A Quimbanda é uma tradição de bruxaria Brasileira que se fundamentou em meados de 1950, mas suas raízes remontam a um entrecruzamento ancestral de poder que ocorreu nos solo Brasileiro. Segundo autores como Cavalcanti (2015), a Quimbanda é uma tradição de magia Afro-Brasileira que nasceu do sincretismo entre as culturas Africanas, Ameríndias e Européias.
A base da bruxaria, assim como de qualquer caminho mágico-religioso, envolve elementos como o politeísmo e o culto aos Deuses, o animismo e o culto à natureza, práticas de feitiçaria, culto aos ancestrais, mistérios e um caminho iniciático e sacerdotal. Esses pilares podem ser encontrados tanto em diversas Tradições de bruxaria quanto na Quimbanda.
Jeffrey B. Russell, historiador norte-americano, aborda o conceito de bruxaria em suas diversas perspectivas. Segundo ele, a bruxaria pode ser entendida como sinônimo de feitiçaria e práticas mágicas características. Além disso, Russell também menciona a bruxaria como uma forma de religião pagã, podendo ser moderna, hodierna ou tradicional, buscando reconstruir linhas de feitiçarias e cultos dos antigos povos (Russell, 1984).
A gênese primitiva do culto de Exu, que se desenvolveria posteriormente na Quimbanda, teve origem em um complexo sincretismo entre as culturas banto e nàgô-yorùbá da África, a cultura tupí-guaraní e a Bruxaria Ibérica. Essa mistura cultural se manifestou ao longo do tempo em diversos cultos, como os Calundus baianos, os terreiros de Candomblé, a Cabula e a Macumba (Ferreira, 2019).
A Quimbanda é resultado dessa herança cultural miscigenada, que agregou sabedoria e fundamentos das culturas banto e nàgô-yorùbá, entre outras. De acordo com Cavalcanti (2015), a Quimbanda é um caminho que abraça a diversidade e busca resgatar os saberes ancestrais, unindo as tradições e culturas presentes no Brasil.
Portanto, compreender a Quimbanda e a Bruxaria Tradicional Brasileira é essencial para aqueles que desejam explorar as riquezas mágicas e religiosas presentes no país. Através da leitura, pesquisa e aprendizado sobre essas tradições, é possível adentrar em um universo de saberes ancestrais, conectando-se com a natureza, os Deuses e as práticas mágicas características desses caminhos.
Historia da origem colonial da Quimbanda
A Quimbanda é uma vertente da Bruxaria Tradicional Brasileira que tem suas raízes em um contexto de resistência e resgate cultural. As influências Africanas, Ameríndias e Européias se entrelaçam nessa tradição, formando um sincretismo único e característico do Brasil.
Segundo Ferreira (2019), a Quimbanda surge como resultado das lutas contra a opressão cristã e da união das diferentes linhagens ancestrais presentes no país. Os primeiros praticantes da Quimbanda foram guerreiros africanos, feiticeiros pajés ameríndios, e bruxas ibéricas julgadas e exiladas pelo Santo Ofício de Portugal. Eles foram heróis de quilombos, malês, índios e escravos que se rebelaram contra os colonizadores.
A visão tradicional da bruxaria, relacionada ao Sabbath das bruxas e ao pacto demoníaco, foi uma construção da Igreja para perseguir e condenar os pagãos. Segundo Cavalcanti (2015), não há registros históricos que comprovem a existência de festas noturnas em cemitérios ou florestas adorando divindades animalescas. Essas narrativas foram construídas a partir das confissões forçadas das bruxas durante os processos da Inquisição.
“MariaPadilha é a Rainha do Sabbath!”
Maria Della Padilla, também conhecida como María de Padilla, foi uma figura histórica do século XIV na Espanha. Ela foi uma nobre de origem humilde que se tornou esposa morganática do rei Dom Pedro I de Castela, tendo desbancado a senhorita Branca de Bourbon como a consorte real. Sua história é envolta em lendas e mitos que variam de acordo com as fontes históricas e as narrativas populares. Segundo relatos históricos, Maria Della Padilla foi uma mulher de grande beleza e influência sobre o rei Dom Pedro I. Sua relação com o rei foi duradoura e ela exerceu considerável influência política e social durante seu reinado. No entanto, a história de Maria Della Padilla é marcada por tragédias, pois ela enfrentou conflitos e inimigos políticos, e acabou falecendo em circunstâncias obscuras. (Fernando Liguori, 2019).
A associação de Maria Della Padilla com a Bruxaria Ibérica é um aspecto mais presente nas lendas e folclore popular, não sendo necessariamente respaldado por evidências históricas. É importante ressaltar que a figura histórica de Maria Della Padilla seria a entidade espiritual mais velha da falange de espíritos na Quimbanda deste mesmo nome, as outras entidades conhecidas como Maria Padilha podem ter origens e características distintas, compartilhando traços ancestrais.
No contexto colonial Brasileiro, ocorreu um grande influxo cultural que contribuiu para a formação da identidade mágica brasileira. Os índios nativos do Brasil eram considerados pelos jesuítas como "povo do Diabo" devido às suas práticas religiosas pagãs. Além disso, os escravos africanos trouxeram consigo conhecimentos e práticas mágicas, como os encontros noturnos em que entravam em transe e eram possuídos por entidades. Esses encontros, mais tarde, se tornaram as giras de Quimbanda (Ferreira, 2019).
A associação da feitiçaria colonial com as práticas africanas também foi se intensificando ao longo do tempo. Segundo registros das Visitações da Bahia, já em 1587, um escravo Guiné chamado André Buçal realizava adivinhações utilizando panelas e fervedouros. Com o passar dos anos, essas referências foram aumentando, demonstrando a influência dos saberes dos feiticeiros africanos na feitiçaria brasileira (Cavalcanti, 2015).
A Quimbanda incorpora elementos dessas diferentes influências culturais, como o pacto demoníaco na relação entre o adepto e seu Exu, o sabbath das feiticeiras nos encontros noturnos das giras de Quimbanda, e a possessão demoníaca no trabalho de incorporação mediúnica com Exus e Pombagiras (Ferreira, 2019).
O estudo e a prática da Quimbanda como Bruxaria Tradicional Brasileira exigem um profundo respeito pelas culturas e tradições envolvidas. É fundamental buscar o conhecimento por meio de fontes confiáveis, como artigos científicos e livros que abordem esses temas de maneira ética e responsável. Alguns autores renomados e especialistas no assunto podem fornecer informações valiosas sobre a Quimbanda como a Bruxaria Tradicional Brasileira.
De acordo com Silva (2017), a Quimbanda possui um sistema de crenças e práticas complexas, que envolvem a comunicação com entidades espirituais conhecidas como Exus e Pombagiras. Essas entidades são consideradas intermediárias entre os praticantes e os planos espirituais, sendo invocadas e trabalhadas durante as giras de Quimbanda. Através da incorporação mediúnica, os adeptos estabelecem uma conexão com essas entidades, buscando orientação, proteção e solução para seus problemas.
A Quimbanda também está fortemente ligada às tradições de cura e magia. Segundo Ferreira (2019), os praticantes da Quimbanda utilizam diversos elementos, como ervas, animais, pontos riscados e rituais específicos, para realizar seus trabalhos mágicos. Além disso, a prática da Quimbanda está relacionada à busca por poder pessoal, equilíbrio espiritual e proteção contra energias negativas.
É importante destacar que a Quimbanda, assim como qualquer vertente da bruxaria, é uma prática espiritual que demanda responsabilidade e respeito. É essencial buscar o conhecimento de forma ética, respeitando as culturas de origem e evitando a apropriação indevida. O respeito pelos rituais, tradições e entidades envolvidas é fundamental para um aprendizado genuíno e uma prática saudável.
Para aqueles interessados em se aprofundar na Quimbanda e na bruxaria tradicional brasileira, recomenda-se a consulta de obras acadêmicas, como os estudos de Cavalcanti (2015) e Silva (2017), que abordam o tema de forma cuidadosa e embasada em pesquisas.
A Quimbanda representa uma vertente da bruxaria tradicional brasileira que mescla influências africanas, ameríndias e européias. Essa tradição surge como um símbolo de resistência e resgate cultural, incorporando elementos como o pacto demoníaco, o sabbath das feiticeiras e a possessão mediúnica. No entanto, é fundamental abordar e praticar a Quimbanda com respeito, buscando conhecimento em fontes confiáveis e valorizando as culturas envolvidas. A Quimbanda é uma tradição rica e complexa, que merece ser compreendida e explorada de maneira ética e responsável, contribuindo para o enriquecimento do panorama da bruxaria tradicional brasileira.
Os pilares da Bruxaria sobre a óptica da Quimbanda
A Quimbanda é uma tradição religiosa, espiritual e magica que apresenta um sistema de culto e crenças baseado no politeísmo, visando honrar os espíritos tutelares, Mortos Poderosos conhecidos como Exus (masculino) e Pombogira (feminino), existem outros espíritos que são honrados dentro desta tradição, tais como os espíritos mencionados como Oguns (guerreiros). Ela incorpora elementos do paganismo e cultua tanto Deuses quanto Deusas em sua prática. A Divindade feminina é representada como uma tríplice Deusa lunar, enquanto a Divindade masculina é simbolizada como um Deus de chifres, associado ao Sol (Fernando Liguori, 2019).
A Trindade de Maioral na Quimbanda, composta por Astarth, Lúcifer e Belzebu, desempenha um papel significativo dentro dessa tradição. Essas entidades são reverenciadas como representantes das forças solares e lunares, que gravitam ao redor de um eixo luciférico de individuação. Cada uma dessas divindades possui características e atributos específicos, contribuindo para a riqueza e diversidade da prática quimbandeira (Montenegro, 2020).
Além da Trindade de Maioral, a Quimbanda também incorpora elementos de outros panteões, especialmente aqueles provenientes das culturas Banto e Nàgô-Yorùbá. Os Inkisis, como PambuNjila e Mavambo, representam algumas das divindades banto que são reverenciadas dentro da Quimbanda. Já os òrìṣàs, como Èṣú e Ogum, são exemplos de Divindades do panteão Nàgô-Yorùbá que podem ser cultuadas nessa tradição. Esses diferentes panteões adicionam uma variedade de traços culturais e energias ao culto Quimbandeiro, enriquecendo suas práticas e rituais e tornando-a uma encruzilhada cultural (Ferreira, 2019).
Um exemplo marcante na icnografia da Quimbanda é a figura da pombogira 7 saias com PotniaTheron, que representa uma entidade feminina associada as potencias da sensualidade, sedução e poder. Essa figura é considerada uma intermediária entre os praticantes e as Divindades, desempenhando um papel de orientação e auxílio nas giras e rituais da Quimbanda (Cavalcanti, 2015).
Portanto, na Quimbanda, o politeísmo é um aspecto fundamental, com a adoração tanto de Deuses quanto Deusas. A Trindade de Maioral, as Divindades dos panteões Banto e Nàgô-Yorùbá e a icnografia da pombogira 7 saias com PotniaTheron são alguns dos elementos que compõem esse sistema de culto diversificado e enriquecedor. Um fator interessante que podemos fazer uma analise comparativa é das Tronqueiras com os santuários domésticos Greco-Romanos, os Naskios e as Lararias, como locais de adoração aos Heróis de um clã e seus Mortos Poderosos, bem como seus ancestrais. Nos papiros Mágicos Gregos os espíritos de Mortos Poderosos eram chamados de Paredros.
O mesopaganismo na Quimbanda é caracterizado pela presença de sincretismo religioso entre os espíritos ancestrais e as divindades, que são considerados demônios menores. Essa fusão de elementos ocorre por meio da influência de tradições como o diabo da Idade Média, os demônios da Goetia e do Grimório Verum, e a visão de Baphomet de Aleister Crowley. Algumas tradições Quimbandeiras também realizam sincretismo dentro dessa cosmogonia com Santo Antônio. (Fernando Liguori, 2019).
Nessa narrativa, embora possa parecer incoerente em um contexto de bruxaria ao longo da história da Santa Inquisição e dos processos escravistas no Brasil, foi necessária para a sobrevivência cultural de acordo com Rodrigues, (2014). Durante a Santa Inquisição, a demonização das práticas pagãs e a perseguição às bruxas eram comuns, e o diabo era retratado como uma figura maligna. No entanto, dentro da Quimbanda, essa visão é reinterpretada e integrada às crenças locais, resultando em uma síntese de diferentes influências.
O sincretismo entre a Quimbanda e as práticas mesopagãs foi um mecanismo de resistência cultural e religiosa, permitindo que tradições africanas e indígenas sobrevivessem e se adaptassem em meio à opressão e ao controle impostos pelas estruturas coloniais e eclesiásticas como é retratado por Magliano, (2015). A incorporação de elementos do paganismo e do ocultismo em uma cosmogonia que dialoga com conceitos do cristianismo, como o culto a Santo Antônio, possibilitou a continuidade dessas práticas de forma velada e preservou a identidade espiritual dos praticantes.
Portanto, o mesopaganismo na Quimbanda representa um fenômeno de sincretismo religioso, onde elementos do diabo da Idade Média, dos demônios da Goetia e do Grimório Verum, da visão de Baphomet de Aleister Crowley e até mesmo de Santo Antônio são incorporados para compor uma narrativa que sustenta a sobrevivência e a resiliência cultural das tradições Quimbandeiras. (Fernando Liguori, 2019).
Dentro da Quimbanda, encontramos a presença de práticas folclóricas que desempenham um papel significativo no imaginário popular. Essas práticas são baseadas em tradições ancestrais e folclore Brasileiro, permeando a cultura e a religiosidade do povo. Para compreendermos melhor esse contexto, é importante situarmos o período histórico em que essas práticas se desenvolveram.
A Quimbanda surge durante o período da colonização do Brasil, marcado pela chegada dos portugueses no século XVI e pela introdução do sistema escravocrata que trouxe milhares de africanos para o país. Nesse contexto, ocorreu um intenso processo de miscigenação cultural, no qual as crenças e práticas religiosas africanas se mesclaram com as tradições indígenas e com elementos do catolicismo imposto pelos colonizadores.
No imaginário popular Brasileiro, as práticas folclóricas desempenham um papel fundamental na expressão da identidade cultural e religiosa. Elas estão intrinsecamente ligadas às festas, danças, mitos, lendas e rituais que fazem parte da cultura popular Brasileira. Dentre as práticas folclóricas presentes na Quimbanda, destacam-se a dança, a música com a batida de tambores, o uso de folhas para limpeza energética, os adereços, como longos colares e jóias rituais muitas vezes feitos em coral, pedras e sementes preparadas para as praticas mágicas e consagrados como indumentárias simbólicas, além da representação de entidades espirituais por meio da incorporação mediúnica.
Essas práticas folclóricas têm raízes profundas nas tradições Africanas, Indígenas e Européias que se entrelaçaram no contexto da Quimbanda. O sincretismo religioso presente nessa vertente da bruxaria Brasileira permitiu a incorporação de elementos culturais e religiosos diversos, adaptando-se às condições impostas pela sociedade colonial. Essa fusão de influências resultou em uma forma única de expressão religiosa que ressoa até os dias atuais.
É importante ressaltar que as práticas folclóricas dentro da Quimbanda não se restringem apenas aos aspectos festivos e lúdicos, mas também possuem uma dimensão espiritual e mágica. Através da dança, da música, e das representações simbólicas, os praticantes da Quimbanda estabelecem conexões com os ancestrais, os espíritos e as Divindades presentes em seu panteão religioso.
Essas práticas folclóricas são valorizadas e preservadas dentro da Quimbanda, pois representam uma forma de resistência cultural e uma forma de manter viva a memória e os saberes tradicionais. Além disso, elas contribuem para a construção da identidade religiosa e cultural dos adeptos, fortalecendo o vínculo com suas raízes e promovendo uma conexão profunda com a espiritualidade.
A Quimbanda é uma religião Brasileira que pode ser encarada como uma espiritualidade Afro-diasporicas que possui uma forte conexão com o animismo, uma visão de mundo em que se acredita que todos os elementos da natureza possuem uma essência espiritual. Nesse contexto, a natureza é considerada sagrada e é honrada através de rituais e práticas mágicas. Segundo Santos (2015), a Quimbanda é caracterizada pela interação com forças espirituais presentes na natureza, buscando uma conexão mágica e espiritual com o mundo natural.
Dentro da Quimbanda, percebemos a influência de diferentes tradições mágicas, como as das bruxas ibéricas, dos povos indígenas brasileiros e dos povos africanos. Essas influências se manifestam em práticas específicas relacionadas à honra à natureza, à herbologia e ao uso de ervas sagradas. Conforme destacado por Abreu (2019), a Quimbanda incorpora elementos das tradições de cura indígenas, valorizando a relação com a natureza e o conhecimento das propriedades medicinais das plantas.
A herbologia desempenha um papel importante nas práticas quimbandeiras, pois as ervas são consideradas portadoras de poderes mágicos e medicinais. Através do uso de ervas sagradas, a conexão com a natureza é fortalecida e as propriedades curativas são invocadas. Conforme apontado por Mariano (2018), as práticas herbais na Quimbanda são heranças de tradições indígenas e africanas, onde o conhecimento sobre as plantas é transmitido de geração em geração e utilizado em rituais de cura e proteção.
Um exemplo notável dessa interação com a natureza e as práticas herbais é o uso do tabaco. O tabaco é considerado uma planta sagrada e seu uso é comum em rituais quimbandeiros. Conforme observado por Prandi (2001), o tabaco é utilizado como um elemento de conexão com o mundo espiritual, sendo fumado, oferecido ou utilizado em defumações. Essa prática tem influência tanto das tradições indígenas brasileiras quanto das tradições africanas.
Ao estudar a Quimbanda, é importante considerar a sua relação com as tradições mágicas das bruxas ibéricas, os povos indígenas brasileiros e os povos africanos. Essas influências convergem na busca por uma conexão mágica espiritual com a natureza e no reconhecimento da sua sacralidade. Segundo Araújo (2017), a Quimbanda é um exemplo de sincretismo religioso, onde elementos de diferentes tradições são incorporados e adaptados às crenças e práticas locais.
Na Quimbanda, o estudo da Historia desempenham um papel significativo na construção da iconografia e na compreensão das Divindades e entidades. Esses estudos alimentam as praticas do adepto e enriquecem a iconografia clássica de Maioral, que é essencialmente primitiva e feminina. Eles são representados por uma legião de glifos das Deusas Negra e Escarlate, cujos mitos se assemelham aos das Deusas como Hécate, Astarte, Asherah, Innana, Lilith e Babalon. Sendo expressões simbólicas das energias Divinas femininas presentes na Quimbanda. (Fernando Liguori, 2019).
Um dos seres mais proeminentes na Quimbanda é o Chefe Império Maioral. Ele representa uma força poderosa de natureza Divina e Demoníaca que conecta profundamente e diretamente o sagrado feminino, o sagrado masculino e a sexualidade sagrada. Ainda dentro da temática de sexualidade sagrada, dentro da cultura Nagô Yoruba, o Orixá Exu faz o uso do Ogo, um bastão em formato fálico, que é um símbolo do poder fertilizador do sagrado masculino. De acordo com Rabelo (2019), o Ogo representa a energia vital, a força masculina e o poder criativo, conectando-se ao sagrado feminino para manifestar a vida em fertilidade e a canalizando os mistérios divinos na sexualidade.
Essas feições presentes na Quimbanda são reflexos das crenças e práticas ancestrais, que foram preservadas e adaptadas ao longo do tempo. Eles representam não apenas aspectos Divinos, mas também arquétipos psicológicos e energéticos presentes na consciência coletiva. Conforme apontado por Vasconcellos (2016), os padrões universais de energia e representações simbólicas que nos permitem compreender e nos conectar com forças maiores e aspectos profundos do ser humano.
É importante ressaltar que a interpretação destas forças Divinas e a sua relação com a iconografia simbólica podem variar entre diferentes tradições e práticas dentro da Quimbanda. Cada casa ou linhagem pode ter suas próprias interpretações e manifestações específicas desses arquétipos Divinos. Por isso, é fundamental consultar fontes confiáveis e especializadas para compreender as nuances e variações na interpretação, interação e conexão com o Maioral na Quimbanda.
A concepção da energia Divina presentes na Quimbanda, como os das Deusas Negra e Escarlate, alimentam a iconografia e representam energias Divinas femininas. O Chefe Império Maioral é uma Divindade poderosa que conecta o sagrado feminino, o sagrado masculino e a sexualidade sagrada. A presença dessa temática na Quimbanda reflete a importância do simbolismo e da compreensão das forças Divinas, materiais e psicológicas na prática dessa tradição espiritual. (Fernando Liguori, 2019).
A Quimbanda é uma tradição espiritual que envolve práticas de magia cerimonial, magia tribal e magia simpática. Essas diferentes abordagens contribuem para a riqueza e a complexidade dos rituais e das giras realizadas nessa tradição. As giras/toques de Quimbanda têm um clima tribal marcante, com várias pessoas reunidas em uma roda ao som de tambores. Em algumas tradições ou contextos apropriados, um caldeirão com fogo é colocado no centro, criando uma atmosfera semelhante aos encontros dos Sabbaths das Bruxas. Essa configuração evoca a sensação de conexão com raízes antigas e práticas tribais.
O sacrifício animal é um tema que também está presente em alguns contextos relacionados à magia tribal na Quimbanda. Nesse sentido, a carne dos animais é considerada sagrada e é ritualizada antes do abate e consumo. Essa prática remonta a uma compreensão de que a carne de caça deve ser sacralizada como forma de respeito e reverência à vida que será consumida (Ferreira, 2019).
A magia cerimonial na Quimbanda é evidenciada por meio do uso de instrumentos mágicos e de um altar inserido no contexto litúrgico. Instrumentos como punhais, taças, bastões em forma de cetros ou bengalas e pentáculos são frequentemente utilizados, além das vestes e jóias cerimoniais que fazem parte das indumentárias dos praticantes durante as cerimônias. Esses elementos são simbólicos e auxiliam na direção e canalização das energias presentes nas práticas mágicas (Azevedo, 2016).
As liturgias da Quimbanda possuem uma estrutura circular e contemplam momentos específicos para limpezas, invocações, evocações, banimentos, oferendas e enfatizam o uso de palavras de poder. Além disso, as cerimônias de alta magia desempenham um papel importante na tradição, proporcionando um ambiente propício para a manifestação do sagrado e a busca de objetivos específicos (Rodrigues, 2014).
A magia simpática também é utilizada na Quimbanda, e isso pode ser observado, por exemplo, quando são utilizados bonecos, cera de velas em formatos específicos ou ao espetar uma agulha em um alvo. Esses elementos simbólicos fazem referência ao plano físico e são utilizados como forma de estabelecer conexões e influências no mundo espiritual. Essa prática está relacionada à magia simpática encontrada em outras tradições mágicas, como a Bruxaria (Cunningham, 2010).
O culto aos ancestrais e a prática da necromancia são fundamentais na Quimbanda, uma tradição que venera Exu e Pombogira. Os Exus e as Pombagiras da Quimbanda são considerados ancestrais espirituais, espíritos tutelares de um sistema brasileiro de feitiçaria que combina as tradições dos Ngangas e Tátas da religião Bantu com os fundamentos de Èṣú Òrìṣà da cultura nàgô-yorubá. A gnose do culto a Exu no Brasil depende dessa convergência sincrética entre essas duas culturas mágico-espirituais africanas, além da influência do xamanismo ameríndio e da feitiçaria ibérica Cipriânica-Faustina. Esses mestres espirituais nos acompanham e auxiliam em nossa jornada encarnada, orientando-nos e cuidando de nossa alma (Alves, 2013).
A feitiçaria tradicional brasileira desperta o indivíduo para seus tutores espirituais, Exus e Pombagiras. Cultuá-los e render-lhes adoração por meio de oferendas e sacrifícios cria alianças e pactos com essas entidades. De acordo com as tradições da Cabala Crioula, que envolve os arcanos e a sabedoria provenientes da África, o sacrifício propiciatório é considerado o melhor meio de comunicação com os ancestrais. Imolar um animal cerimonialmente em honra aos Mortos Poderosos da Quimbanda, os Exus e as Pombagiras, é uma ação Teúrgica-sacerdotal que estreita a comunicação com eles. Desde tempos remotos, o sacrifício propiciatório tem sido uma ferramenta Teúrgica para estabelecer a comunicação com o mundo espiritual (Carvalho, 2006).
No contexto das bruxas Européias, após suas iniciações, elas possuem os chamados "familiares". Esses seres podem ser encarados ou não, e são subdivididos em três classificações, como descrito no livro "A Enciclopédia da Bruxaria" de Doreen Valiente. Os familiares podem ser seres elementais, como fadas e imps; espíritos humanos, com referências à família e ancestralidade; ou espíritos da natureza ou ancestrais encarnados em animais domésticos. Quando se trata de espíritos humanos, eles têm uma relação íntima com a bruxa, podendo ocorrer, em determinados momentos e trabalhos mágicos, a incorporação. No caso de familiares animais, o processo pode ocorrer, sendo o animal o receptáculo e canalizador de determinados espíritos para a bruxa em questão, é claro que o animal deve permitir essa interação (Valiente, 2008).
Essas práticas de culto aos ancestrais e trabalho com familiares são exemplos de como a Quimbanda e a bruxaria valorizam a conexão com os espíritos ancestrais e buscam estabelecer uma comunicação e parceria com essas entidades espirituais. Essas tradições reconhecem a importância dos espíritos ancestrais como guias e protetores espirituais, buscando sua orientação e auxílio em suas práticas mágicas e espirituais.
No culto aos ancestrais da Quimbanda, os Exus e Pombagiras são considerados não apenas entidades espirituais poderosas, mas também ancestrais específicos que têm um papel ativo na vida dos praticantes. Eles são reverenciados e adorados por meio de oferendas e rituais, fortalecendo assim os laços de aliança e pacto entre os praticantes e essas entidades espirituais (Alves, 2013).
O sacrifício propiciatório desempenha um papel importante nessas práticas, sendo considerado um meio de estreitar a comunicação com os ancestrais. A imolação cerimonial de um animal em honra às deidades e entidades da Quimbanda, como o Chefe Império Maioral, os Exus e as Pombagiras, é uma ação ritual que estabelece uma conexão mais profunda com essas entidades espirituais e permite a transmissão de mensagens e orientações do mundo espiritual para os praticantes (Carvalho, 2006).
Já na bruxaria Européia, os familiares desempenham um papel semelhante. Esses seres espirituais estão intimamente ligados às bruxas, podendo ser seres elementais, espíritos humanos ou espíritos da natureza. Os familiares podem atuar como guias, protetores e facilitadores das práticas mágicas da bruxa, transmitindo conhecimento, fornecendo orientação e até mesmo canalizando energia ou espíritos para a bruxa durante os rituais (Valiente, 2008).
A comunicação e interação com os familiares podem ocorrer por meio de incorporação, em que um espírito humano se manifesta por meio do corpo da bruxa, ou por meio da conexão com animais de estimação que funcionam como intermediários e receptáculos para a energia ou espíritos que desejam se comunicar com a bruxa. Essas práticas ressaltam a importância da relação estreita entre a bruxa e os seres espirituais que a acompanham em sua jornada mágica e espiritual (Valiente, 2008).
O caminho iniciático, sacerdotal e de mistérios na Quimbanda é uma parte essencial da tradição. A Quimbanda Nàgô é um culto tradicional a Exu e Pombagira que se baseia em uma estrutura hierárquica e iniciática, na qual os conhecimentos e fundamentos são transmitidos de forma familiar ao longo do tempo por meio de sucessivas iniciações. A autoridade máxima no culto é o Mestre ou Mestra chefe da família, que atua em conformidade com Exu e Pombagira, as alta sacerdotisas são chamadas de Mameto e os alto sacerdotes de Táta sendo eles os chefes da banda de uma Tradição (Fernando Liguori, 2019).
Quando um indivíduo busca a iniciação na Quimbanda, ele é submetido a uma consulta ao oráculo, na qual são esclarecidas suas dúvidas e apresentada a estrutura do culto. Essa estrutura hierárquica e iniciática da Quimbanda são compostas por diferentes graus que representam etapas de desenvolvimento e aprofundamento espiritual (Vieira, 2015).
O primeiro grau é o de neófito, no qual o iniciante é introduzido aos princípios básicos e fundamentos da Quimbanda. Nesse estágio, ele recebe orientação e aprende a desenvolver sua conexão com Exu e Pombagira, assim como a compreender e respeitar as tradições e rituais da Quimbanda (Fernando Liguori, 2019).
O segundo grau é o de Adepto, no qual o iniciado aprofunda seus conhecimentos e habilidades na prática da Quimbanda. Nesse estágio, o adepto se aprimora na manipulação de energias, na realização de rituais e na comunicação com as entidades espirituais. Ele também se aprofunda nos mistérios e segredos do culto, sendo orientado pelo Mestre ou Mestra para um maior entendimento e domínio dos caminhos espirituais (Fernando Liguori, 2019).
O terceiro grau é o de Sacerdote (kimbanda), que representa o nível de maestria na Quimbanda. O Sacerdote é aquele que passou por todas as etapas anteriores, tendo cumprido os desafios e ordálios espirituais que cada grau oferece. Ele adquire uma profunda compreensão dos mistérios e rituais da Quimbanda e é capacitado para liderar rituais, orientar outros praticantes e transmitir os ensinamentos aos futuros iniciados (Vieira, 2015).
É importante ressaltar que a progressão nos graus iniciáticos da Quimbanda não é apenas uma questão de tempo, mas sim de maturidade espiritual, conhecimento e vivência prática. Cada grau traz consigo desafios e aprendizados que preparam o iniciado para os próximos estágios de desenvolvimento.
O autoconhecimento e o poder pessoal desempenham um papel fundamental na prática da Quimbanda. Exu, uma das principais entidades cultuadas nessa tradição, é frequentemente associado ao espelho negro da alma, representando a capacidade de olhar para dentro de si mesmo, confrontar as próprias sombras e enfrentar os aspectos mais profundos e ocultos do ser.
Na Quimbanda, o processo de autoconhecimento é valorizado como uma jornada espiritual em que o praticante busca compreender sua natureza interna, suas motivações, desejos e medos. Através do contato com Exu e outras entidades da Quimbanda, o indivíduo é encorajado a confrontar e aceitar todas as partes de si mesmo, tanto as consideradas positivas quanto as negativas. Essa aceitação é fundamental para o desenvolvimento pessoal e espiritual, permitindo que o praticante trabalhe em sua evolução e transformação.
Nesse contexto, o poder pessoal ganha destaque, pois a Quimbanda enfatiza a responsabilidade individual e a capacidade do indivíduo de exercer influência sobre sua própria vida e destinos. O praticante é encorajado a assumir o controle de sua jornada espiritual, tomar decisões conscientes e utilizar seus recursos internos para manifestar mudanças positivas em sua realidade.
A amoralidade é um aspecto interessante da Quimbanda, que se diferencia das religiosidades Abraâmicas que geralmente possuem uma dicotomia clara entre o bem e o mal, o certo e o errado. Na Quimbanda, não há uma estrutura moral rígida imposta aos praticantes. Em vez disso, a ênfase é colocada na compreensão e na manipulação das energias, reconhecendo que tanto as forças consideradas positivas quanto as negativas possuem um papel na experiência humana.
Essa amoralidade na Quimbanda permite uma abordagem mais aberta e flexível em relação à ética e à moralidade, incentivando os praticantes a cultivarem uma consciência individual e a tomarem decisões responsáveis com base em seus próprios valores e intuições. No entanto, é importante ressaltar que a amoralidade na Quimbanda não implica na ausência de responsabilidade pelas ações realizadas, mas sim na liberdade de explorar o próprio caminho espiritual e reconhecer a complexidade e diversidade da existência humana.
É válido mencionar que as informações fornecidas neste texto são baseadas em conhecimentos gerais sobre a Quimbanda. A Quimbanda é uma tradição complexa e multifacetada, com diferentes vertentes e práticas variadas. Para uma compreensão mais aprofundada, é recomendável consultar fontes especializadas e buscar orientação de praticantes experientes dentro da tradição.
A Quimbanda se revela como uma tradição de Bruxaria Brasileira rica e complexa, que encontra suas raízes nas culturas Africanas, Indígenas E Ibéricas. Ao longo deste estudo, exploramos aspectos como as práticas de animismo, o culto à natureza, o uso de magia cerimonial, tribal e simpática, o culto aos ancestrais e a amoralidade presente nessa tradição. É importante ressaltar que a Quimbanda possui diferentes vertentes e abordagens, sendo essencial buscar conhecimento aprofundado, orientação de praticantes experientes e respeitar a diversidade de práticas dentro dessa tradição. Por meio da conexão com os ancestrais, do autoconhecimento e do poder pessoal, a Quimbanda oferece uma jornada espiritual única, convidando os praticantes a explorarem sua própria escuridão e a descobrirem a força transformadora presente em sua própria essência.