estruturais que se repetem, conferindo à bruxaria um caráter universal. Por meio de uma abordagem acadêmica embasada em extensas pesquisas, exploraremos esses padrões, revelando as similaridades que permeiam as diversas culturas no que tange ao tema da bruxaria.
É válido ressaltar que nem toda prática e sistema de magia ou forma de espiritualidade Politeísta é Bruxaria. Embora a bruxaria seja frequentemente associada a tradições politeístas devido à sua conexão com as forças da natureza e a veneração de Divindades, é importante reconhecer que nem todas as tradições Mágicas se enquadram no âmbito da bruxaria. Existem diversas formas de espiritualidade e práticas mágicas que se baseiam em sistemas de crenças politeístas, monoteístas, ou ateístas, mas que possuem suas próprias características e abordagens distintas. Por exemplo, as tradições de magia Salomônica, embora envolvam um relacionamento profundo com a magia e a comunicação com espíritos, não são consideradas Bruxaria, mas sim uma prática mágica espiritual específica desse contexto cultural. Além disso, existem religiões e tradições mágicas que se enquadram em sistemas de crenças politeístas, como o neo-paganismo, a reconstrução de tradições antigas e até mesmo algumas formas de espiritualidade modernas e contemporâneas, que podem ou não ser consideradas Bruxaria, dependendo de suas práticas e princípios fundamentais.
Portanto, ao explorar as diversas formas de espiritualidade e práticas mágicas no mundo, é importante reconhecer que a Bruxaria é apenas uma dessas expressões e que nem todas as práticas mágicas se enquadram nessa definição. Cada sistema e tradição tem suas próprias nuances, histórias e contextos culturais que merecem ser respeitados e compreendidos em sua singularidade.
A Bruxaria é conhecida por uma variedade de nomes em diferentes culturas ao redor do mundo, refletindo a diversidade de tradições e práticas relacionadas a essa forma de expressão mágica e espiritual. Em algumas culturas Européias, a Bruxaria é frequentemente referida como "witchcraft" em inglês, "Hexerei" em alemão, "sorcellerie" em francês e "stregoneria" em italiano. Na América Latina, a bruxaria é conhecida como "brujería" em espanhol e "bruxaria" em português, sendo profundamente enraizada nas práticas e crenças das comunidades locais. A etimologia da palavra "bruxa" apresenta incertezas, mas é amplamente acreditado que sua origem remonta ao italiano "brucia" (queima), derivado do verbo "bruciare" (queimar), ou possivelmente de "brixtia", que deriva do nome da Deusa gaulesa Bricta. Além disso, há indícios que apontam para o surgimento da palavra "Bruxa" na Era Antiga, na Península Ibérica, antes mesmo da invasão romana e, portanto, antes da disseminação do latim. Esse mesmo processo de origem pré-romana pode ser observado em outras palavras do português, como "bezerro", "cama", "morro" e "sarna", conforme explicado pelo professor doutor em Letras Claudio Moreno (UFRGS) em seu livro "Morfologia Nominal do Português". Essa hipótese é reforçada pelo fato de que a palavra "bruxa" só aparece nas línguas ibéricas, como o português ("bruxa"), o espanhol ("bruja") e o catalão ("bruixa"). Caso tivesse uma origem latina, ela também estaria presente no francês (que utiliza "sorcière") e no italiano (que utiliza "strega"), ambas pertencentes à família das línguas românicas. (Badejo, 2014)
A bruxaria recebe uma ampla gama de nomes em diferentes culturas ao redor do mundo, refletindo a diversidade e a riqueza das tradições e crenças relacionadas a essa prática. Cada cultura possui sua própria língua e tradições específicas, o que influencia os nomes atribuídos à bruxaria. Esses nomes representam a conexão intrínseca entre a bruxaria e a cultura em que ela se manifesta, transmitindo uma compreensão única e localizada dessa prática ancestral. Reconhecer essa diversidade de nomes é fundamental para valorizar as tradições e crenças de cada povo, bem como compreender a bruxaria em seus contextos culturais específicos. Na Itália a Bruxaria é mencionada como "Streghe" (bruxas) ou "Stregoni" (bruxos), na mitologia romana ela é abordada como "Striges", na cultura eslava como "Rodnovery" ou "Rodnoverie", na Romênia, são conhecidas como "Vrăjitoare", enquanto na cultura teutônica são chamadas de "Heathenry". Em outras partes do mundo, encontramos nomes diferentes associados à bruxaria. Nas Filipinas, as bruxas são chamadas de "Kulam", nos costumes pré-islâmicos da Pérsia, Turquia e África Oriental, encontramos os "sahir" (bruxos) ou "sahirah" (bruxas). No vodu haitiano, são conhecidos como "Hounsi" ou "Mambos", enquanto na tradição Nagô Yorubá da Nigéria são referidos como "Ajés" e "Oxôs". (Jolly, 2004; Rabinovitch & Lewis, 2002)
O estudo acadêmico antropológico e histórico da bruxaria desempenha um papel fundamental na compreensão e apreciação dessa prática complexa e multifacetada. Por meio de pesquisas e análises críticas, os estudiosos têm buscado desvendar os mistérios e desafios envolvidos na bruxaria, oferecendo uma compreensão valiosa sobre seu significado cultural, histórico e social. O estudo antropológico permite uma análise abrangente das crenças, rituais, símbolos e práticas bruxas em diferentes culturas ao redor do mundo. Ao investigar as tradições de bruxaria presentes em sociedades passadas e presentes, podemos identificar padrões, semelhanças e diferenças entre elas. Essa abordagem de análise comparativa revela a universalidade da bruxaria como uma expressão humana e lança luz sobre a diversidade cultural que a envolve.
Da mesma forma, o estudo histórico da bruxaria oferece um panorama cronológico bem como o processo histórico que a mesma sofreu ao longo do tempo. Através de pesquisas meticulosas de documentos, registros e testemunhos históricos, os historiadores são capazes de rastrear a presença da bruxaria desde os períodos antigos até os tempos modernos. Essa abordagem histórica nos ajuda a entender como a bruxaria tem sido percebida e interpretada em diferentes épocas, destacando sua relevância social, política e religiosa em diferentes contextos. Ao examinar a bruxaria de uma perspectiva acadêmica, é possível desafiar e desconstruir estereótipos e preconceitos enraizados em relação a essa prática. Muitas vezes, a bruxaria foi mal compreendida e associada apenas a ideias negativas. No entanto, o estudo acadêmico permite uma análise mais imparcial e contextualizada, revelando uma imagem mais completa e precisa da bruxaria como uma expressão cultural e religiosa.
O estudo acadêmico antropológico e histórico da bruxaria desempenha um papel essencial na preservação, compreensão e apreciação dessa prática ancestral. Ao analisar sua diversidade cultural, seus aspectos mágicos, religiosos e filosóficos, e seu impacto histórico e social, os estudiosos contribuem para um diálogo interdisciplinar enriquecedor e para uma maior valorização da bruxaria como parte da rica tapeçaria da experiência humana. Essa colaboração ajuda a promover uma compreensão mútua, a dissipar equívocos e a construir pontes entre diferentes perspectivas. O conhecimento acadêmico também pode ser valioso para bruxos e praticantes contemporâneos, permitindo uma reflexão crítica sobre suas próprias tradições e práticas, bem como um enriquecimento através do conhecimento das tradições bruxas ao redor do mundo.
A bruxaria, em sua essência, abraça uma visão Politeísta, reconhecendo a existência de múltiplas divindades ou forças espirituais que permeiam o universo. Essa visão se manifesta de diferentes formas nas diversas tradições e culturas bruxas ao redor do mundo. Desde as antigas civilizações da Grécia e Roma, onde os bruxos e bruxas honravam Deuses e Deusas específicos em seus rituais e práticas, até as tradições bruxas contemporâneas que se conectam a entidades espirituais variadas. A crença no politeísmo bruxo está fundamentada na compreensão de que o divino é plural e multifacetado se manifestando de maneiras diferentes em diferentes aspectos da vida e da natureza. Cada divindade é considerada única em suas características e atributos, representando diferentes aspectos da existência humana e do mundo natural. (Filan, 2010)
Essas Divindades, bem como os espíritos são frequentemente associadas aos elementos da natureza, como o sol, a lua, as estrelas, os rios, as montanhas, os animais e as plantas, possuindo desta maneira crenças animistas em conjuntura. Esta por sua vez sendo uma crença ou filosofia que atribui vida, consciência e espírito a elementos naturais, como plantas, animais, rochas e fenômenos naturais, ou entendendo-nos como a própria Divindade ou manifestações da Divindade. É a idéia de que todas as coisas na natureza, além dos seres humanos, possuem uma essência espiritual ou vital. O animismo reconhece a interconexão e a relação de respeito entre os seres humanos e o mundo natural, enfatizando a importância de honrar e interagir com os espíritos e Divindades ou energias presentes na natureza. (Middleton, 2007)
Na bruxaria, a conexão com as Divindades e espíritos é uma parte fundamental da prática espiritual e do cotidiano. Os bruxos e bruxas buscam estabelecer um relacionamento pessoal e íntimo com essas entidades Divinas, por meio de rituais, orações, invocações e oferendas. Essa interação com as Divindades é vista como uma forma de buscar orientação, proteção, sabedoria e energia para suas práticas mágicas e para viver em harmonia com o mundo ao seu redor. É importante ressaltar que as Divindades veneradas na bruxaria são vistas como divindades absolutas ou supremas, porem o praticante percebe o seu poder pessoal e valorização do seu divino interior abordando uma relação com os quais os praticantes têm um relacionamento colaborativo com os demais seres. Os bruxos e bruxas acreditam que podem co-criar com as Divindades, trabalhando em conjunto para manifestar mudanças construtivas ou destrutivas em suas vidas e na sociedade. Essa visão colaborativa reflete a compreensão da bruxaria de que os seres humanos e as divindades estão interligados, formando uma teia de relações sagradas, e ao perceber o seu poder pessoal, criando um maior senso de responsabilidade por seus atos. (Briggs, 1976)
A diversidade de Divindades na bruxaria é notável. Em diferentes tradições bruxas, encontramos Deuses e Deusas de diferentes mitologias e panteões, como a Deusa Tripla, tais como Hecate, Morrigan e Briggith, o Deus Chifrudo, tais como Dianus de Nemi, Pã, e Cernnunos, associados à fertilidade e à masculinidade e entidades ancestrais veneradas como guias e protetores. Essas Divindades podem ser invocadas e honradas em rituais específicos, encantamentos, cerimônias sazonais e em festivas. (Santino, 1995)
A Bruxaria, ao longo dos séculos, tem se manifestado em diversas culturas e períodos ao longo do tempo, abordando em algumas de suas formas de expressão o Mesopaganismo. Esse caráter Mesopagão da Bruxaria surge como resultado dos processos históricos sócio-culturais enfrentados por seus praticantes ao longo dos tempos. Diante da perseguição e opressão religiosa, bem como processos da escravatura, muitos bruxos e bruxas adotaram uma postura de resistência e sobrevivência, combinando elementos de suas tradições religiosas com os das culturas Abraâmicas, como o Cristianismo e o Islamismo, em um contexto sincrético com caráter na fé dupla. A sincronização de crenças e práticas religiosas variou de acordo com o contexto histórico e cultural no qual a Bruxaria se desenvolveu. Em algumas situações, os bruxos e bruxas incorporaram elementos das tradições Abraâmicas em sua prática mágica e espiritual, mantendo certos aspectos de suas crenças ancestrais, sendo observado no caso do sincretismo entre os Santos Católicos e Deuses Pagãos tais como no caso de Janus, sendo sincretizado com São Pedro, o Orixá Exu com Santo Antônio, os Anjos Helênicos como o Deus Eros, aos Elohins e o Deus das Bruxas ao Diabo. Essa fusão de influências permitiu que os praticantes da Bruxaria se adaptassem e se camuflassem dentro dos sistemas religiosos dominantes, preservando ao mesmo tempo suas tradições e conhecimentos mágicos. Em contra partida, alguns dos costumes do paganismo foram absorvidos pela Igreja Católica Apostólica Romana sendo expressados pelos costumes folclóricos populares, tais como os ovos de páscoa, provenientes da Deusa Eostre, a arvore de Natal, proveniente das celebrações de solstício, a Santa Brígida que absorveu o culto da Deusa celta de mesmo nome e a data do dia dos mortos comemorado desde o século II, sendo realizado no mesmo dia em que os povos pagãos faziam honrarias aos seus antepassados. (Vivianne, 2002)
No Mesopaganismo, podemos observar uma síntese entre elementos pagãos e Abraâmicos, criando uma expressão única de espiritualidade. Essa abordagem sincrética permitiu que os bruxos e bruxas mantivessem suas tradições e crenças enquanto incorporavam aspectos das religiões dominantes. O Mesopaganismo é, portanto, uma forma de adaptar e sobreviver em ambientes hostis, preservando a identidade e a prática mágica. É importante ressaltar que o Mesopaganismo na Bruxaria não é um fenômeno estático, nem um fenômeno que se apresenta em todas as tradições culturais ao longo do mundo e períodos históricos, tornando este tópico de caráter secundário e não prioritário na caracterização do tema, mas sim um produto da interação dinâmica entre diferentes culturas e religiões ao longo da história. A forma como a Bruxaria se manifesta como Mesopaganismo varia de acordo com o período de tempo, o local geográfico e as influências culturais presentes. Essa natureza adaptativa e fluida da Bruxaria reflete a capacidade dos praticantes de se ajustarem às circunstâncias, ao mesmo tempo em que mantêm um vínculo profundo com suas raízes espirituais. (Hutton, 1999)
A Bruxaria se manifesta com caráter de práticas folclóricas, enraizadas nas tradições populares e transmitidas ao longo das gerações. Essas práticas folclóricas refletem a conexão íntima entre os indivíduos e sua cultura, proporcionando um senso de identidade e pertencimento. O folclore bruxo inclui rituais, encantamentos, amuletos, contos de fadas, lendas e superstições que estão enraizados na sabedoria popular e nas crenças mágicas. Essas tradições folclóricas são passadas oralmente e por meio de práticas rituais, muitas vezes transmitidas dentro das comunidades locais e familiares. Essas práticas folclóricas da Bruxaria incorporam elementos da cultura popular e do imaginário coletivo, muitas vezes envolvendo a veneração de entidades sobrenaturais, como fadas, espíritos da natureza e seres mitológicos. Os rituais folclóricos podem estar associados a eventos sazonais, como celebrações dos solstícios e equinócios, colheitas e festivais relacionados à natureza. Eles refletem a reverência e o respeito pela natureza, bem como a busca pela harmonia e equilíbrio com o mundo natural. (Maringoni, 2012)
Essas práticas folclóricas da Bruxaria também podem envolver o uso de objetos simbólicos, como ervas, amuletos, pentagramas e velas, que são utilizados em rituais para canalizar energias e intenções mágicas. Além disso, as crenças e práticas folclóricas podem incluir a realização de rituais de proteção, cura e adivinhação, bem como a busca por remédios naturais e métodos tradicionais de resolução de problemas. É importante ressaltar que as práticas folclóricas da Bruxaria são altamente contextualizadas e variam de acordo com a região geográfica e a cultura específica em que se desenvolvem. Cada comunidade ou grupo pode ter suas próprias tradições folclóricas, transmitidas oralmente e adaptadas às necessidades e valores locais. Essas práticas folclóricas têm sido fundamentais na preservação e perpetuação da Bruxaria ao longo do tempo, permitindo que suas tradições e conhecimentos sejam transmitidos de geração em geração. (Guiley, 2008)
Dessa forma, as práticas folclóricas na Bruxaria representam uma expressão viva da sabedoria popular, conectando as pessoas com suas raízes culturais e espirituais. Elas são um testemunho da riqueza e diversidade das tradições bruxas em diferentes contextos históricos e culturais, enfatizando a importância da oralidade, do compartilhamento comunitário e da ligação profunda com a natureza e o sobrenatural.
A Bruxaria possui um forte foco em práticas de magia, buscando utilizar rituais, encantamentos e feitiços para influenciar a realidade e manifestar mudanças desejadas. A magia na Bruxaria é entendida como uma forma de conexão com as energias e forças sutis do universo, permitindo que os praticantes manipulem e canalizem essas energias de acordo com suas intenções. A magia bruxa é baseada na crença de que há uma interconexão entre todos os seres e elementos do mundo, e que é possível interagir com essas forças para realizar transformações e alcançar objetivos específicos. As práticas mágicas na Bruxaria são variadas e abrangem uma ampla gama de técnicas e abordagens. Elas podem envolver o uso de ingredientes naturais, como ervas, óleos, pedras e metais, que são selecionados com base em suas propriedades simbólicas e correspondências energéticas. Além disso, as práticas mágicas podem incluir o uso de ferramentas rituais, como varinhas, laminas, athames (adagas/facas rituais), caldeirões e pentagramas, que são usados para direcionar e concentrar a energia durante os rituais. (Buckland, 2002)
As práticas de magia na Bruxaria podem ser categorizadas de diferentes maneiras. Algumas formas comuns incluem magia simpática, que se baseia no princípio de que "o semelhante atrai o semelhante", utilizando objetos ou representações simbólicas para representar a manifestação desejada. A magia cerimonial é outra abordagem amplamente utilizada, envolvendo rituais elaborados, invocações, evocações e conjurações para estabelecer contato com entidades espirituais ou forças mágicas. Além disso, a Bruxaria valoriza as práticas de magia natural, que estão profundamente ligadas à observação e compreensão dos ciclos naturais e das forças da natureza. Isso inclui a utilização das fases da lua, os ritmos sazonais, as influências planetárias e outras correspondências naturais para potencializar a eficácia dos rituais e feitiços. A magia natural na Bruxaria está enraizada na conexão com a terra, a flora, a fauna e a espiritualidade imanente presente em todas as coisas. (Regardie, 2003)
É importante destacar que as práticas de magia na Bruxaria são diversas e adaptáveis, variando de acordo com as tradições e crenças individuais. Cada praticante pode desenvolver seu próprio estilo e abordagem mágica, utilizando métodos e técnicas que ressoam com sua intuição e experiência pessoal. Essa flexibilidade e adaptabilidade são características intrínsecas da Bruxaria, permitindo que ela evolua e se ajuste ao longo do tempo, mantendo sua essência mágica e seu foco na transformação pessoal e no engajamento com o mundo sutil. Portanto, a Bruxaria se destaca por sua ênfase na prática da magia, buscando estabelecer uma conexão profunda com as forças do universo e utilizar essa energia para criar mudanças desejadas. Essa abordagem mágica da Bruxaria pode ser encontrada em diversas tradições e culturas ao redor do mundo, apresentando variações e adaptações de acordo com os contextos históricos e culturais. (Greenwood, 2000)
A Bruxaria possui um forte foco em práticas de magia simpática, que se baseiam na crença de que é possível influenciar ou manipular eventos e situações por meio de objetos ou ações que se assemelham ou estão relacionados a eles. A magia simpática opera de acordo com o princípio de que "o semelhante produz o semelhante" ou "o que acontece com a parte acontece com o todo". Nesse sentido, os bruxos utilizam símbolos, amuletos, rituais e feitiços que representam ou estão conectados aos seus objetivos desejados. Essa forma de magia tem sido amplamente explorada e documentada em diferentes culturas e tradições bruxas ao longo da história, desde o uso mágico de vassouras para limpar emergias, ate as praticas de magia com bonecas feitas pelos Greco-Egípcios e pelo Vodu, tais como as Bonecas de Remo, e os kolossoi. Por exemplo, no livro "The Witch Book: The Encyclopedia of Witchcraft, Wicca, and Neo-Paganism" de Raymond Buckland (2002), são apresentados diversos conceitos e técnicas de magia simpática utilizados pelos praticantes da Bruxaria. Além disso, em "Witchcraft Today" de Gerald Gardner (1954), é discutido o uso de bonecos, imagens e outros objetos como meio de conexão e influência na magia.
Outra referência importante é o trabalho de Sir James George Frazer, "The Golden Bough: A Study in Comparative Religion" (1922), que explora o conceito de magia simpática em diferentes culturas e sociedades ao redor do mundo. Frazer analisa rituais, encantamentos e práticas mágicas que buscam causar mudanças ou controlar eventos por meio da imitação ou conexão simbólica. Adicionalmente, obras como "The Spiral Dance: A Rebirth of the Ancient Religion of the Great Goddess" de Starhawk (1989) e "The Witch's Book of Shadows" de Phyllis Curott (1998) abordam a magia simpática como parte central das práticas da Bruxaria contemporânea, fornecendo orientações e exemplos de feitiços e rituais que utilizam essa abordagem. Essas referências oferecem uma base sólida para compreender a importância da magia simpática na Bruxaria e como ela é praticada em diferentes tradições ao redor do mundo. Elas fornecem saberes valiosos sobre os princípios e técnicas envolvidas nessa forma de magia, bem como exemplos práticos de sua aplicação.
A Bruxaria possui um forte foco em práticas de magia tribal, encontrando suas raízes nas antigas cerimônias rituais realizadas pelas tribos ao redor do mundo. Essas práticas ancestrais se desenvolveram ao longo do tempo, incorporando elementos das cerimônias de fertilidade, ritos orgiasticos envolta de êxtase, e sacrifícios festivos, tais como observamos nas Dionisíacas da Grécia antiga que mais tarde pode ter influenciado o surgimento dos Sabbaths. Além disso, a dança circular ao redor da fogueira cria um sentido de união e harmonia, fortalecendo os laços entre o clã e movimentando de forma há intensificar o poder mágico gerado durante a celebração. Os Sabbaths são celebrações sagradas que ocorrem em determinados períodos do ano, marcados por rituais, danças, cânticos e outras atividades mágicas realizadas em comunidade. A palavra "Sabbath" tem origem no hebraico "Shabbat", que significa "descanso" ou "cessação". Originalmente, o Sabbath era um dia de descanso e adoração religiosa semanal na tradição judaica. No entanto, na Bruxaria, o termo Sabbath foi adotado e adaptado para se referir a essas celebrações pagãs que ocorrem em determinadas datas sazonais. (Santino, 1995)
No período em que a humanidade ainda não havia estabelecido civilizações bem definidas e vivia em comunidades mais primitivas, as atividades sociais, festivais e rituais desempenhavam um papel central ao redor da fogueira. A fogueira era o ponto focal desses encontros, representando não apenas uma fonte de calor e luz, mas também um símbolo de união e conexão entre os integrantes da tribo. Ao redor da fogueira, as comunidades se reuniam para compartilhar histórias, transmitir conhecimentos ancestrais, celebrar conquistas e marcar eventos significativos, como a colheita, o solstício, nascimentos e casamentos. Esses momentos eram marcados por rituais que buscavam invocar a proteção dos Deuses, agradecer pela fertilidade da terra, promover a cura e a harmonia, e fortalecer os laços comunitários. Sobre a origem das cerimônias de Saabths e sua relação com as antigas práticas tribais, há várias referências que abordam o assunto. Uma delas é o livro "The Witch Cult in Western Europe" de Margaret Murray (1921), que explora as raízes históricas da bruxaria e sua conexão com rituais pagãos antigos. Outra referência importante é "The Spiral Dance: A Rebirth of the Ancient Religion of the Great Goddess" de Starhawk (1979), que discute as práticas contemporâneas da Bruxaria e como elas são influenciadas pelas antigas tradições tribais.
Essas obras oferecem saberes valiosos sobre a origem e a importância dos Sabbaths na Bruxaria, destacando sua relação com as antigas cerimônias tribais e seu desenvolvimento ao longo do tempo. Além disso, elas fornecem uma compreensão mais profunda da etimologia da palavra Sabbath e por que ela é usada para descrever essas celebrações mágicas na Bruxaria.
A Bruxaria se manifesta com um caráter intrinsecamente ligado às práticas de magia natural, nas quais os praticantes buscam uma conexão profunda com a natureza e utilizam seus elementos e energias para realizar rituais e feitiços. A magia natural é uma forma de magia que reconhece a presença e o poder dos elementos naturais, como as plantas, os animais, as pedras e os elementos naturais, como o ar, a água, o fogo e a terra. Ao longo da história, inúmeros estudos acadêmicos e literários têm explorado o tema da magia natural na Bruxaria. Um exemplo relevante é o livro "Natural Magic" de John Baptista Porta (1558), que aborda a magia natural como uma arte que se baseia no conhecimento e na compreensão das forças e propriedades da natureza. Outra referência importante é "The Green Witch: Your Complete Guide to the Natural Magic of Herbs, Flowers, Essential Oils, and More" de Arin Murphy-Hiscock (2017), que explora a prática da bruxaria e sua relação com a magia natural.
Essas obras e muitas outras oferecem um panorama abrangente sobre as práticas de magia natural na Bruxaria, fornecendo informações sobre a utilização de ervas, cristais, óleos essenciais e outros elementos naturais em rituais e feitiços. Além disso, elas destacam a importância de desenvolver uma conexão profunda com a natureza e a sabedoria das plantas, animais e elementos naturais para a realização de magia efetiva. A magia natural na Bruxaria não se restringe a uma única cultura ou tradição, mas é encontrada em diferentes sistemas e práticas ao redor do mundo, sendo uma das bases das praticas mágicas. Ela reflete a reverência e o respeito pelos ciclos da natureza e pela interconexão de todas as coisas. Portanto, o estudo acadêmico sobre a magia natural na Bruxaria oferece uma compreensão mais profunda dessa dimensão mágica e espiritual e permite que os praticantes explorem e desenvolvam seu relacionamento com a natureza de forma consciente e intencional, sendo assim, podemos observar que todas as tradições de Bruxaria possuem a magia natural.
A Bruxaria se manifesta com um caráter significativo de práticas de magia cerimonial, nas quais os praticantes realizam rituais estruturados e elaborados para alcançar resultados específicos. A magia cerimonial é um aspecto central da Bruxaria, envolvendo a criação de um ambiente sagrado, o uso de símbolos, invocações, conjurações e a manipulação de energias sutis para manifestar intenções e objetivos mágicos. Diversos estudiosos e praticantes têm explorado a magia cerimonial na Bruxaria, fornecendo conhecimentos valiosos sobre suas técnicas e fundamentos. Um exemplo notável é o livro "Modern Magick: Twelve Lessons in the High Magickal Arts" de Donald Michael Kraig (1988), que oferece um guia prático para a magia cerimonial, incluindo técnicas, rituais e correspondências simbólicas.
Existe uma diversidade de fontes acadêmicas e literárias que exploram os elementos essenciais da magia cerimonial na Bruxaria, como o uso de círculos mágicos, pentagramas, invocações de Divindades, símbolos, talismãs e outros instrumentos mágicos, sendo que cada tradição possui seus próprios parâmetros para a realização de cerimônias. Elas também abordam a importância da preparação mental, emocional e física dos praticantes, assim como o estudo das correspondências astrológicas, planetárias e simbólicas para maximizar a eficácia dos rituais cerimoniais. A magia cerimonial na Bruxaria é uma prática que oferece uma estrutura sólida e simbólica para os praticantes explorarem sua conexão com o divino, aprimorarem suas habilidades mágicas e buscaram a transformação pessoal e no mundo ao seu redor. (Starhawk, 1989; Price, 2013)
A Bruxaria, ao longo da história, tem sido associada a práticas consideradas hereges e de magia herege, especialmente durante períodos de intensa perseguição e opressão religiosa. Essas práticas eram vistas como uma ameaça aos sistemas estabelecidos de crenças e poder, desafiando as normas religiosas e sociais dominantes. O termo "herege" refere-se àqueles que se desviam das doutrinas e dogmas aceitos pela autoridade religiosa.
O conceito de práticas heréticas na Bruxaria está relacionado à rejeição do controle e da autoridade impostos pelas instituições religiosas. Os bruxos e bruxas, ao desafiarem as normas religiosas e sociais, assumiam um posicionamento político de resistência contra a opressão exercida pelos sistemas estabelecidos. Essa resistência era muitas vezes expressa por meio de práticas mágicas que desafiavam as convenções religiosas e desviavam das normas moralmente aceitas, levando a Bruxaria para uma posição social marginal. A figura do diabo desempenhou um papel significativo nesse contexto. Durante os períodos de caça às bruxas, a figura do diabo foi associada às práticas heréticas das bruxas, como forma de demonizar e desacreditar suas crenças e rituais. A idéia do diabo como uma entidade maligna e sedutora tornou-se parte integrante da narrativa que justificava a perseguição e a punição das bruxas. (Frazer, 1922)
A Bruxaria possui uma forte conexão com os antepassados e a veneração a ancestralidade, sendo uma prática que valoriza e cultua a sabedoria e o legado deixado por aqueles que vieram antes. O culto aos ancestrais na Bruxaria pode assumir diferentes formas, dependendo das tradições e culturas envolvidas. A veneração dos ancestrais na Bruxaria é baseada na crença de que os espíritos dos antepassados têm a capacidade de oferecer orientação, proteção e sabedoria aos praticantes. Esses ancestrais são considerados como uma fonte de conexão com as raízes e tradições ancestrais, e acreditam-se terem poderes e conhecimentos especiais. (Valiente, 2004)
A prática da necromancia também está presente na Bruxaria, sendo uma forma de comunicação e interação com os espíritos dos falecidos. A necromancia é a arte de entrar em contato com o mundo dos mortos e buscar orientação ou conhecimento por meio dessa comunicação. No contexto da Bruxaria, a necromancia é vista como uma forma de estabelecer conexões espirituais com os Poderosos Mortos e receber sua influência e orientação. As práticas de culto aos ancestrais e necromancia na Bruxaria variam de acordo com as tradições e culturas específicas. Em algumas tradições, são realizados rituais específicos para honrar os ancestrais, como oferendas, invocações e cerimônias em seu nome. Já a necromancia pode envolver práticas como a utilização de ferramentas mágicas, como o espelho negro, para estabelecer contato com os espíritos dos falecidos. (Filatov, 2013)
A Bruxaria, em sua essência, valoriza o autoconhecimento como um dos pilares fundamentais de sua prática. Essa busca pelo autoconhecimento envolve o mergulho interior, a exploração dos próprios limites e a compreensão dos aspectos mais profundos da personalidade e da conexão com o mundo ao redor. Ao longo da história, diversas práticas e tradições de bruxaria têm enfatizado a importância do autoconhecimento como parte integral do caminho da bruxa.
Na Grécia Antiga, por exemplo, o Oráculo de Delfos era um local sagrado onde sacerdotisas, conhecidas como pitonisas, serviam como canal de comunicação entre os Deuses, espíritos e os mortais. O objetivo dessas práticas oraculares era oferecer orientação espiritual e aconselhamento, permitindo que as pessoas compreendessem melhor a si mesmas e o mundo ao seu redor. Outro exemplo é encontrado na tradição da bruxaria celta, que valorizava o autoconhecimento por meio da conexão com a natureza. Os sacerdotes e sacerdotisas celtas, buscavam entender os ciclos naturais, os elementos e as energias presentes no ambiente ao seu redor, a fim de se conhecerem melhor e se alinharem com as forças cósmicas. (Thorsson, 2000)
A Bruxaria abrange tradições com caminhos iniciáticos, sacerdotais e de mistérios, presentes em diferentes culturas ao redor do mundo. Por exemplo, no período Kemetico, as práticas mágicas dos Imakhu envolviam rituais complexos e conhecimentos secretos, transmitidos de mestre para discípulo dentro dos templos de Input. Nas Filipinas, as Kulam são praticantes de magia tradicional que seguem uma tradição iniciática, com ensinamentos passados de geração em geração. A presença de caminhos iniciáticos também pode ser observada nos remanescentes dos costumes pré-islâmicos da Pérsia, Turquia e África Oriental, onde os sahir (bruxos) e sahirah (bruxas) desempenham papéis de liderança e conhecimento Ocultos dentro de suas comunidades. Na Itália, as Streghe (bruxas) e Stregoni (bruxos) possuem tradições sacerdotais e misteriosas que envolvem rituais, encantamentos e feitiços. (Mazza, 2020)
Em diferentes culturas ao redor do mundo, encontramos exemplos de tradições bruxas com caminhos iniciáticos, sacerdotais e de mistérios. Na Romênia, as Vrăjitoare são bruxas que desempenham um papel importante na sociedade, possuindo conhecimentos e práticas transmitidas por meio de uma tradição iniciática. No contexto eslavo, as tradições Rodnovery ou Rodnoverie envolvem um caminho iniciático e sacerdotal, onde os praticantes buscam uma conexão com as Divindades e a natureza. Na cultura teutônica, conhecida como Heathenry, encontramos tradições com caminhos iniciáticos e uma hierarquia sacerdotal. (Paxson, 2006)
As tradições nórdicas também possuem caminhos iniciáticos e sacerdotais, como o Seidr e as Völvas, que eram praticantes de magia e oráculos. No Vodu haitiano, os Hounsi e Mambos são sacerdotes e sacerdotisas que seguem rituais e práticas misteriosas. Na cultura Yoruba, as Ajés e os Oxôs Nago são praticantes de magia e bruxaria que possuem conhecimentos transmitidos por linhagens e tradições ancestrais. A presença de caminhos iniciáticos, sacerdotais e de mistérios também pode ser encontrada nos povos astecas, onde os Bruxos Tlacatecolotl desempenhavam papéis religiosos e possuíam conhecimentos Ocultos transmitidos por meio de uma tradição iniciática de acordo com Sahagún, 1950, entre outros exemplos ao redor do mundo. Essas tradições com caminhos iniciáticos, sacerdotais e de mistérios na bruxaria refletem a importância da transmissão de conhecimentos secretos, rituais sagrados e práticas específicas dentro das comunidades bruxas. (Jochens, 1999)
Essas tradições são fundamentais para a preservação e continuidade dos ensinamentos e práticas da bruxaria, permitindo que os praticantes desenvolvam sua conexão com o sagrado, a natureza e os mistérios do universo. Os caminhos iniciáticos permitem uma progressão gradual no conhecimento e na experiência, enquanto os sacerdotes e sacerdotisas desempenham papéis de liderança espiritual e orientação dentro de suas comunidades. Essas tradições iniciáticas e sacerdotais estão presentes em diversas culturas e períodos históricos, evidenciando a universalidade da busca pelo autoconhecimento, conexão com o Divino e aprofundamento nos mistérios do cosmos espiritual. Através desses caminhos, os praticantes da bruxaria têm a oportunidade de explorar seu potencial espiritual e mágico, desenvolver habilidades e despertar sua consciência para uma compreensão mais profunda do mundo ao seu redor. (Gleason, 2005)
A bruxaria é um caminho mágico e espiritual que desafia as noções convencionais de bem e mal, adotando uma perspectiva amoral em relação às suas práticas. Ela reconhece que a natureza da realidade é multifacetada e que os conceitos de bom e mau são relativos e subjetivos, variando de acordo com as circunstâncias e as percepções individuais. A bruxa, em qualquer continente ou período histórico, possui o poder de manipular energias e lançar magias que podem trazer tanto malefícios quanto benefícios, causar danos ou curar. Essa visão da bruxaria como uma prática amoral e aberta a uma variedade de intenções é evidente em diversas tradições ao redor do mundo. Um exemplo notável é encontrado nas antigas práticas greco-egípcias das Goeteis e Pharmakois durante o período helenístico. Esses bruxos eram adeptos de uma forma de magia que abrangia tanto a invocação de espíritos quanto o uso de poções e plantas para diversos fins, desde a busca por conhecimento oculto até a realização de encantamentos de proteção ou maldições. (Betz, 1992)
Nas Filipinas, a tradição das Kulam também ilustra essa ambivalência. Os kulamistas são praticantes de magia que utilizam encantamentos e feitiços para curar enfermidades, proteger contra o mal ou trazer boa sorte. No entanto, essas mesmas práticas também podem ser usadas para infligir danos ou malefícios em pessoas que são vistas como inimigas ou ameaças. Em muitas culturas, como a Pérsia, Turquia e África Oriental, encontramos referências aos sahir (bruxos) e sahirah (bruxas), cujas habilidades mágicas remontam aos tempos pré-islâmicos. Esses praticantes possuem conhecimentos e técnicas que lhes permitem influenciar o mundo espiritual e manipular as energias de acordo com suas necessidades. Eles podem tanto realizar feitiços para curar doenças ou proteger pessoas quanto lançar maldições ou causar danos a seus oponentes (Shah, 2008)
Na Itália, a tradição das "Streghe" (bruxas) e "Stregoni" (bruxos) é rica em rituais e práticas mágicas que podem abranger uma ampla gama de intenções. Essas bruxas e bruxos possuem o conhecimento das ervas, encantamentos e poções, que podem ser usados tanto para curar doenças quanto para realizar encantamentos amorosos ou provocar infortúnios aos inimigos. A mitologia romana também revela a ambiguidade da bruxaria. As "Striges" são descritas como bruxas que possuem a capacidade de voar à noite e lançar maldições, mas também podem ser consultadas para adivinhação e proteção contra o mal. Essa dualidade também é presente em outras culturas, como a Romênia, onde as "Vrăjitoare" são conhecidas pela sua habilidade de curar doenças e problemas pessoais, mas também são temidas por sua capacidade de lançar maldições e causar malefícios (Draja, 2015)
Nas tradições eslavas, como o Rodnovery ou Rodnoverie, encontramos uma rica variedade de práticas mágicas em que as bruxas e bruxos têm a habilidade de utilizar seus poderes para o benefício ou prejuízo de outros. Esses praticantes podem realizar rituais de cura, proteção ou até mesmo influenciar a sorte das pessoas, mas também podem lançar maldições ou realizar feitiços de vingança. Na cultura teutônica, conhecida como Heathenry, a bruxaria também se manifesta como uma prática ambígua. Os praticantes, conhecidos como heathens, podem usar seus conhecimentos mágicos para trazer proteção, saúde e sucesso, mas também têm a capacidade de lançar malefícios e causar danos aos outros. No contexto nórdico, o Seidr e as Völvas são formas de bruxaria encontradas nas sagas e mitologia escandinava. As Völvas são bruxas profetisas que têm a capacidade de lançar encantamentos benéficos ou prejudiciais, enquanto o Seidr envolve a manipulação de energias sutis para influenciar eventos e situações. (Kaldera & Schwartzstein, 2019)
Outras tradições, como o Vodu Haitiano, incorporam uma compreensão complexa do bem e do mal na bruxaria. Os Hounsi e Mambos, praticantes do vodu, podem realizar rituais de cura, proteção e prosperidade, mas também têm o poder de invocar espíritos e lançar maldições sobre aqueles que os desafiam. Na religião Yoruba, presente em várias partes da África Ocidental, as Ajés e os Oxôs Nago são bruxas e bruxos que trabalham com a energia espiritual conhecida como axé. Eles podem usar seus conhecimentos e poderes para trazer benefícios, como cura e prosperidade, mas também são temidos por sua capacidade de lançar maldições e trazer infortúnios. Os povos astecas, no antigo México, também possuíam uma forma de bruxaria conhecida como Bruxos Tlacatecolotl. Esses bruxos eram considerados especialistas na manipulação das forças sobrenaturais e podiam usar seu poder para curar ou prejudicar outras pessoas. (Sahagún, 1950)
Esses exemplos revelam a natureza multifacetada da bruxaria e sua capacidade de abranger tanto o lado sombrio quanto o luminoso. A bruxaria é uma prática que reflete a complexidade da condição humana e a diversidade cultural, onde o bem e o mal são conceitos fluidos e subjetivos, moldados pelas crenças e necessidades individuais e culturais. A bruxaria não é, portanto, uma prática que possui dicotomia maniqueísta entre o bem e o mal, transcendendo as noções simplistas de dualidade moral. Ela rejeita a idéia de que existe uma separação rígida entre forças do bem e do mal, reconhecendo que a realidade é muito mais complexa e multifacetada. Ao invés de se ater a uma visão dualista, a bruxaria abraça a noção de que o bem e o mal são conceitos subjetivos e relativos, que variam de acordo com as perspectivas individuais e culturais. (Métraux, 1959)
Ao examinar diferentes tradições de bruxaria ao redor do mundo, podemos observar essa ausência de dicotomia maniqueísta. Por exemplo, na tradição Wicca, que se desenvolveu a partir de várias influências culturais e espirituais, a bruxaria é considerada uma prática harmônica com a natureza e com o equilíbrio cósmico. Os wiccanos seguem uma ética baseada na Lei Tríplice, que enfatiza a responsabilidade individual e a compreensão de que todas as ações, positivas ou negativas, têm consequências. Na tradição da bruxaria Alexandrina, que remonta a práticas ancestrais e é transmitida de geração em geração, não há uma separação clara entre o bem e o mal. Os praticantes dessa forma de bruxaria, como evidenciado nos escritos de Raven Grimassi (1999), valorizam a conexão com suas raízes familiares e com a sabedoria acumulada ao longo dos séculos. Eles compreendem que o equilíbrio entre as energias é fundamental e que tanto as forças construtivas quanto as destrutivas desempenham um papel importante na dinâmica da vida. (Gardner, 1954)
Além disso, nas práticas mágicas Afro-diaspóricas, como nos Vodu Haitiano e a Obeah, não há uma dicotomia Maquiteista rígida entre o bem e o mal. Os praticantes dessas religiões reconhecem a existência de Loas e entidades espirituais que têm características positivas e negativas. Eles buscam estabelecer um equilíbrio entre essas energias e utilizar as práticas mágicas de acordo com as necessidades individuais e coletivas. Esses exemplos demonstram que a bruxaria não se limita a uma estrutura dualista de bem versus mal. Ela é uma prática que abraça a complexidade da existência humana, reconhecendo que o conceito de bem e mal é moldado pela cultura, experiência e visão de mundo de cada indivíduo. A bruxaria nos lembra que o julgamento moral é subjetivo e que é importante explorar e compreender a diversidade de perspectivas dentro dessa prática ancestral. (Del Castillo, 2005)
A bruxaria é uma prática que reconhece e celebra a sexualidade como um aspecto sagrado e poderoso. Ela abraça uma visão mística da sexualidade, transcendendo as limitações de gênero e buscando a conexão com a energia vital e criativa que permeia o universo. Através de diferentes expressões culturais e rituais, a bruxaria honra a fertilidade, o phalocentrismo, a hierogamia sagrada e outras manifestações que tornam a natureza sexual um aspecto sagrado da experiência humana. (Bascom, 1969)
A bruxaria é uma prática que possui profundas crenças na sacralidade da sexualidade, reconhecendo-a como uma força vital e poderosa que transcende as barreiras de gênero. Ao longo das civilizações pagãs antigas e nas tradições bruxas ao redor do mundo, encontramos uma ampla gama de expressões culturais que tornam a natureza sexual sagrada. Uma das manifestações mais proeminentes da conexão entre bruxaria e sexualidade ocorreu nas civilizações pagãs antigas, onde ritos de fertilidade eram realizados como uma forma de honrar e invocar o poder criativo da sexualidade. Na Grécia Antiga, por exemplo, as festividades em honra a Dionísio e Afrodite eram acompanhadas de rituais orgiásticos que celebravam a união sexual como uma expressão Divina da vida e da renovação. Essas práticas eram vistas como uma forma de invocar a fertilidade da terra, garantindo a abundância das colheitas e a continuidade da vida. (Gimbutas, 2001)
Outra expressão da sacralidade da sexualidade na bruxaria é o conceito de falocentrismo, que reconhece o poder simbólico e mágico do falo como um símbolo de fertilidade e potência masculina. Em várias tradições bruxas, a figura do Deus Cornífero representa essa energia masculina, sendo venerado como o princípio gerador e fecundo. Através de rituais e práticas mágicas, a energia sexual é canalizada e direcionada para manifestar intenções e promover o crescimento espiritual. Além disso, a hierogamia sagrada é uma expressão cultural encontrada em várias tradições bruxas, onde a união simbólica entre os princípios masculino e feminino Divinos é celebrada. Essa união representa a complementaridade dos opostos e a geração de energia criativa. Na Bruxaria Tradicional, por exemplo, a hierogamia sagrada é vista como uma força poderosa que impulsiona o trabalho mágico e o crescimento espiritual. (Davies, 2020)
No contexto das tradições bruxas ao redor do mundo, encontramos exemplos adicionais que enfatizam a sacralidade da sexualidade. Nas Filipinas, as Kulam praticam ritos que envolvem a utilização da sexualidade como uma forma de invocar poderes mágicos e curativos. No vodu haitiano, os houngans e mambos incorporam espíritos durante cerimônias que envolvem danças sensuais e expressões sexuais simbólicas, a fim de estabelecer conexões espirituais e acessar forças Divinas. Na Itália, as "streghe" (bruxas) acreditavam na importância da sexualidade como uma fonte de poder mágico e curativo. As práticas mágicas das streghe, como a "benandanti", envolviam viagens espirituais durante a noite, onde as bruxas travavam batalhas místicas era fundamental para garantir a fertilidade da terra e a proteção da comunidade. (Monaghan, 2014)
Essa crença na conexão entre sexualidade, fertilidade e poder mágico era compartilhada por muitas bruxas em diferentes culturas ao redor do mundo. Na mitologia romana, as "Striges" eram bruxas associadas à magia sexual. Elas eram consideradas figuras femininas que possuíam poderes sobrenaturais e conhecimento oculto. Essas lendárias figuras representavam uma conexão entre a sexualidade, à magia e o mundo espiritual. Outro exemplo notável é encontrado nas tradições nórdicas, onde as práticas de Seidr e as Völvas envolviam a exploração da sexualidade como uma forma de acesso ao conhecimento e ao poder divino. As Völvas eram sacerdotisas que praticavam adivinhação, cura e magia, utilizando-se de rituais que envolviam danças extáticas e possíveis interpretações de práticas sexuais sagradas. (Davidson, 1993)
Ainda podemos encontrar expressões da conexão entre bruxaria e sexualidade em tradições africanas, como o culto ao Vodu e as tradições Yoruba. No Vodu haitiano, por exemplo, a sexualidade é vista como uma forma de comunicação direta com os Loas, espíritos divinos, e como uma expressão de poder e energia vital (Filan, 2010). Nas tradições Yoruba, a sexualidade é reconhecida como uma parte essencial da vida e é celebrada em rituais que honram as divindades do amor, fertilidade e prazer honrando o Orixá Exu, este que carrega seu Ogó, bastão em formato Fálico nas mãos. (Thompson, 2001)
Esses exemplos ao longo das civilizações pagãs antigas e nas tradições bruxas ao redor do mundo demonstram a presença constante da crença na sacralidade da sexualidade. Seja através de ritos de fertilidade, do falocentrismo, da hierogamia sagrada ou de outras expressões culturais, a bruxaria reconhece a natureza sexual como algo sagrado, independente do gênero. Essa compreensão profundamente enraizada da conexão entre sexualidade, poder mágico e espiritualidade amplia o leque de práticas e rituais dentro da bruxaria, permitindo que os bruxos explorem e honrem a expressão sexual como um caminho de crescimento e transformação pessoal. Em muitas tradições de bruxaria, a sexualidade é vista como um meio de conexão com as forças da natureza e de expressão do divino. Por exemplo, na tradição wiccana, a sexualidade é considerada uma parte essencial dos rituais de fertilidade e de conexão com a energia da Deusa e do Deus. Gerald Gardner, um dos fundadores da Wicca contemporânea, menciona em seus escritos a importância da sexualidade na prática mágica e a celebração do sagrado feminino e masculino. (Gardner, 1954)
Além disso, a bruxaria também reconhece o valor do falocentrismo, ou seja, a veneração do falo como símbolo de fertilidade, poder e criatividade, bem como a adoração da Vulva, como símbolo da vida. Isso pode ser encontrado em várias culturas ao longo da história, como os rituais fálicos da antiga Grécia, em honra ao deus Dionísio, ou as representações fálicas encontradas em artefatos arqueológicos de diferentes civilizações, bem como as adorações em honra há Deusa Baubo e da Deusa Sheela na Gigs. A bruxaria valoriza a energia e a simbologia do falo e da Vulva como uma expressão do princípio criativo e vital que está presente na sexualidade humana. Outro conceito importante na bruxaria é a hierogamia sagrada, que se refere à união ritualística e simbólica dos princípios feminino e masculino. Essa união representa a harmonia e o equilíbrio das forças opostas, bem como a integração da dualidade dentro de si mesmo e no mundo ao redor. A hierogamia sagrada é frequentemente simbolizada em rituais de casamento ou união sagrada, onde os participantes representam as divindades e se unem em uma dança cósmica de polaridades. (Starhawk, 1979; Kremmerz, 2019)
Diversas expressões culturais dentro da bruxaria também enfatizam a sacralidade da sexualidade, independentemente do gênero. Por exemplo, tradições como a Feri e a Dianica, que surgiram na década de 1960, valorizam a igualdade e a liberdade sexual, abraçando a diversidade de identidades e orientações sexuais. Essas tradições reconhecem que a sexualidade é uma expressão natural e sagrada do eu autêntico, e que todos têm o direito de vivenciá-la plenamente. Através dessas crenças e práticas, a bruxaria celebra a sexualidade como uma força vital e criativa, honrando a diversidade de expressões e experiências. Ela desafia as normas sociais restritivas e promove a aceitação, e a celebração da sexualidade em todas as suas formas. A bruxaria reconhece que a sexualidade é uma parte intrínseca da natureza humana e a integra em sua prática espiritual, entendendo-a como um veículo de poder e conexão com o divino. (Anderson, 2003)
Essa visão da sexualidade na bruxaria está em sintonia com várias correntes filosóficas e espirituais que valorizam a sexualidade como uma expressão sagrada, tais como o Hedonismo Helênico. A bruxaria compartilha essa compreensão de que a sexualidade pode ser uma via para a expansão da consciência e a conexão com o divino. É importante destacar que essa perspectiva da bruxaria sobre a sexualidade vai além das noções binárias de gênero, reconhecendo a diversidade de identidades e experiências sexuais. A bruxaria acolhe e celebra todas as orientações sexuais e identidades de gênero, entendendo que cada indivíduo tem o direito de vivenciar sua sexualidade de forma autêntica e empoderada.
A Bruxaria, em suas diversas tradições ao redor do mundo, possui a celebração dos ciclos naturais como parte fundamental de suas práticas. Além dos sabbaths, outras tradições também honram os ciclos diários, as estações do ano, as fases lunares e outros aspectos cíclicos da natureza de maneiras únicas e significativas.
A bruxaria abrange uma variedade de tradições que celebram os ciclos naturais, e nem todas as práticas estão restritas aos Sabbats da Wicca. Vamos explorar outros exemplos de como diferentes culturas e tradições de bruxaria celebram esses ciclos de maneiras distintas. Na Quimbanda, uma prática de origem Brasileira, há uma celebração dos ciclos da natureza com ênfase nos aspectos diurnos e noturnos. Os rituais de Quimbanda são realizados em honra aos Exus e Pombogiras, que são espíritos tutelares, assim como ao Maioral de Quimbanda, que representa o sol e a lua, como Lúcifer e Astaroth. Os Quimbandeiros realizam suas cerimônias, conhecidas como "Toques", durante a noite, reunindo-se com os espíritos ao redor de um caldeirão em chamas. Dessa forma, eles celebram os ciclos diários de luz e escuridão, reconhecendo a influência desses ciclos na natureza e em suas próprias práticas mágicas (Gomes, 2005).
Em outras tradições de bruxaria ao redor do mundo, podemos encontrar exemplos semelhantes de celebração dos ciclos naturais e uma forte conexão com os mistérios da lua e da noite. No período Helenístico, por exemplo, as práticas das Goeteias e Pharmakois também envolviam a observação dos ciclos celestiais e terrestres como parte de seus rituais mágicos. Nas Filipinas, a tradição das Kulam está relacionada à bruxaria e envolve a utilização de magia para influenciar os eventos naturais, incluindo o cultivo de plantas e a previsão do tempo. Já nas práticas dos sahir (bruxos) e sahirah (bruxas) remontam aos costumes pré-islâmicos da Pérsia, Turquia e África Oriental, onde os ciclos naturais eram reverenciados e utilizados na realização de rituais mágicos. (Magic, Witchcraft and Ghosts in the Islamic World, 2013), (Magic, Witchcraft and Ghosts in the Greek and Roman Worlds, 2002)
A tradição italiana das Streghe (bruxas) e Stregoni (bruxos) também possui uma forte conexão com a natureza e os ciclos naturais. As práticas dessas bruxas e bruxos incluem rituais sazonais, como a celebração de festivais relacionados às colheitas, ao solstício de verão e ao equinócio de outono. Na mitologia romana, as Striges eram consideradas bruxas que possuíam conhecimentos sobre os ciclos da natureza e utilizavam-nos em seus rituais mágicos. Na Romênia, as bruxas Vrăjitoare e também possuem práticas relacionadas aos ciclos naturais, como a realização de rituais de cura com base nas estações do ano. Outras tradições, como a Rodnovery na cultura eslava, o Heathenry na cultura teutônica, a Seidr e as Völvas nórdicas, os Hounsi e Mambos no vodu haitiano, as Ajés e os Oxôs Nago na tradição Yoruba, e os Bruxos Tlacatecolotl nos povos astecas, também possuem conexões com os ciclos naturais e celebram-nos de diferentes maneiras, respeitando suas respectivas tradições e práticas específicas. (Pócs, 1999; McNallen, 2015; Brown, 1991; Filan, 2012; Courlander, 2003)
Em Rodnovery, a tradição eslava, a celebração dos ciclos naturais é uma parte integral da prática, onde festivais como Kupala e Ivana Kupala são celebrados para honrar as colheitas, os solstícios e equinócios. Já na tradição teutônica do Heathenry, o ciclo anual é marcado por festivais como Yule, Ostara, Midsummer e Harvest, nos quais os praticantes reverenciam os ciclos da vida, morte e renascimento da natureza. A prática da Seidr, encontrada nas tradições nórdicas, também envolve a celebração dos ciclos naturais. Durante os rituais de Seidr, os praticantes se conectam com as forças da natureza e buscam orientação e conhecimento sobre os ciclos da vida. (Kołodziejczyk, 2018)
No vodu haitiano, os Hounsi e Mambos celebram os ciclos naturais através de rituais e cerimônias que envolvem danças, cânticos e oferendas aos Loas e aos Voduns, espíritos venerados na tradição. Na tradição Yoruba, os Ajés e Oxôs Nago também celebram os ciclos naturais através de rituais que honram os orixás, divindades relacionadas aos elementos da natureza. Dentro da tradição asteca, os Bruxos Tlacatecolotl celebram os ciclos naturais através de cerimônias que reverenciam o sol, a lua e outras forças cósmicas, buscando a harmonia e o equilíbrio com a natureza. Esses exemplos demonstram que a celebração dos ciclos naturais é uma prática comum em diferentes tradições de bruxaria e Politeísmo ao redor do mundo. Cada cultura e tradição possui suas próprias formas e rituais para honrar e se conectar com a natureza, respeitando os ciclos da vida, do tempo e das estações. (Carrasco, 1998)
A partir da discussão sobre a bruxaria, podemos concluir que essa prática transcende as fronteiras culturais e geográficas. Diferentes tradições de bruxaria ao redor do mundo compartilham a compreensão da natureza como uma força viva e sagrada, e buscam honrar e se conectar com os ciclos da vida e da morte, do tempo e das estações, da luz e da escuridão. Através dos exemplos apresentados, desde a Quimbanda até as tradições antigas do Helenismo, passando pela Itália, Romênia, cultura eslava, teutônica, nórdica, e tradição Afro-diasporicas tais como o Vodu haitiano, observamos que as celebrações cíclicas da natureza são expressas de maneiras únicas, mas compartilham a essência de venerar a interconexão entre os seres humanos e o ambiente natural. A bruxaria é uma expressão multifacetada, enraizada em diversas culturas ao longo da história e em todo o mundo, desde o Neolítico até os dias Contemporâneos. Embora existam variações e nuances nas práticas e crenças de bruxaria em diferentes culturas, há padrões que se repetem. A bruxaria é uma arte mágica, um ofício, uma religião e um estilo de vida. Ela é Politeísta podendo ou não ser mesopagã de acordo com o contexto cultural e historico, pode ter questões de sincretismo e fé dupla. Possindo práticas folclóricas, animistas e centradas na magia. As praticas magicas que são desenvolvidas podem ser por meio de magia natural, como lidar com ervas e alquimias, magia Cerimonial, por vies Taumaturgico ou Teurgico, magia Simpatica, magia tribal e magia Herege. Também envolve o culto aos ancestrais, Necromancia, práticas de sabedoria e autoconhecimento, tradições iniciáticas, sacerdotais e de misterios, que realizam a celebração dos ciclos naturais. A bruxaria é amoral, não adotando uma dicotomia maniqueísta, e abrange uma visão inclusiva e sagrada da sexualidade possuindo ritos de Hierogamia sagrada, ritos de fertilidade, ritos de nudez, a Phalolatria e a Vulvalatria, sendo de forma simbolica ou não, é valido ressaltar que cada tradição possui seus costumes.
Mapa mental desenvolvido para ilustrar os pilares essenciais da Bruxaria ao longo do mundo e da Historia.
Quadro: The Witch’s Camp, 2022 de The Phantom Painter - Imagem extraída do Pinterest
As estacas do Coven
Livro: Feitiçaria, a Tradição Renovada Autores: Evan John Jones e Doreen Valiente.
Mais uma vez devemos lembrar que, diferentes dos outros símbolos do coven, à estaca e a faca atendem a dois níveis dentro de um grupo de trabalho. A estaca e a faca pessoais partilham dos mesmos atributos dos objetos do coven, a única diferença sendo que a estaca e a faca do coven desempenham papel mais formal dentro dos rituais.
Outro aspecto a ser considerado é o uso do plural "estacas" nesse subtítulo. Tradicionalmente, a estaca de freixo é o esteio dos trabalhos comuns no círculo. Em ocasiões muito raras, em que é preciso defender o coven ou um de seus membros contra ataques exteriores, traz-se para o círculo uma estaca de abrunheiro.
Como se trata de madeira de maus presságios, a única utilização da estaca de abrunheiro dá-se no ritual solene de alguma maldição formal. Nesse ato, ela representa o Deus de Duas Faces. Da mesma origem sai o poder, que pode ser usado tanto para o mal como para o bem; por isso raramente deve ser invocada ou trabalhada. Em vinte anos de prática ocultista, somente uma vez participei de uma maldição formal. Foi, aliás, inteiramente merecida, mas posso dizer que os sentimentos que gerou foram os mais desagradáveis, para classificá-los da forma mais suave possível. A maldição formal é uma das armas do arsenal da fé, mas raramente deve ser usada, mesmo para defesa pessoal.
Como disse anteriormente, a estaca de freixo como conceito é uma representação do Rei-Deus das clareiras e também do espírito reencarnado do Velho Rei no jovem Menino-Deus da Mãe, em seu aspecto de Diana das Florestas. Para o coven, à estaca de freixo é o guardião da entrada do círculo, o elo entre o mundo da Deusa e o mundo do círculo. Um de seus aspectos é o de Herne, o caçador, como deus da caça e da fertilidade. Sob essa forma, é ele quem conduz a Caçada Selvagem em Candlemas. Cavalgando a Égua da Noite, com os Cães do Inferno acompanhando, ele busca as almas dos mortos para conduzi-las ao submundo.
As proximidades do Grande Carvalho no Parque de Windsor têm a reputação de serem habitadas pelo espectro de Herne na época de Candlemas. A ligação de Herne com o carvalho é encontrada nos conceitos de Rei Carvalho e Senhor das Matas. O poderoso carvalho, guardião do portal, ou o freixo sagrado, símbolo do nascimento e do renascimento, colocado fora do círculo, preside os trabalhos na posição ao norte. Movendo a posição da estaca, ela preside a festa realizada após o ritual. Essa posição da estaca em relação à festa confirma o aspecto da Criança com Chifres e a Mãe, representada pela Senhora do Sul. É o filho presidindo a festa em honra à Deusa.
Para os quatro trabalhos principais, à estaca do coven é enfeitada com flechas e guirlandas. Também as flechas simbolizam a dualidade do conceito do Deus Cornudo. São uma lembrança do Deus da Caça e também da noção de que uma das várias faces da Deusa é a de Divina Caçadora. Ao prender as flechas cruzadas com as pontas para cima, estamo-nos lembrando desses antigos conceitos.
Fixamos a guirlanda, amarrando-a com arame nas flechas cruzadas. O tipo da guirlanda depende daquilo a que se destina o ritual. Começando com Candlemas, à estaca deverá ser enfeitada com ramos de teixo. Como árvore de lamentação, o teixo simboliza a morte do ano velho. Como Candlemas é, na verdade, o início do ano ritualístico, o teixo comemora a passagem final do ano que se foi. Se houver qualquer dificuldade de obter os ramos, à estaca é montada só com as flechas, sem flores. Uma estaca sem flores representa a paisagem nessa época do ano. As árvores estão despidas, sem folhas, os campos vazios. Mas, se olharmos mais de perto, os sinais da nova vida estão lá, na natureza. Isto é o ritual de Candlemas: a semente da inspiração, plantada, o fogo da vida, aceso.
No ritual da Véspera de Maio, à estaca deve ser enfeitada com uma mistura de ramos de bétula, aveleira, salgueiro e espinheiro. A bétula está ligada à felicidade e é considerada feminina, árvore do renascimento. A aveleira está associada a fertilidade, fogo, poesia, adivinhação e conhecimento. Finalmente, tanto o salgueiro como o espinheiro são geralmente reconhecidos como árvores de má sorte e lamentação, mas no 1o. de Maio os ramos dos dois são considerados de bom augúrio, desde que não sejam trazidos para dentro de casa.
O Festival da Colheita é, naturalmente, época de congraçamento por tudo o que o ano trouxe para o coven. É o momento de colher a semente plantada em Candlemas, por isso a guirlanda mais apropriada é feita de hastes de cereais. Os grãos colhidos simbolizam o espírito e a tradição do coven nos últimos meses. O período de tempo entre o Festival da Colheita e a Véspera de Todos os Santos é a época para reflexão sobre o que o passado significou para o indivíduo e também quanto às lições aprendidas dentro do grupo.
A Véspera de Todos os Santos é o momento da morte. Como esse ritual difere de todos os outros, pelo uso de círculos gêmeos, devemos lembrar que a parte principal é realizada no segundo círculo. Se a estaca for enfeitada, deve ser com teixo. (Eu prefiro somente as flechas cruzadas, sem a guirlanda, para esse ritual, mas essa é uma visão pessoal. Mais uma vez, cabe aos membros envolvidos decidirem o que preferem.) Como se trata de época de recordações e lamentações, também simboliza a passagem de um mundo para outro; à estaca e a guirlanda não pertencem ao círculo onde o trabalho será realizado. Pergunta que sempre surge é: por que tantas diferenças nas guirlandas? Simplesmente porque elas são símbolos físicos dos conceitos da fé, insígnias que nos lembram para que estamos trabalhando em cada um dos rituais. São como as cinzas simbólicas dos ramos ofertados no Natal para dar boa sorte e que são queimados durante o Natal do ano seguinte. (Estes símbolos são uma parte diminuta de linguagem e de tradição muito complexas em relação às árvores. É assunto digno de estudo mais aprofundado, que não foi incluído nesse livro pela complexidade e também por não ser um dos nossos objetivos, embora haja pequena relação das árvores no Apêndice.) Novamente é preciso ficar claro que o uso dessas madeiras não é obrigatório. Além disso, não são todas as pessoas que as obtêm. Se lhe for possível, será ótimo. Caso contrário, outras madeiras servirão. É o conceito que importa, e não os símbolos.
O abrunheiro, sendo árvore agourenta, quando utilizado como estaca serve para o lado escuro da Arte. De alguma maneira ela representa uma cabeça com duas faces: uma, a do bem, e a outra, a do mal. O poder é neutro. A finalidade para a qual é trabalhado é o que importa. No caso da estaca de abrunheiro usada como altar, o uso do poder que é despertado destina-se ao mal. Mais uma vez devemos enfatizar que esse assunto deve ser levado a sério. A única razão para ser usado é a ausência de qualquer coisa que possa substituí-lo. Por exemplo, se alguém estacionar diante da sua saída de garagem, é melhor bater-lhe do que lançar lhe alguma maldição. Por meio da utilização do ritual de amaldiçoamento, o grupo envolvido pode, com frequência, perder um ano inteiro de trabalho. Os sentimentos e as emoções que surgem durante o ato transformam bastante a atmosfera do grupo. As pessoas tendem a evitar-se. Não se abrem mais durante os encontros. Uma vez ativado o lado escuro das pessoas, é difícil subjugá-lo novamente.
Então, por que incluir o ato de amaldiçoar em primeiro lugar? Assim como a vida não é somente doçura e luz, a fé também não. A capacidade de realizar uma vingança mágica contra os inimigos do coven é parte intrínseca da Arte, e os porquês a respeito desse poder devem ser compreendidos por quem pratica os rituais. Outra coisa a ser notada é que a estaca nunca é enfeitada para um ritual de amaldiçoamento. Pelos perigos inerentes ao ritual de amaldiçoamento, esse trabalho não será mencionado. É conhecido por todos os grupos dentro do clã e lá permanecerá. Sua divulgação poderia despertar a tentação de usá-lo sem haver a compreensão total dos valores morais envolvidos na decisão de praticá-lo. Em vinte anos, recorri a ele somente uma vez e sinto que, se tiver de usá-lo, nos próximos vinte anos será ainda muito cedo. Quem desejar incluir um ritual formal de amaldiçoamento terá de descobrir o seu próprio caminho. Somente a pesquisa dos conceitos e mecanismos inerentes ao processo de um amaldiçoamento poderá levar à compreensão total dos perigos inerentes a um trabalho com esse tipo de ritual.
Na criação da estaca do coven, pelos vários aspectos formais e cerimoniais envolvidos, a forma é diferente daquela da estaca pessoal. Frequentemente, a pessoal é uma forquilha de freixo. Pela tradição, à estaca do coven é de abrunheiro, montada sobre a cabeça de um forcado ou de um par oco de chifres de ferro. Dependendo do espírito totêmico do animal guardião adotado pelo grupo, coven ou clã, a máscara desse animal será fixada na base dos dois dentes. Isto cria o símbolo do jovem Deus Cornudo sob o aspecto de espírito-guardião do coven. Primitivo, talvez, mas, como sinal de identificação, age diretamente como chave para todos os conceitos envolvidos nos trabalhos do clã. A máscara da cabeça do carneiro, montada abaixo dos dentes da estaca do nosso coven, não necessita de explicações. Todos no clã sabem o que significa e qual a sua razão de ser. O mesmo pode ser dito quanto à estaca de abrunheiro. A pequena máscara de veado, montada logo abaixo dos dentes, é a chave para o conceito de Herne, o caçador, e seus cães de caça, conceito ligado à maldição.
Ao colocar a máscara do animal na estaca, estamos voltando à pré-história e ao espírito guardião ou totem do grupo. Dizer, por exemplo, “Eu pertenço ao clã do cabrito montês”, significa envolvimento mais pessoal com seu coven ou grupo do que simplesmente mencionar: “Eu sou membro de um coven.” Dessa forma, o espírito do coven pode ser ampliado e aumentado para formar o espírito do clã.
Imagem de Sorcier Des Glaces - (To the) Snow-Crowned Mountains (demo with drum machine)
Instrumentos mágicos
Uma variedade de ferramentas mágicas é usada em vários sistemas de magias e práticas rituais. Cada uma dessas ferramentas tem diferentes usos, representações e associações servindo principalmente para direcionar, conter ou transformar energias mágicas. Eles podem ser usados em um altar, dentro de um círculo mágico, ou em alguma, etapa de uma cerimônia magica, ou em outro contexto de feitiçaria.
Materiais usados nas nossas práticas magicas:
A taça: Este é um símbolo para o elemento água, para o coração, corpo e útero. Utilizado para conter energias e líquidos.
O pentagrama: o pentagrama é o símbolo dos elementos da natureza em comunhão com o espirito, sendo rodeado pelo cosmos e pela alma do mundo e sua natureza cíclica. Ele também é a representação do ser humano, com seus braços e pernas abertas, trazendo a alusão de estar abraçando o mundo. Este é um símbolo de magia, mistérios e também de proteção.
O bastão: este pode ser um bom direcionador de energias, representando a energia masculina e fertilizadora. Podemos gravar sigilos em sua madeira, ou mesmo optar por madeiras relacionadas a um planeta ou força em especifica. A madeira possui sua origem das arvores, que matem suas raízes na terra e suas folhas nos céus, fazendo alusão ao magista que se encontra na terra e os poderes celestes nos céus. A varina no caso é um bastão menor, enquanto o cetro é um bastão maior em tamanho, porém com a mesma função e simbologia.
O bastão de Bune: Este é um bastão muito especial, possuindo suas pontas bifurcadas. Ele é um utilizado para fazer viagens astrais, e utilizado para representar o Deus e o bidente de Hades. Sua forma também é utilizada como uma espécie de encruzilhada, representando assim Hecate e seu espaço sagrado.
O Athame: este é um punhal moldado em ferro, um ótimo canalizador de energias. Tal lamina serve para rasgar o véu entre os mundos e direcionar a energia que será trabalhada ritualisticamente. Este representa a alma da bruxa, e é o mais poderoso instrumento usado nos rituais, juntamente com o caldeirão.
O sal: é um mineral relacionado há proteção, há purificação, limpeza energética e poderoso na arte do banimento. Na antiguidade romana o sal era utilizado como forma de pagamento para os soldados romanos, tendo surgido daí a palavra salário. O sal é um símbolo e representação dos mistérios do mar e também do elemento terra, trazendo sua estabilidade e proteção. Devemos utilizar com cautela, pois o mesmo, é um corrosivo energético, podendo fazer mal para outros tipos de minerais e cristais como a dolomita e o jaspe.
O sino: O toque de um sino causa vibrações que são a fonte de grande poder. Pode ser utilizado para dispersar energias, assim como também pode ser usado para convoca-las. O sino é um instrumento para transições de momentos ritualísticos ou amplamente usados para despertar o magista de transes e meditações.
As velas: As velas são agentes de mudança energética que ficam carregadas com pensamentos, intenções e energias. Não apenas uma abertura para os espíritos do fogo atuar, mas também servem para trazer a luz ou a transmutação de determinada situação até você. Elas fazem com que a energia fique em movimento durante o ritual. Em suas chamas estão acarretados simbolismos e poderes que queremos adicionar em suas chamas. Sendo assim ascendemos velas em nossos castiçais para os deuses pilares da tradição, e para Hestia. Hestia é sempre a primeira e a última a ser honrada em todos os rituais gregos, e as velas com suas chamas representam seu espirito e presença. Vocês podem optar por ascenderem variadas cores com seus respectivos simbolismos para suas liturgias, se assim for melhor para administrar essas energias. Geralmente o Branco é uma cor de vela bem neutra para caso vocês não tiverem outras cores de velas. A vela avermelhada pode representar a chama da arte com sua ancestralidade, ou o sagrado feminino, a negra os mistérios noturnos e do útero e o branco os mistérios diurnos e masculinos.
Pedras: representantes do elemento terra, os cristais são fontes de energias. Possuem várias formas e tamanhos, assim como tipos e cores. Cada cristal é regido por um planeta e por uma força mágica. Podemos utiliza-los em nossos rituais e feitiços para trazer e ancorar a energia e influência do cristal e de sua magia regente. São representações do elemento terra.
Ervas: elas perfumam e aguçam os sentidos e energias dentro de um trabalho magico. Assim como os cristais, a natureza possui uma variedade de ervas, com uma diversidade de tamanhos, formas, cores e aromas. Paracelsos já estudou em suas obras a influência dos planetas e dos elementos da natureza sobre o mundo vegetal. Cada uma das ervas pode ter uma ou mais regência planetária, fazendo-as assim de estrema importância para os trabalhos de magia planetária e para trabalhos de feitiçaria em geral. São representações da vida e do espirito natural, livre e selvagem.
Incensos: os incensos podem agir como ampliadores e purificadores de energias. Comumente são usados para potencializar os trabalhos mágicos com a energia das ervas ou elevar nossa vontade ao cosmos. São representações do elemento ar.
Representações do sagrado feminino: Esta é uma livre representação das mulheres, das Deusas e de como o feminino se manifesta na natureza, o princípio de geração e nutrição, a natureza receptiva. Geralmente eu costumo usar o busto de mulher, com seus seios a mostra e um búzio grande representando a vulva sagrada. Mas outros símbolos podem ser usados para tal finalidade. Aqui é expressa a lei Hermética do gênero.
Representações do sagrado masculino: Esta é uma livre representação dos homens, dos Deuses e de como o masculino se manifesta na natureza, o princípio de fertilização e fecundidade, a natureza doadora. Geralmente eu costumo usar o busto de um homem, um phalo, ou uma concha falica com dois seixos de pedras brancas para representar o phalo e suas bolas, as rochas brancas possuem a conotação do gozo que é fertilizador. Aqui é expressa a lei Hermética do gênero.
Representações do sol: Representação da luz dos Deuses solares. É através deste poder que a roda do ano e os ciclos naturais acontecem. Aqui é expressa a lei Hermética da polaridade. Dentro do tarô a carta do sol é um arcano que fala sobre vitória, prosperidade e iluminação na vida do consulente.
Representações da lua: Representação da noite e dos Deuses Lunares. É através deste poder que os ciclos lunares e as mares se enchem e minguam, a lua é utilizada como forma de demarcação dos meses enquanto o sol e seu ciclo traz a demarcação de tempo anual. A lua adentra nos mistérios da escuridão, das sombras, e do oculto, com sua luz branda que revela tais mistérios, ou com seu ciclo negro que pode esconder e ocultar-se do mundo. Aqui é expressa a lei Hermética da polaridade. Estaca do círculo: O mais correto é dizer as estacas, por existir variedades de tal instrumento. A estaca é um símbolo do Deus de chifres, símbolo das encruzilhadas trivias. A estaca do círculo, ou do Coven, serve como um “altar” pessoal ou do grupo, como um cajado, para ir e voltar do entre mundos, ela é a representação do Deus rei de chifres e sua energia de proteção e fecundidade, ela serve como uma ancora do círculo magico, representando o povo da floresta, além de ser um portal para os mundos. Nesses sentidos o portador e dono da estaca tornam-se o descendente do Deus e guardiões da arte e de suas arvores sagradas. Possuímos poucas alusões da origem de tal instrumento, mas ele pode ter sua origem através do Bidente de Hades. Podemos adicionar nelas a representação de 3 flechas de Moros, ou os 3 fios das Nornes, representando o passado, o presente e o Futuro, uma vela branca no centro da bifurcação representando a luz do Deus sol sore a terra e sore a natureza, além de um par de chifres sendo a representação do Deus chifrudo, senhor dos bosques. Crânios e outros símbolos podem e deverão serem usados para enfeitar e trazer o poder de determinados Deuses a sua estaca. Geralmente a energia magica deste instrumento é alimentada por gozo, trazendo o poder fertilizador dos Deuses.
Estaca de Abrunheiro: Utilizada para amaldiçoar os inimigos do Bruxo e de seu clã.
Estaca do altar: É a representação do Deus no altar, sendo do tamanho aproximado da palma da mão.
Estaca de espinheiro: Este é um instrumento usado como para raio de ataques mágicos. A estaca é a própria representação do Deus dentro do altar e círculo magico, sendo assim é um instrumento de proteção do Deus de chifres. Além de utilizar a energia do espinheiro como fonte de proteção para o bruxo. Ela absorve ou diminui a força de ataques mágicos a fim de afetar o bruxo.
Bastão de espinheiro: Este é um bastão com uma ponta, que é consagrado para ataque e proteções mágicas.
Vassoura: A vassoura é um símbolo da união do sagrado feminino (palha), e masculino (cabo), portanto um símbolo de união entre os mundos, sendo usada para comunicação entre diversos mundos no círculo magico. Ela é também um símbolo de limpeza energética, varrendo para fora do ambiente às impurezas.
Caldeirão: Símbolo da Deusa e do útero, o caldeirão é um dos instrumentos mais associados há bruxaria. Nele são contido os mistérios de transformação de energias, ele é a quinta essência representada no altar, com seu formato negro e arredondado. Dentro do caldeirão podemos trabalhar todos os elementos da natureza, pois ele é o útero transformador da Deusa.
Pontas de quartzo: Servem para direcionar a energia do caldeirão para o altar, círculo e para o cosmos, além de potencializar a energia magica que sai do caldeirão. São adicionadas três quartzo com pontas nas suas duas extremidades.
O tambor: Instrumento que é comumente utilizado por diversos povos para entrar em transe, para a comunhão com os Deuses e espíritos, para adorações e magias sonoras e conjurações. Este também é um símbolo do coração, da terra e dos espíritos da natureza, por ser feito de madeira e couro.
Arco e flecha: representação de Artêmis e Hecate, ou outras Divindades caçadoras com seus arcos crescente e minguante lunar.
Forja: Representação de Hefesto ou Deuses ferreiros e seu poder de forjar poderosos instrumentos.
Omphalos: esta é a pedra usada no centro do circulo magico para representar o centro energético e o pilar do mundo.
Vestes: estes representam o manto de proteção dos Deuses, os mistérios e as carga de poder de uma determinada cultura, a final de contas, o estilo de roupas é variante de acordo com as culturas e épocas.
Cordões Iniciaticos: cada tradição possuem os seus graus iniciaticos, e os cordões são símbolos de cada um deste degraus na trajetória da vida magica, iniciatica e sacerdotal dos praticantes de bruxaria. Os respectivos cordões e seus símbolos podem ser distintos e variantes de acordo com a trajetória de cada tradição, porem em todas as que tenho em mente, carregam-no como símbolo do cordão umbilical trazendo os aspectos de renascimento a partir do caldeirão e da iniciação.
Outros materiais (opcionais): demais instrumentos relacionados aos festivais ou rituais em especiais, atuam como instrumentos secundários há ritualística.