Os Daemons são seres espirituais do panteão Helênico, que geralmente são vistos como possuidores de grande poder espiritual. Para os povos Minóicos (3000 - 1100 aC) e Micênicos (1500 - 1100 aC), os Daemons poderiam serem vistos como servos das Divindades e andar sobre seus cortejos e domínios. Hesíodo faz clara distinção entre os Theoi e os Daemons: os Theoi são os Deuses, os Daemons são poderosos espíritos da natureza, seja ela física, ou humana que ganharam a imortalidade pelos Theois. Essa diferenciação é muito menos pronunciada nos escritos de Homero, onde “Theos” e “Daemon” são usados virtualmente indistintamente, pois há casos onde o ser além de Daemon também é uma Divindade, podemos ver isso principalmente entre os Daemons primordiais criados por Nix. Através dos Neoplatônicos, concebe-se a colocação de Daemons entre os Theoi e a humanidade. Daemons são menos poderosos do que os Deuses (principalmente aos Deuses maiores) com seus domínios sendo menores, porém mais preocupados com os acontecimentos diários da vida do que os Olimpianos, mas eles também são imortais e alguns merecem suas honrarias.
Não podemos confundir os espíritos Daemonicos, com as criaturas fabulosas (theres) apesar de alguns destas criaturas serem também Daemons. Nem sempre um There terá seus domínios e poderes espirituais, alem de nem sempre serem espíritos que personificam a natureza e o seu estado bruto, colossal e primordial. A palavra “Daemons” (δαίμων) teve sua origem etimológica na antiguidade Grega e significa espíritos. O termo Daemonae é referente há espíritos Daemonicos femininos, ou possuidores de personificações e abstrações de caráter do sagrado feminino tais como Eris, a discoria, Nike a vitória, Tyche a prosperidade, as Moiras, o destino, bem como as mais diversas e variadas ninfas. As personificações Daemonicas podem ser divididas em determinadas e amplas categorias. Sócrates diserta em suas referências, que tais espíritos possuíam a sua forma mais sútil, podendo não possuir de personificações e caracteres Divinos adquirindo de natureza antropomorfos e elementar para estes seres. Daemons são uma parte importante do panteão Helênico, alguns por serem de natureza intangíveis, em substância, e não possuindo muitas referências históricas e mitológicas podem ser difíceis de incorporar em determinados contextos litúrgicos.
Apenas alguns Daemons podem também serem classificados como Deuses, e podemos pensar nisso ao lembrar que tudo na existência possui uma centelha divina. Claramente, os Deuses possuem além de uma centelha, igualmente como alguns Daemons. Os seres, Daemons e espíritos nascidos de um Deus também são chamados de Deuses "menores". Estes aqui mencionado podem possuir ou não sua natureza intangível, alem de possuírem maiores referências históricas e mitológicas sendo mais fáceis de incorpora-los em determinados contextos litúrgicos. Nesta classificação podemos citar: Os Oneiros, os Erotes, as Moiras, Eris, Nike, Pluto, Tique, Thanatos entre outros.
Os Daemons primordiais também seguem o mesmo contexto de Daemons Divinos, sendo eles os seres primordiais da existência, aqueles que possuem força e energia brutal e primogênita, eles são os primeiros perante a criação, e possuem Duas gerações. A primeira geração destes é mencionada como os próprios Deuses primordiais, como Caos, Eros Phanes, Nix, Ereboro, Ofíon, Fysis, Tésis entre outros. Já os Daemons de segunda geração são os mencionados como filhos da escuridão e das trevas, os filhos de Nix e Ereboro, podemos citar a Teogonia de Hesíodo como uma das melhores fontes de informação sobre tais Deuses. Alguns dos Daemons de segunda geração são Moros, as Queres, Thânatos, Hipnos, os Oniros, Momos, Oizus, as Hespérides, as Moiras, as keres entre outros.
Sócrates menciona em suas obras um tipo de Daemon que é um espírito guardião pessoal ou a personificação da consciência de uma pessoa, este pode ser chamado de Agathos Daemon (ἀγαθός δαίμων) ou eudaemon (εὐδαίμων) espirito bom e favorável. Este termo foi usado por escritores como Homero (século VIII aC) para descrever um espírito de natureza benevolente ou benigna que fornece riqueza, proteção, sabedoria e justiça aos mortais. O Agathos Daemon possuirá sempre seu caráter positivo na vida de alguém e geralmente pode ser visto como a fonte de boa fortuna pessoal, familiar (oikos) ou para uma comunidade. O mesmo possui o segundo dia do mês helênico com liturgias e oferendas a ele dedicado. Podemos honrar o nosso Agathos Daemon para que o mesmo mantenha a honra em nossa linhagem familiar.
As referências mitológicas do Agathos, o traz como um Deus, casado com Theia Agathe Tyche (Ἀγαθή Τύχη, "Boa Sorte") podendo também ser mencionado como um dos epítetos de Zeus, ou mesmo ligado a Zeus Kthesios ou Zeus Melichios. O fato é, para este termo, podemos observar a existência de um Daemon serpentino e guardião pessoal, uma divindade de mesmo nome, e uma classificação de uma diversidade de Daemons que trazem regências com relação a caráter benevolentes tais como Hesiquia, a calma, Ctésios, a proteção do lar e da propriedade, Elpis, a esperança, Epidotes, a purificação, Epifron, a prudência, Arete, a virtude entre outros.
Outra classificação Daemonica que podemos citar aqui é a dos Cacodaemons (κακοδαίμων), que significando “mau espírito”, estes geralmente são evitados pelos antigos Helenos, sendo espíritos que carregam miasmas, oque é evitado dentro das praticas magicas e rituais Helênicas por não carregarem a pureza energética divina. Este termo foi usado para descrever um espírito de natureza malevolente ou maligna que fornece pobreza, dano, loucura e injustiça bem como outros desequilíbrios de situações, psíquicos e emocionais aos mortais. Os Cacodaemons possuem sempre seu caráter negativo na vida de alguém e geralmente pode ser visto como a fonte de infortúnios pessoal, familiar (oikos) ou para uma comunidade. Podemos citar alguns dos Daemons que trazem tais regências com relação a esses desvios de caráter, desequilíbrios e infortúnios tais como Ossa, as fofocas, Ioce, a perseguição, Anoia, a demência, As Androctasias, as matanças, Apiles, a ameaças, Iscnasia, a devastação, Limos, a fome, Anaideia, a crueldade, Adicia, a injustiça, Penia, a pobreza, Pentos, o sofrimento Anesiquia, a ansiedade, As Aras, as maldições.
Os Daemons khryseoi ou Criseus são os “espíritos de ouro” descrito por Hesíodo em sua obra sobre as eras da humanidade. Estes eram também chamados de Daemones Hagnos e Epictônios são os humanos da idade do ouro dos mortais, criada pelos Deuses (Theois) quando Cronos era o líder dos Deuses, estes eram trinta mil espíritos dourados e puros, que cujo brilho reluz como ouro, habitando os céus. Nesta época estes humanos viviam sem tristeza e dor, viviam uma vida perfeita e ética, eles tinham tudo o que desejavam e morreram como se estivessem adormecendo por não conhecer a dor. Após a sua morte e a idade de ouro este foram transformados em Daemons e continuaram a vagar pela terra e pelos céus, vestidos de névoa, vigiando os julgamentos e atos cruéis além de se tornarem doadores de riqueza.
Os Daemones Agryreoi ou Argireus, são os mencionados “espíritos de prata” mencionado por Hesíodo. Estes eram também chamados de Daemones Macaros e Hiperctônios são os humanos da idade da prata dos mortais, criados pelos Deuses (Theois) quando Cronos era o líder, estes eram espíritos habitantes das profundezas da terra e inferiores aos Daemons dourados que residiam nos céus. Após a sua morte e a idade de prata este foram transformados em Daemons e continuaram a vagar pela terra, trazendo a fertilidade, riquezas da terra e uma boa colheita.
Há outros espíritos humanos que podem e foram transformados em Daemons pelos Deuses, a parte de nossa centelha divina que permanece nas histórias e na adoração ancestral. Esta classificação geralmente é concedida há Sacerdotes, magistas e pessoas em geral que de alguma forma servem aos Deuses e caminham sobre seus cortejos e domínios como sendo seus aliados. Geralmente pessoas que possuem uma influência, intimidade ou são um instrumento Divino, como um porta voz após sua morte podem ser transformados em Daemons pelos Theois.
Os elementos helenísticos trazem ainda no conceito de Daemons como espíritos da natureza personificando aspectos Divinos dos Mares, do céu, da terra, das florestas, da agricultura e do fogo. Estes mesmos espíritos podem reger ou proteger um determinado lugar, ambiente natural ou até mesmo uma determinada espécie de animais e plantas, tais como uma arvore, fonte, estrelas, etc.
As Ninfas são espíritos Daemonicos femininos e Divindade menores que regem a natureza. O nome provem do Grego antigo (Νύμφαι) e significa “noiva”,"velado”, ou "botão de rosa". As Ninfas são os seres Feéricos do panteão Grego, e são muito semelhantes com as fadas. Tais espíritos possuem suas classes e subclassificações, como por exemplo, há as Hamadriades, que são ninfas personificações de todas as arvores, existem as Dríades que são as ninfas das arvores de Carvalho, as Melíades, ninfas do Freixo as descendentes de Urano, ancestrais das demais ninfas e mencionadas por Homero em suas obras entre outros tipos de Hamadriades e ninfas. Dione por vezes é mencionada como Deusa e rainha das ninfas.
Os Daemons celestes são mencionados como Ourânios e estão sobre as regências de Zeus, Hera, Hecate Ourânia e dos demais Deuses Uranianos, os senhores dos céus “Theoi Meteoroi”, podemos citar como exemplo os Deuses Anemoi thuellai, sendo senhores dos ventos turbulentos e dos ventos que são regidos pelos cantos cardeais e colaterais, e as Harpias também mencionadas como os cães de Zeus.
São mencionados como espíritos da terra os Daemons Ctónios e estão sobre as regências de Hades, Perséfone, Hecate Ctónia e dos demais Deuses do submundo, ou dos senhores da morte. Podemos citar como exemplo os Deuses Oneiros, Hypnos sendo um destes, sendo senhores do reino dos sonhos, Epiales um Daemon do submundo que personifica os pesadelos, Cérberos, o cão de três cabeça de Hades, guardião dos portões do Submundo, Carote, o barqueiro que conduz as almas dos mortos, Eurynomus Um Daemon do submundo que tira a carne dos cadáveres dos mortos, e os Daemons do cortejo de Hecate como, Empulsas, Lamias, Lampades e Mormolices.
Há os Daemons Marinhos que são mencionados como Halian e estão sobre as regências de Poseidon, Anfitrite, Hecate Einalia e dos demais Deuses marinhos, os senhores das águas. Nesta classificação podemos citar como exemplo os Acheilus um Daemon do mar regente dos tubarões, Caribdis o monstruoso Daemon dos redemoinhos e das marés, Nerites é um Daemon do mar que foi transformado em um concha espiralada pela Deusa Afrodite, Promeoous Daemones regem o mar mal assombrado e as cavernas escuras da ilha de Rodes, as Sirenas são os Daemones marinhos com as cabeças das mulheres e os corpos dos pássaros, os Telchines são Daemones do mar nativos da ilha de Rodes, eles eram praticantes da magia, trazendo tempestades e secas os Deuses os enterraram nas profundezas do mar, Os Tritões são Daemones pertencentes ao secto de Poseidon, são seres masculinos como sereias possuindo rabo de peixe, entre outros Daemons marinhos.
Os Daemons das matas são mencionados como Nomian e estão sobre as regências de Pã, Artêmis, Deméter, Perséfone e Hécate e dos demais Deuses das matas e dos bosques, os senhores da natureza livre e selvagem, podemos citar como exemplo os Sátiros, os Orthannes, Daemon da fertilidade, Panel, Daemons da natureza com pernas, chifres e rabos de cabra, e o rostos de bode, os Conisalus, são três Daemons fálicos semelhantes aos sátiro que presidem a fertilidade eram eles; Tikon, Konisalos e Orthanes estes eram representados com membros eretos, os Pótamos, cuja personificação são os rios, entre outros.
Na agricultura os Daemons regentes são mencionados como Georgici e estão sobre as égides de Dionísio, Deméter, Perséfone e Hécate e dos demais Deuses das matas e dos bosques, os senhores da natureza livre e selvagem, podemos citar como exemplo os Cabiri, são um par de Daemons metalúrgicos associados aos Mistérios de Samotrácia e Lemnos, os mesmos eram os guardiões do sagrado Deus morto Zagreus, Carme é uma ninfa da colheita, os Carpi são Daemons dos frutos (incluindo grãos) da terra, eles são retratados como bebês gordos na companhia de Deméter e Gaia, Cyamites é o Daemon que personifica o feijão, Triptolemus Daemon e heróis Eleusiniano, este fora despachado por Deméter e Perséfone em uma carruagem alada, puxada por serpentes, para instruir toda a humanidade na arte da agricultura, entre diversos outros.
Os Daemons regentes do fogo estão sobre o cortejo de Hestia, Hefesto, Hecate Phósforos e dos demais Deuses das chamas, dos vulcões e da luz, os senhores da natureza iluminadora e transformadora. Estes possuem o potencial o trabalho com a criatividade. Podemos citar como exemplo as Lampades, as ninfas que personificam as estrelas, os Palici, que personificam as fontes termais e gêiseres na ilha da Sicília, os Dactyls, estes são cinco Daemones residentes das montanhas que descobriram as artes da fundição de minério e metal, os Cabiri que eram ditos como famosos metalúrgicos, filhos do Deus Hefestos, contudo há a existência de outros Daemons desta categoria.
Espíritos humanos podem facilmente se tornarem Daemons em dadas circunstancias como por exemplo os juízes do Submundo Éaco, Radamanto e Minos, entre outros como a Lamia, a Rainha Hécuba que fora transformada em cão além de Galantis que se tornou um gato pela vontade de Hera, todos estes exemplos são do cortejo de Hecate. Há outros tipos de Daemons como por exemplo os filhos de Tifão e Equidna como a Esfinge, Ortros e a Quimera. Há aqueles espíritos Daemonicos que podem vir aparecer em determinadas operações magicas que não possuem algum tipo de registro histórico, pois estes são espíritos do séquito de alguma Divindade que fora transformado em Daemon como bem vimos nos exemplos acima.
O conceito de Daemon na Grécia antiga era mais amplo o que aos da Ars Goecia. Se quiser homenagear ou realizar determinadas praticas magicas com os Daemons, é preciso olhá-los e compreender a natureza do ser convocado. Para o magista começar tais práticas invocatórias eu sugiro que o mesmo já possua estrutura em temas de magia básica, como a invocação, banimento, proteção, purificação e sigilos. Eu indico que o magista comece a entrar em conexão com o Agathos Daemon. Nas noites de lua nova, faça um Depion (ritual de ofertas na lua nova) para seu Agathos Daemon e para Hecate ou Deuses Helênicos de sua preferência. Libações de leite e vinho puro, podem ser dados para estes Daemons. Porém o contato pode se estender para além do Depion, indo de acordo com as necessidades do magista, como por exemplo durante as festas entre outras operações magicas. O Agathos Daemon recebia a primeira libação após Hestia e Hermes.
Os Daemons que em essência são "divinos" ou seja, são Deuses, além de espíritos da natureza, ninfas, sátiros, Agathos, heróis entre alguns outros podem ser invocados para dentro do círculo magico, os demais são evocados para fora do círculo magico, afinal de contas, por questões de segurança magica, o adepto não iria querer determinados seres caóticos como Caco Daeomons fora de controle perante o trabalho magico, por isso, até mesmo perante as evocações tais Daemons devem estar contidos em um selo fora do círculo, e podem ser contidos dentro de uma caixa consagrada para Pandora, sendo que no mito, esta é a portadora da arca que contém todos os Daemons.
Vários Daemons possuem os seus próprios rituais, sacrifícios, dias de festival e detalhes litúrgicos para seus cultos e práticas mágicas. Os Daemons são uma categoria na qual muitos tipos de seres se enquadram, sendo assim concentre-se nos próprios seres e os honre-os como se deve.
É importante que uma Divindade seja invocada dentro das operações magicas para que seu poder Divino emane para o Daemon além de trazer maior segurança mágica para o adepto. Contratos mágicos com clausulas bem estabelecidas devem ser providenciadas pelo magista para o trabalho com os Daemons, visando que sua magia seja bem realizada e trapaças não sejam feitas por alguns destes seres, os Kobalos, um tipo de Daemon costumam faze-lo com frequência.